Em entrevista ao Canal Livre deste domingo (12), André Lara Resende, considerado um dos principais economistas do Brasil e um dos “pais” do Plano Real, avalia que a atual taxa de juros de 13,75% é um fator que influencia na “quebra” de “qualquer um” no país. Ele também integra a comissão de estudos estratégicos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Com essa taxa, qualquer um [empresa] quebra. Então, é impossível investir com esta taxa. Se nós fazermos um diagnóstico do país, o país não cresce porque não investe. Por que o país não investe? O país não investe porque a taxa de juros é impeditiva de investir”, reforçou o economista.
O Canal Livre vai ao ar a partir das 20h, no BandNews TV. Após o 3º Tempo, o programa será transmitido na tela da Band. A apresentação é de Rodolfo Schneider com a participação dos jornalistas Juliana Rosa, André Basbaum e Rodrigo Orengo.
A atual taxa Selic, indicador que mede os juros brasileiros, é considerada alta e rende críticas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O valor foi mantido no último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
Na prática, uma taxa de juros alta, ao mesmo tempo que tenta controlar a inflação, reduz o crescimento. Com o indicador alto, empresas e pessoas físicas restringem o consumo, pois as pessoas físicas sem dinheiro para comprar, enquanto as jurídicas evitam linhas de crédito para fazerem investimentos.
“Vamos definir o que é investidor e o que é rentista. Rentista é quem vive emprestando dinheiro em papéis financeiros, sobretudo da dívida pública ou de alguns investidores privados. Investidor é quem, de fato, corre risco e investe na expansão da capacidade produtiva e organizacional da economia brasileira. São coisas muito diferentes. Esse vício no mercado financeiro, o ‘investidor’, que não é um investidor. Isso é o rentista, aquele que vive de juros”, explicou Resende.
Risco fiscal vs juros altos
Para o economista, a alegação de “risco fiscal” para manter os juros altos não se sustenta, pois o endividamento do Brasil é inferior aos países desenvolvidos, além de que a dívida brasileira é integralmente em moeda nacional.
“Me explica por que não é sustentável! O que quer dizer risco fiscal? Risco de sustentabilidade? É a dívida. Se você olha as contas brasileiras, o número brasileiro e pergunta sobre o país, falam que o país é perfeitamente bem com a economia em ordem. Há um endividamento muito inferior a todos os países desenvolvidos, em linha com os países em desenvolvimento e a dívida brasileira é integralmente em moeda nacional”, comentou o economista.
Recessão?
Na mesma entrevista, Resende se colocou como crítico a atual taxa Selic. O indicador, combinado com os resultados negativos dos bancos, pode colocar o Brasil em uma recessão.
“Agora, com os balanços de bancos estão aquém do esperado, o fato de que tivemos quebras no varejo leva os bancos a retrair drasticamente o crédito. Assim, você agrava o processo de desaquecimento da economia e coloca o país em uma possível recessão muito séria”, disse, ao citar a situação da Americanas.