Carnaval

Mulher Abacaxi desfila de topless e faz confissão: “Marido não sabia”

Marcela Porto confessa que não mediu esforços ao investir cerca de R$ 110 mil para desfilar

Amanda Caroline e Stefanie Sousa

Marcela Porto, a Mulher Abacaxi – como ela se autodenomina, foi coroada rainha da Acadêmicos de Niterói, que desfila pela Série Ouro do carnaval do Rio de Janeiro, aos 48 anos. A rainha confessou em entrevista ao band.com.br que desfilou de topless porque esqueceu parte da fantasia em casa.

Marcela é uma mulher transgênero, influenciadora, funkeira e tem orgulho de dizer que ganha a vida comandando caminhões e retroescavadeiras em um depósito de minérios e confessa que não mediu esforços ao investir cerca de R$ 110 mil para desfilar. “Tenho alguns caminhões. Mas no Carnaval tudo é muito caro. Eu vendi um dos caminhões. Não só para investir na fantasia, mas para maquiagem, ensaio técnico, ensaio de rua”, explica. Entretanto, a musa confessa que faria tudo de novo “porque a vida é uma só”.

No entanto, mesmo com tamanho investimento, a rainha de bateria confessa que pretende desfilar nua na parte de cima porque esqueceu a fantasia em casa. “Tudo é válido pro Carnaval. Esqueci uma peça da roupa em casa, meu marido não sabe. Estou um pouco tensa. Faltou uma parte”, disse a Mulher Abacaxi.

A influenciadora se orgulha do título de rainha e se emociona ao relembrar infância: “Minha mãe gostava muito de Carnaval e eu assistia de um viaduto. Quando eu era pequena, eu era bem pobrezinha. A gente não tinha dinheiro para pagar o ingresso. E hoje estou aqui, como rainha da Acadêmicos de Niterói”, conclui.

Transição complicada e preconceito: como nasceu a Mulher Abacaxi?

Quem conhece Marcela Porto coroada rainha de escola de samba e cheia de autoconfiança, não imagina que a vida da caminhoneira de Campos dos Goytacazes nem sempre foi bem resolvida e seu processo de transição de gênero aconteceu de maneira tardia, carregado de anseios sobre como o mundo reagiria sobre sua identidade. “O meu processo de transição foi um pouco complicado porque aconteceu quando eu já era bem madura, com mais de 30 anos. Sempre fui de uma família de caminhoneiros, então eu tinha muito medo de como as pessoas iriam entender e reagir a isso”, lembrou.

Apesar do medo, Marcela contou que a revelação não trouxe problemas para a convivência familiar e celebrou: “Minha família me aceita, eu não dependo deles para nada, e não tive problemas. Em casa nós éramos seis homens e duas mulheres, agora somos cinco homens e três mulheres". 

O nascimento da Mulher Abacaxi aconteceu antes mesmo da transição de identidade de Marcela Porto, quando a entrevistada morava nos Estados Unidos e ganhava notoriedade em concursos LGBTQIA+. Marcela contou que, depois de vencer o Miss Brasil Gay, em 2007, em Nova York, estava planejando sua volta para o Brasil quando percebeu a movimentação forte das mulheres frutas - como a Mulher Melancia e a Mulher Jaca - e enxergou a possibilidade de ganhar o mercado do funk no país. “No concurso do Miss Brasil Gay USA, tinha que ter beleza e um talento e, na época, eu cantei uma música da Tati Quebra Barraco. Antes disso, eu já cantava funk, ainda de menino, então eu pensei 'já que eu ganhei um concurso montada, com uma apresentação de funk, quando eu voltar para o Brasil, eu vou ser uma mulher fruta'”, lembrou.

Embora defenda que o abacaxi seja a rainha das frutas, por conta de sua coroa, Marcela Porto contou que a escolha de seu nome artístico foi pensada para evidenciar sua singularidade. “Eu pensei em Mulher Banana, mas já tinha uma pessoa usando e eu queria uma fruta que as pessoas soubessem que não era uma mulher convencional, ai pensei em Mulher Abacaxi porque mulher nenhuma queria ser o abacaxi”, disse.

Mesmo enquanto Mulher Abacaxi e toda a visibilidade que tem, Marcela contou que o preconceito é parte de sua vida e relembrou uma situação que passou na academia em que frequentava. “A mulher do dono ia me emprestar umas roupas para eu fazer fotos e o marido dela disse que não era o perfil da loja uma mulher trans fazendo fotos com as roupas. Eu chorei muito”, contou.