Uso de celulares nas escolas do Rio é proibido até na hora do recreio

O decreto, publicado no Diário Oficial desta sexta-feira (2), diz que os equipamentos devem ser guardados na mochila ou na bolsa do próprio aluno, desligado ou em modo silencioso

Por Pedro Dobal

Uso de celulares nas escolas do Rio é proibido até na hora do recreio
A medida ocorre após um mês de consulta pública
Divulgação/Prefeitura do Rio

A Prefeitura do Rio publica o decreto que proíbe o uso de celulares e outros dispositivos tecnológicos em todo o ambiente escolar, inclusive durante os intervalos. A medida também vale no caso de trabalhos individuais ou em grupo, mesmo fora da sala de aula.

O equipamentos devem ser guardados na mochila ou na bolsa do próprio aluno, desligado ou em modo silencioso.  

A medida ocorre após um mês de consulta pública. Das 10 mil contribuições enviadas pela população, 83% foram favoráveis à proibição dos aparelhos durante todo o horário escolar, 11% foram parcialmente favoráveis e 6%, contrárias.

O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, conta que muitos professores têm notado sinais de ansiedade entre os alunos devido à exposição excessiva às telas.

A gente está vivendo uma verdadeira epidemia de distrações. A gente tem notado diferentes casos de crianças que estão muito ansiosas e até depressivas, porque não conseguem desgrudar da tela de um celular. Isso é muito sério. A gente não pode achar que isso é algo normal. 

O pediatra Daniel Becker ressalta que os celulares no ambiente escolar dificultam a concentração dos estudantes.

O celular transtorna a possibilidade de aprendizado. Ele destrói e fragmenta a atenção. Ele é muito atraente. Ele vicia a criança. Então, a criança vai ficar com um desejo irresistível de ficar vendo o celular, ficar vendo vídeo, às vezes embaixo da carteira...

A juíza da Vara da Infância e da Juventude da capital Vanessa Cavalieri, que estuda o assunto, afirma que o uso dos celulares atrapalha o relacionamento entre os alunos e ainda favorece os casos de bullying.

Numa escola onde o celular tem o uso liberado, os alunos não convivem mais um com o outro e convivem através de um objeto, que é o celular. Isso faz com que se perca a sensação de pertencimento e a empatia. Diminui o desenvolvimento de habilidades socioemocionais nos alunos e favorece o bullying, o ambiente com falta de urbanidade, falta de respeito uns com os outros.

No ano passado, a Prefeitura já havia proibido o uso do celular, mas apenas dentro de sala de aula. O município alega que a decisão foi tomada com base em diversos estudos, como um desenvolvido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, responsável pelo Programa de Avaliação Internacional de Estudantes, o Pisa, em que 45% dos alunos relataram nervosismo ou ansiedade se os telefones não estivessem por perto e dois terços se sentiram distraídos pelos dispositivos em algumas aulas.

O primeiro mês de aulas, que começam na segunda-feira (5), será um período de conscientização  partir de março, caso algum estudante descumpra a determinação, o professor poderá advertir o aluno ou impedir o acesso ao dispositivo, bem como acionar a equipe gestora da unidade.  

Mas a professora Sheila Colin lembra que, em alguns casos, estudantes reagem com violência ao pedido dos educadores.

Sempre proibi o uso do celular, até que começou a confusão da gente tomar o celular, mandar o menino guardar e ele agir com desrespeito e falar que não vai guardar, né? E a própria agressão física, que todos estamos sujeitos, porque hoje tá complicado, né? 

As exceções para o uso do celular são antes do início da primeira aula ou após o fim da última aula do dia, desde que fora da sala de aula, para que o aluno possa se comunicar com os responsáveis. Os aparelhos também serão autorizados para fins pedagógicos com autorização do professor e para os alunos com deficiência ou condições de saúde que exijam os dispositivos para monitoramento ou auxílio.

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