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Ex-MasterChef, Thales Alves destaca presença trans na gastronomia: "Existimos"

Primeiro participante trans do MasterChef, Thales Alves fala sobre suas conquistas profissionais e dá conselhos a quem deseja se inscrever no talent show

Por Aline Naomi

Thales Alves, participante da 3ª temporada do MasterChef Profissionais
Thales Alves, participante da 3ª temporada do MasterChef Profissionais
Reprodução/Instagram

Muita coisa mudou na vida de Thales Alves desde que participou da 3ª temporada do MasterChef Profissionais, em 2018. Só no último semestre, o chef participou da série A Música Está Servida, onde cozinhou ao lado de Glória Groove, palestrou no evento MESA Ao Vivo, foi jurado do Prêmio Gastronomia Preta e recebeu uma homenagem da Universidade Católica de Brasília no cinquentenário da instituição.  

O ex-participante lista suas conquistas recentes com entusiasmo e consciência de que esses feitos são grandes para alguém de 31 anos de idade. Para ele, o MasterChef foi um dos responsáveis por tantas oportunidades. "Sendo um programa de renome tão grande, ele possibilita, mesmo para chefs profissionais, um salto de carreira que demoraria, sei lá, uns 20 ou 30 anos para acontecer", analisa em entrevista exclusiva ao Band.com.br

Thales não visualizava nada disso na hora de apertar o botão de "enviar" quando se inscreveu no talent show. "Eu sempre acreditei no meu potencial, sempre acreditei que podia alcançar mais, mas fiz minha inscrição mais por desencargo de consciência mesmo", relembra. "Não imaginei que teria essa proporção." 

Os ingredientes da mudança 

Além de eventos e consultorias gastronômicas, Thales faz palestras em que busca falar, entre outras coisas, da valorização de pessoas pretas nas mídias digitais. "Mesmo depois de milhões de visualizações nos meus vídeos, eu percebi que não estava tendo a mesma valorização das marcas e das companhias [do que uma pessoa branca]", diz. "Palestrando sobre o tema, acredito que mude um pouquinho a visão das pessoas." 

Por isso, ter feito parte do júri do Prêmio Gastronomia Preta foi um "mix de euforia com orgulho", em suas palavras. "Muitas pessoas pretas não alcançam o lugar de chefs e ficam mais nos bastidores", observa o ex-MasterChef. "Ter um prêmio de gastronomia preta para evidenciar esses chefs que estão na correria há muito tempo, mas que são pouco valorizados, foi incrível para mim." 

O chef também fala sobre sua representatividade como primeira pessoa trans a participar do MasterChef no mundo — uma conquista excepcional, mas também solitária. "As possibilidades que foram abertas depois foram incríveis. Se a gente for fazer um recorte sobre ser um cara trans, foi muito legal [ser o primeiro], mas, ao mesmo tempo, ser o único é muito doloroso", desabafa.  

Novamente, o problema esbarra não na falta de pessoas capacitadas, mas na falta de visibilidade. "A gente continua existindo. A maior parte das pessoas transsexuais e travestis que trabalham hoje estão empregadas dentro das cozinhas. Isso é excelente, só que a gente continua não alcançando os cargos de chefia", pontua.  

"A gente pode inspirar outras pessoas" 

Como alguém que se inscreveu no MasterChef sem grandes expectativas, mas viu sua vida se transformar após o programa, Thales dá três conselhos a quem deseja participar das próximas edições do talent show. Confira: 

1. Conheça a sua própria história 

"O MasterChef é muito mais do que gastronomia: o que a gente faz na cozinha é falar um pouco sobre a nossa identidade e sobre a nossa cultura e a nossa identidade", aconselha Thales, sobretudo para quem se identifica com ele. "É importante as pessoas conhecerem a nossa história, porque a gente pode inspirar outras pessoas." 

2. Não tenha medo de apertar o botão de "enviar" 

"Às vezes, a gente passa horas olhando para o botão de 'Enviar' com tudo escrito", descreve Thales. "Envia, vai valer muito a pena fazer a inscrição e participar do programa. Não tem ninguém que não faça algo importante dentro da gastronomia, então aperte o botão de 'enviar'. É o mais difícil." 

3. Não tenha medo da mudança 

"É o que mais trava o ser humano, a possibilidade de mudar. Mas as mudanças, participando de um MasterChef, são muito positivas", conclui o chef.  

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