A sacola da feira vem cada dia mais vazia na matemática perversa que a inflação tem imposto aos consumidores brasileiros. Primeiro foi a cenoura riscada da lista de compras. Depois o repolho, a batata, a abobrinha... Os hortifrútis lideram entre os itens que mais encareceram entre janeiro e abril deste ano, de acordo com a medição oficial da inflação realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Enquanto no acumulado do ano a taxa geral alcançou em abril 4,29%, tubérculos, raízes e legumes ficaram em 53,57% e hortaliças e verduras em 40,29% no mesmo período. A lista dos preços que mais saltaram é liderada pela cenoura, com incríveis 150%, repolho (76%), batata-inglesa (68%) e abobrinha (68%). A lista completa está ao lado. Nas 20 primeiras posições dos vilões do ano, 18 são hortifrútis.
Alimentação e bebidas representaram 40% (0,43 ponto percentual) do avanço de 1,06% da inflação mensal de abril. Os produtos foram o setor que mais subiu e com maior impacto para o mês, seguido de transportes (0,42 p.p.), fortemente impactado pela valorização do barril de petróleo no exterior.
Mas, no caso de frutas, verduras e legumes, a explicação para os preços salgados é bem regional. De acordo como o coordenador do IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Guilherme Moreira, fatores climáticos como chuvas e estiagens tem ditado o preço dos produtos.
“É comum no começo do ano esses alimentos ficarem mais caros. Mas em 2022 teve muita chuva fora de hora em regiões produtoras e o preço subiu demais.”
Ele afirma que as mudanças climáticas estão dificultando as previsões de sazonalidade dos hortifrútis. O economista, que pesquisa preços pela Fipe na cidade de São Paulo, diz que muitos alimentos, como cenoura e abobrinha, já estão recuando de preços. Mas ele afirma que o setor de alimentação deve continuar o ano com forte inflação, principalmente nos produtos industrializados, o que pesa no orçamento das famílias de baixa renda. “Com certeza, o consumo nos lares caiu de qualidade. A gente observa as vendas nos supermercados recuando nos levantamentos do IBGE.”
Prato feito subiu 23%
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas mostra que o preço do prato feito subiu 23% em um ano.
O vale-refeição dos brasileiros, ainda segundo a pesquisa, tem acabado antes do mês e, por isso, os trabalhadores têm optado por mudar o cardápio para economizar.
Foram levadas em conta as variações do arroz, feijão, alface, batata, cebola, tomate, frango, ovos e carnes. As questões climáticas também têm contribuído para o aumento do preço, segundo o pesquisador Matheus Peçanha.
De acordo com o professor da FGV, o preço do prato feito pode diminuir se as pessoas voltarem a comer nas ruas.
*METRO COM BANDNEWS FM