A gente perdeu dois grandes nomes do nosso cinema, da nossa televisão, do nosso teatro, que são Tarcísio Meira e Paulo José. A gente não tem como não ser apaixonado por eles, pelas obras deles e por tudo o que eles construíram. É como disse a Débora Falabella, que comentou ter construído toda uma carreira inspirada no Tarcísio, a gente construiu toda uma cinematografia inspirada nela, né?! Toda uma memória visual e emotiva da televisão. E muito do cinema que sei, também, construí com base no trabalho desses dois grandes atores.
Por isso, trouxe duas sugestões que valem para a gente conhecer melhor o trabalho deles. Eu começo com Tarcísio Meira: um filme que realmente me marcou foi o “A idade da Terra”, do Glauber Rocha. Esse é o último filme do Glauber Rocha, de 1980, um filmaço que, até hoje, é um filme meio enigma, que muita gente diz não entender nada. Aliás, o filme passou por isso no Festival de Veneza quando foi lançado. Muitos críticos europeus não pegaram toda essa loucura criativa do Glauber Rocha, mas eu deixo aqui essa dica justamente por isso. O Glauber – olha só a premissa que ele traz – ele pega quatro Cristos contemporâneos da época, dos anos 80 (Cristos do terceiro mundo, como ele diz, né?), inclusive um Cristo negro, que é o Antonio Pitanga. Já o Tarcísio Meira saí dos seus papéis de galã, galãs da novela e dos filmes, e vai para um registro totalmente diferente. Ele faz um dos Cristos, o descendente dos portugueses, e eles lutam contra um grande imperialista que quer dominar o Brasil. E eles estão protegendo, tentando defender esse grande País, essa grande miscelânea que é o Brasil.
É um filme realmente que você pode ver em looping, até tem uma lenda de que o Glauber deixava os projecionistas escolherem que rolo (na época era rolo e película, tá, gente?) passar primeiro, porque é um filme que você pode absorver muita coisa.
Tenho outro filme aqui para indicar, que minha avó assistia muitas e muitas vezes, que é o primeiro filme do Tarcísio Meira: “Casinha pequenina”. Ele faz o filho do Mazzaropi, em 1963, e dá para relembrar dois mestres: o Mazzaropi e o Tarcísio Meira estreando aí no cinema.
Já do Paulo José, um dos últimos dele, que é “O Palhaço”, dirigido pelo Selton Mello, que é o filho do Paulo José. Eles são dois palhaços de circo e o Selton entra em crise de identidade, não sabe se está fazendo a coisa certa, se quer ser palhaço como o pai. É um filme de pai e filho lindo demais. Um filmaço de 2011 do Paulo José com o Selton Mello.