Vulnerabilidade fiscal do município do Rio restringe ampliação do endividamento da cidade

A informação está no estudo técnico da Comissão de Finanças, Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara Municipal

Por João Boueri

Vulnerabilidade fiscal do município do Rio restringe ampliação do endividamento da cidade
Câmara Municipal do Rio de Janeiro
Câmara Municipal do Rio de Janeiro

A vulnerabilidade da saúde fiscal do município do Rio impõe restrições à ampliação do endividamento da cidade. A informação está no estudo técnico da Comissão de Finanças, Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara Municipal, que serviu como base para a votação da proposta da Prefeitura para aprovação de empréstimo de até R$ 6 bilhões. 
 
Na terça-feira (8), os vereadores aprovaram o decreto com duas emendas. Uma delas limita o empréstimo no valor de R$ 2,22 bilhões para realizar despesas de capital voltadas à mobilidade urbana, infraestrutura, drenagem, saneamento, pavimentação, habitação, inovação e tecnologia e implantação de equipamentos esportivos e culturais. A alteração vai seguir para a promulgação pela presidência da Câmara dos Vereadores. 
 
O estudo da Câmara aponta que a relação entre a Dívida Consolidada Líquida (DCL) e a Receita Corrente Líquida (RCL) é de 54,1%, o que poderia evidenciar um alto grau de comprometimento das receitas com obrigações já contraídas. O relatório indica que a cidade não se encontra em condições fiscalmente sustentáveis para a contração do empréstimo de até R$ 6 bilhões. 
 
Desde de dezembro de 2021, a Prefeitura contratou seis operações de empréstimo. 
 
As duas primeiras junto ao Banco Mundial somam mais de R$ 1 bilhão e 375 milhões para promoção do equilíbrio fiscal. Além disso, outros empréstimos foram feitos junto ao Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES para requalificação do sistema do BRT, aquisição de coletivos, mobilidade, infraestrutura e outros setores. 
 
Ao todo, os montantes somam cerca de R$ 5 bilhões e 200 milhões na última legislatura. 
 
Segundo a Câmara Municipal do Rio, o planejamento de pagamento gradual das dívidas do município para 2025 prevê o valor total de R$ 2 bilhões e 792 mil, incluindo multas. O cenário é parecido até 2030, quando o valor passa para a casa do R$ 1 bilhão e 940 milhões. Até 2038, o montante total é de R$ 23 bilhões e 115 milhões. 
 
Para o vereador Pedro Duarte (NOVO), mesmo com a redução do valor do empréstimo, a maior preocupação ainda é a falta de transparência da Prefeitura. 

Apesar da Câmara ter feito a redução do valor do empréstimo de mais de 6 bilhões de reais para pouco mais de 2 bilhões, ainda assim, individualmente, este empréstimo é maior que todos os que a prefeitura contraiu e aprovou na Câmara na última legislatura, que foram 7. E a maior preocupação segue a falta de transparência. A prefeitura não apresentou nenhum projeto que receberia esses recursos, não teve detalhamento nenhum, planejamento nenhum. Isso é sempre o mais grave de tudo, porque configura um cheque em branco.

Atualmente, a despesa do município com pessoal consome quase 70% da Receita Corrente Líquida. O porcentual é o mais elevado entre todas as capitais do país. 
 
Segundo o estudo, o comprometimento impõe uma "limitação severa sobre a flexibilidade fiscal do município". 
 
Além da alteração no valor, a segunda emenda aprovada tem a ver com a transparência para distribuição dos recursos. Após 30 dias da formalização de qualquer operação de crédito, o município deverá enviar um relatório com informações sobre onde os recursos estão sendo utilizados e dados sobre as obras, projetos ou rubricas orçamentárias contempladas. 
 
O projeto seria votado na semana passada, mas foi adiado por falta de explicações e debates sobre o pedido de autorização dos empréstimos. 

Em nota, a Prefeitura do Rio disse que a definição do valor anual a ser gasto será determinada em função do espaço fiscal apurado pelo Programa de Acompanhamento e Transparência Fiscal - PAF.  Segundo o município, o limite de endividamento permitido pela legislação é de 120% da Receita Corrente Líquida (RCL) e que, no momento, a Prefeitura tem um percentual de 46,86% da RCL. 

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