Criador do teto de gastos durante a presidência de Michel Temer, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles defendeu a manutenção da função da medida e que ela não inviabiliza o financiamento de programas sociais e de distribuição de renda. Segundo o atual Secretário da Fazenda e Planejamento do governo de São Paulo, o limite existe para que os recursos sejam bem direcionados.
“Existem muitas despesas importantes, não há dúvida. Por exemplo, porque as despesas sociais discutem o auxílio emergencial, o Auxílio Brasil, antes o Bolsa Família, são coisas importantes. Mas existem muitas despesas de funcionamento da máquina pública que não são tão importantes assim. O teto existe exatamente para se forçar a definição de prioridade”, defendeu o ex-ministro em entrevista ao Ponto a Ponto, programa da jornalista Mônica Bergamo e o cientista político Antônio Lavareda no BandNews TV desta quarta-feira (27).
Para Meirelles, manter o limite do teto é fundamental para retomar a confiança do mercado financeiro na retomada da economia brasileira. Nesta quarta, a votação sobre a PEC dos Precatórios, que altera o limite de gastos, foi adiada na Câmara pelo governo.
“Primeiro garantir que o teto vai ser seguido, que não vai se fazer nenhuma medida desse tipo eleitoreira, que não vai dar calote, que não vai fazer parcelamento em precatório, deixa o Banco Central fazer seu trabalho. Aí a moeda se fortalece, e a economia pode começar a funcionar com regularidade. Ninguém vai ficar afogado, porque ele baixa a água e todos vão poder caminhar com tranquilidade”, analisou o ex-ministro fazendo referência à fala de Paulo Guedes, ministro da Economia, que disse que o presidente Jair Bolsonaro renovava sua confiança quando ele se sentia “afogado”.
Presidente do Banco Central nos oito anos do governo de Lula, Meirelles enxerga um cenário bem semelhante ao do presidente petista quando assumiu, em 2003, para o candidato que for eleito e chegar ao Palácio do Planalto a partir de 2023.
“O crescimento baixo, a inflação elevada, pouco investimento, dólar elevadíssimo, situação muito parecida”, relembrou defendendo as chamadas reformas fundamentais, que ele vê como necessárias também para ajudar a financiar programas sociais como o Auxílio Brasil.
“É preciso fazer as coisas certas que os resultados aparecem, que é austeridade fiscal, que é o controle da inflação, que são as reformas fundamentais. Agora, eu volto a mencionar: o mais importante é a reforma administrativa, reforma tributária, botar a casa em ordem e o país começar a crescer, as pessoas terem tranquilidade para trabalhar, produzir e realmente gerar renda a emprego”, disse.
O secretário da Fazenda paulista ressaltou a capacidade de diálogo de Michel Temer com o Congresso em sua governo e defendeu que a gestão de Bolsonaro siga por caminho semelhante.
Política de privatizações
O ex-ministro defende que “a privatização é o caminho para a economia brasileira”. No caso da Petrobras, ele pondera sobre um processo planejado e a longo prazo, em modelo feito como nas empresas de telecomunicações norte-americanas.
“Eles evitavam os monopólios privados separando as companhias. Isto é um exemplo do que se poderia fazer na Petrobras. Ela teria que se separar em algumas companhias e privatizar onde, aí sim, nós teríamos muito mais recursos e, ao mesmo tempo, teríamos competição depois no mercado”, afirmou.
Apoio a Doria para eleições de 2022
Apesar de elogiar o trabalho feito com o ex-presidente petista, Meirelles disse que é “muito prematuro” escolher um candidato em um possível segundo turno entre Lula e Bolsonaro, como mostram as pesquisas mais recentes. Ele crê que a candidatura do governador João Doria, do PSDB, possa ganhar força como alternativa.
“Ele [Lula] fez um excelente governo, temos uma relação de amizade. Estou trabalhando com o governador João Doria e acho que ele é um excelente candidato à Presidente da República e é o meu candidato”, garantiu.