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Elifas Andreato falou de democracia em última entrevista: "Resgatar o Brasil"

Artista gráfico de capas históricas da música brasileira morreu aos 76 anos. Em bate-papo inédito no programa Antenados, ele revisitou a carreira e desabafou sobre o atual momento do país.

Da redação

Elifas Andreato com o apresentador Danilo Gobatto no estúdio da Rádio Bandeirantes.
Elifas Andreato com o apresentador Danilo Gobatto no estúdio da Rádio Bandeirantes.
Divulgação

Um dos maiores ilustradores do país, Elifas Andreato, que morreu nesta semana aos 76 anos por complicações de um infarto, concedeu uma entrevista inédita ao programa Antenados, da Rádio Bandeirantes, que foi transmitida neste sábado (2). No bate-papo com Danilo Gobatto, gravado em fevereiro, o artista gráfico revisitou momentos marcantes da carreira e fez um apelo direcionado à política brasileira.  

“É um ano em que precisamos resgatar o Brasil que sempre sonhamos construir e que está da maneira que está. Não gosto de me aprofundar nisso porque já tenho perseguições de sobra. Tem horas que preciso me conter porque me sinto impelido a desabafar sobre essa tragédia que estamos vivendo. Falo em nome da democracia brasileira”, afirmou.  

O desenhista, que ficou famoso nos anos 1970 por criações de capas de discos de artistas como Chico Buarque, Elis Regina, Gal Costa, Adoniran Barbosa, Martinho da Vila e Paulinho da Viola, desabafou: “A vida está muito dura para o povo da cultura”.

As pessoas acham que estou bem com o prestígio que tenho. Não estou bem. Não tenho medo de dizer isso. Para ninguém está bem e para mim também não. 


"O Elifas é um sujeito que passou a vida trabalhando por valores que estão faltando e, pelos quais, estão os envolvidos para transformar esse país em uma democracia de fato. Melhor do que a que tivemos e que nos foi roubada, ou que pelo menos estão tentando [roubar]”, explicou.

O ilustrador disse que pretendia se dedicar a projetos para crianças e comentou sobre a proximidade da morte. 

“Uma coisa que a gente não consegue evitar é a idade. A velhice chegou. Você tem que fazer escolhas porque resta pouco tempo. Não adianta fazer planos que você não vai conseguir realizar. É preciso ter os pés no chão”, declarou.  

No programa, ele falou de “Vai, DJ! – O intrigante caso dos discos perdidos”, do escritor João Rocha e que foi lançado neste ano. O livro retrata a obra de Elifas Andreato. 

O artista gráfico, que se definia como um “obstinado pelo Brasil”, afirmou que ao longo de sua vida escolheu “estar ao lado dos bons” e falou de seu maior desafio em seu processo de criação das capas dos discos de vinil.

“Descobri cedo que eu nunca faria uma obra maior do que aquelas que eu ilustro. Faço um convite para as pessoas se interessarem pelas obras. Tenho que provocar curiosidade sobre a grande obra, que não é a minha”, definiu.  


O incômodo de Chico Buarque: “Eu recuei”


Entre tantas histórias com personalidades da música brasileira, Elifas Andreato lembrou de um episódio com Chico Buarque sobre a capa do disco Vida, lançado em 1980 e que traz a ilustração do rosto do músico. A ideia original era outra, mas não saiu do papel.  

"Quando o Chico Buarque compôs o LP Vida, eu fiz a melhor capa da minha vida para ele naquele momento. O Chico não censurou, mas ficou incomodado e eu recuei. A capa era preta, com um espelho colado, o nome Chico Buarque em cima e, embaixo, escrito ‘Vida’. Era uma capa para que cada pessoa se visse diante da própria imagem”, relembrou.  

Elifas contou que Chico é muito reservado e que por isso entendia o incômodo que ele sentiu. 

Ele concorda comigo de que foi um erro. Poderíamos ter feito aquela capa. Considero que era uma ideia absolutamente sensacional.


A íntegra da entrevista de Elifas Andreato ao programa Antenados pode ser acompanhada no site da Rádio Bandeirantes e no aplicativo BandPlay.

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