O Melhor da Noite desta terça-feira (23) conversou com Samira Bueno, diretora-executiva do fórum brasileiro de segurança pública, sobre a alta de casos de feminicídio e estupro no Brasil. A especialista avaliou o cenário e disse que a solução para casos de violência contra a mulher é a educação - especialmente dos homens.
“Os agressores são sempre homens. Se o homem é parte do problema, ele precisa ser parte da solução”, disse. “A criança não nasce naturalmente violenta. A gente tem que entender que isso são padrões de comportamento que vão sendo ensinados, socializados… Muitas vezes a criança vê o pai batendo na mãe e ele vai reproduzir comportamentos como esse na escola porque ele entende que essa é a forma de lidar com conflitos”, completou.
Samira explicou que na maioria dos casos de estupro no Brasil acontecem, os agressores são homens próximos da vítima. “Os estupros no Brasil vêm crescendo quase que ininterruptamente desde 2011, mas também no pós-pandemia nós notamos que esse aumento acabou se acentuando. Nós estamos falando de vítimas que são majoritariamente meninas de no máximo 13 anos, pretas e pardas, que são estupradas dentro de casa por algum familiar, normalmente pai, padrasto, avô, tio ou algum conhecido da família”, disse.
De acordo com a especialista, o período pandêmico foi um facilitador para o aumento de casos de violência: “Como a gente está falando de vítimas crianças que estão sofrendo violência sexual dentro de casa, uma das hipóteses traçadas é justamente esse período pandêmico em que essas crianças ficaram fora da escola”.
Nós sabemos que a violência sexual, cujas principais vítimas são crianças, muitas vezes é identificada no ambiente escolar. A criança muda o comportamento, ou às vezes numa aula de educação sexual, a professora cita ou menciona alguma situação que a criança vai dizer que o pai, que o padrasto faz aquilo com ela.
“É inacreditável que o congresso não esteja debatendo como proteger essas crianças, como acolher essas vítimas. Se fala tanto sobre a importância da gente ter disciplinas dentro das escolas e é claro direcionada para cada momento da infância, tanto sobre educação sexual como sobre cuidados de gênero, porque não tem como a gente pensar em transformar esse cenário 1. Dotando essas crianças de maior capacidade de identificar o que elas estão vivenciando e 2. Investindo em prevenção garantindo que essas crianças de hoje especialmente os meninos não sejam agressores de mulheres amanhã, não sejam estupradores de mulheres e de crianças amanhã”, finalizou.