O que é intervenção no câmbio e o que são leilões de dólares?

O dólar teve uma forte queda e fechou a quarta-feira (11) cotado abaixo de R$ 6

Da Redação

O que é intervenção no câmbio e o que são leilões de dólares?
Dólar
Reuters

Nesta quinta-feira (12), o Banco Central anunciou que fará uma nova intervenção no câmbio com a realização de dois leilões de dólares com oferta total de US$ 4 bilhões. O banco vende reservas internacionais no mercado à vista, mas com o compromisso de recompra em um prazo determinado.

O Band.com.br conversou com um especialista em câmbio e remessas internacionais para entender por que essa mudança acontece e como ela funciona:

O que é intervenção no câmbio?

A intervenção no câmbio é uma prática onde o Banco Central atua no mercado de moedas para influenciar a cotação do dólar e outras divisas. Essa ação é geralmente motivada por oscilações excessivas ou desequilíbrios no mercado.

Intervenções podem ocorrer em momentos de instabilidade, crises financeiras ou quando há necessidade de garantir a liquidez no sistema cambial.  

O objetivo principal dessas intervenções é estabilizar o mercado de câmbio, evitar flutuações abruptas e proteger a economia de impactos negativos. Além disso, a ideia é evitar que especulações prejudiquem a confiança dos agentes econômicos, como empresas e investidores.  

Como a intervenção afeta o câmbio?

Na prática, uma intervenção pode reduzir ou aumentar o valor do dólar em relação ao real, dependendo da estratégia utilizada. Por exemplo, se o Banco Central vende dólares, a oferta da moeda no mercado aumenta, o que pode levar à sua desvalorização. 

E foi o que aconteceu na intervenção desta quinta-feira (12). “O BC vendeu dólares. É a velha lei da oferta e da procura. Com mais dólares disponíveis, a pressão sobre o preço da moeda diminui, resultando em desvalorização frente ao real”, explica Victor Martinez, especialista em câmbio e remessas internacionais. 

O que são leilões de dólares?

Os leilões de dólares são uma das formas de intervenção cambial no Brasil. O especialista explica que eles podem ocorrer de duas formas. No leilão à vista, onde o BC faz com objetivo de aumentar a oferta ou diminuir a oferta imediata e ele usa as reservas internacionais para realizar essas operações.

Existem também os swaps cambiais. Nesse caso, o Banco Central oferece contratos futuros que equivalem a uma troca de rentabilidade. É uma operação financeira que não envolve venda direta de dólares físicos e sim uma operação de mercado futuro.

Qual a diferença entre o leilão à vista e o leilão de linha?

A diferença entre leilão de linha e o à vista é que o primeiro oferece ao mercado, mas já com a garantia de recompra futura. Já o à vista ele vende no mercado em uma operação permanente. “Ele reduz as reservas internacionais”, explica o especialista. 

Quando os leilões são realizados?

Esses leilões costumam acontecer em cenários de estresse no mercado cambial, como períodos de forte desvalorização do real, crises externas ou instabilidade política interna que afetem a confiança no país.  São ferramentas importantes para evitar picos de instabilidade que poderiam prejudicar tanto empresas quanto os consumidores.  

Questionado sobre os efeitos de uma intervenção cambial para o mercado financeiro e a economia, Martinez acredita haver um momento de pressão sobre o dólar, e a intenção do  BC foi trazer alívio ao mercado. 

“Anunciando um leilão ao mesmo tempo, em que estavam subindo a taxa de juros, o efeito foi imediato, com uma queda ontem após o fechamento do mercado e abertura em queda hoje, também. Com a baixa liquidez do mercado, saúde do presidente, e queda da Bovespa, o dólar se recuperou e inverteu em alta, já no início da tarde”, explicou ele.

Intervenções cambiais podem ter efeitos positivos, como a estabilização de preços e a proteção de setores exportadores ou importadores. Contudo, também existem riscos. 

O uso excessivo dessas ferramentas pode reduzir a credibilidade do Banco Central, criar expectativas de dependência do mercado e consumir reservas internacionais, as quais são um recurso estratégico para o país. 

Por que os leilões acontecem no final do ano? 

Segundo o BC, os leilões são comuns nos finais de ano por conta da demanda de investidores, fundos, empresas e multinacionais para o envio da moeda ao exterior.

Martinez explica outras situações que influenciam a data do leilão: “Quando aumenta o nível de remessa por lucros e dividendos, as grandes empresas multinacionais que tiveram lucro o ano inteiro, realizam o lucro efetivamente para as suas matrizes, então a saída de dólares aumenta mais nessa época. Às vezes tem pagamento de dívidas externas que vão vencer em dólares, então é um pagamento que também precisa ser feito”. 

“Então é normal ter uma oscilação maior e o Banco Central intervir. Justamente por isso, o último dia do mês é ruim para comprar moeda estrangeira”, avalia. 

No Brasil, a utilização de leilões de dólares e swaps cambiais gera debates. Alguns críticos argumentam que as intervenções frequentes podem mascarar problemas estruturais da economia, como baixa competitividade ou instabilidade fiscal. 

Outros defendem que a atuação do Banco Central é necessária para preservar a estabilidade em um ambiente de alta sensibilidade a fatores externos.  

Martinez explica haver muitas críticas, principalmente quando as intervenções parecem ser mais políticas do que econômicas: “O Brasil adota oficialmente um regime de câmbio flutuante, onde o mercado deveria determinar a cotação da moeda. Intervenções frequentes são vistas como inconsistentes com esse modelo, gerando dúvidas sobre a real política cambial do Banco Central”.

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