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O que é o movimento emo e por que ele está voltando 20 anos após surgir

O retorno de inúmeras bandas que foram febre nos anos 2000 marca um período nostálgico para os fãs do gênero

Por Hanna Rahal

Volta do emo
Volta do emo
Reprodução

O emo fez e ainda faz parte da vida de muitas pessoas, uma geração inteira. Diversas bandas integraram esse movimento, que, surgiu nos anos 2000. Conforme os dados do Google Trends, o gênero ganhou evidência em 2006, mas bombou mesmo no Brasil em meados de 2010. 

Contudo, durante a pandemia e com o crescimento das lives, o emo também ressurgiu com muita força e assim que as festas voltaram a ser permitidas, surgiram diversos eventos e retornos especiais. 

O emo voltou! 

As icônicas franjas diagonais sobre os olhos, trajes de tons escuros, calças skinny, em sintonia com guitarras melódicas e canções emotivas, compunham o padrão de estilo dos emos durante o auge desse movimento — que não foi só uma fase. 

Quase 15 anos após o boom do gênero musical, ainda é possível ver pessoas colocando todos os sentimentos para fora ao entoar canções de bandas como: Nx Zero, Fresno, Cine, Restart, Hevo 84, Hateen e outras. 

Apesar de o estilo já não seguir o padrão do início do milênio, eventos, festivais e até blocos carnavalescos mantiveram o gênero vivo e, 2023, foi, literalmente, o ano do retorno. 

Após marcar gerações com os hits memoráveis "Razões e Emoções", "Além de Mim", "Cedo ou Tarde" e sete álbuns de estúdio, a interrupção das atividades do NX Zero foi confirmada por Di Ferrero em dezembro de 2017. No entanto, o grupo retornou com integrantes da formação clássica para uma turnê que acabou em São Paulo, com o Allianz Parque lotado, em novembro do ano passado. 

Desde que o anúncio da volta da banda foi feito em janeiro de 2023, Daniel Weksler, baterista do grupo, conta que eles aproveitaram muito, e que tudo se intensificou. “Tanto o amor entre a gente quanto o amor do público, parece que está mais vivo. Tem sido um dos melhores momentos que a gente já viveu”, contou em entrevista ao Band.com.br.

“O NX Zero está caminhando para um legado muito massa de músicas que marcaram mais de uma geração. Conseguimos levar uma mensagem de amor e de coisas boas para as pessoas”, explica o baterista. Weksler ainda revela que o grupo se espelhou em bandas grandes do Brasil, como Paralamas do Sucesso, Titãs, e até na esposa do músico, a cantora Pitty. “Fomos conquistando nosso espaço e ficamos muito orgulhosos e motivados com isso”, explica. 

A banda tem uma legião de fãs, e o artista explica, que a galera não só é fiel, como também foi se diversificando. “Na plateia, existem pessoas que estavam ali desde o começo, outras que viraram fãs quando a banda já tinha pausado e estão curtindo nosso retorno, assim como os filhos dos fãs mais antigos também curtem nosso som. É muito louco ver como nosso público se renovou”, complementa. 

Em julho de 2023, outra que banda que retornou aos palcos após um período de hiato foi a Cine, formada por DH, Bruno Prado, Danilo Valbusa, David Casali e Pedro Caropreso. Eles fizeram shows solo e em um festival em São Paulo, lançaram música e até clipe com direito a participação especial da atriz Giovanna Lancellotti. Tudo isso com a proposta de fechar o ciclo da banda com chave de ouro, e claro, surfar no hype. 

Pedro Caropreso, o Dash, que é produtor musical e integrante da Cine, disse em entrevista exclusiva ao Band.com.br, que a volta do emo faz parte do processo cíclico que a música vive e, além disso, é fruto do poder que a nostalgia tem sobre os fãs. 

A nostalgia está sempre presente. Acho que é o momento que esse sentimento está batendo mais forte nos fãs dessas bandas, explica o músico. 

O artista ainda explica que por mais que o estilo seja colocado em uma espécie de “caixinha”, as bandas emo são bem diferentes entre si. “O emo acabou virando uma coisa geral de toda essa galera, mas se você for ouvir realmente a fundo, o som de cada uma dessas bandas é muito diferente, sabe? Se você pegar um disco do Cine, do Restart, do Fresno e do NX, são estilos que você consegue colocar cada um no seu lugar”, avalia Dash. 

Isso quer dizer que essa volta não necessariamente seria do emo como a sociedade o conheceu. Os artistas concordam que, hoje, o estilo é abraçado não apenas pelo rock, mas por artistas de outros gêneros que levam a sonoridade e a composição como inspirações. De Billie Eilish a Day Limms, cada uma tem seu papel em propagar “a palavra do emo”.

Em 2024, o festival “I Wanna Be Tour” é exemplo disso. Porque trará atrações ligadas ao movimento e passará por cinco capitais em março — sendo que os ingressos para o evento em São Paulo já estão esgotados.  

A arte de se reinventar 

O Fresno se manteve firme e forte, foi uma das poucas bandas que soube se reinventar para seguir uma história com mais de 20 anos de música e estrada, e aproveita atualmente o amadurecimento para curtir os fãs e surfar nas oportunidades da música. Dessa forma, de degrau em degrau, eles subiram a escada do sucesso até se tornarem uma das maiores representantes do emocore no Brasil.

Parte de fazer o que ama, significa ser fiel aquilo que gosta. “A gente foi sempre muito transparente com relação ao que queríamos fazer. Nem sempre foi a melhor escolha do ponto de vista comercial”, explica Lucas Silveira, em entrevista exclusiva ao Band.com.br, ao relembrar a carreira.

Com o passar do tempo, cada vez mais eles desejavam arriscar. Criar coisas novas e descobrir caminhos. Gravar com artistas como Lulu Santos, Caetano Veloso, Lenine e Emicida possibilitou uma vasta musicalidade ao grupo. “Essas atitudes fizeram com que a gente pudesse ter liberdade de experimentar, de vir com sons diferentes. A galera está muito interessada no que a gente está aprontando de novo”, diz. 

Quando pensa em legado, enquanto artista, Lucas garante que a música que faz, marca pessoas, assim como foi marcado por diversas outras canções — isso porque as músicas têm o poder de mudar o humor, de envolver e até de propor reflexões. 

Não adianta, se tu deixa uma música entrar na sua vida, é como se pudesse decorar alguns momentos. Ela nos ajuda a colocar trilha sonora em coisas que estamos vivendo e intensifica as vivências. Pensando nisso, se tem um legado que um músico pode deixar, o legado mais bonito, é isso, as coisas que ele fez e que estão espalhadas pelo mundo para as pessoas ouvirem, explica.

O que é o movimento emo?

O rock and roll chegou no Brasil como um gênero elitista — e mesmo assim faz muito sucesso desde o seu surgimento. Contudo, os anos 2000 transformou essa ideia. Isso porque o emo abraçou jovens periféricos. 

Além da estética, o emo era uma expressão de emoções profundas e muitas vezes melancólicas. As letras exploravam temas como amor, angústia e autodescoberta, proporcionando uma forma de catarse para os jovens que se identificavam com as experiências retratadas.

O Hevo 84 também fez, em novembro do ano passado, uma turnê de retorno para marcar a volta da banda, que era queridinha dos fãs de Malhação e depois assumiu um lugar na prateleira emo. Para Renne Fernandes, vocalista da Hevo 84, o emocore é refletido na atitude e no comportamento de um jovem. “É uma busca por pertencimento que todo jovem tem e daí gerou essa química que a galera chama de emo”, avalia. 

Veja a entrevista na íntegra aqui:

No Brasil, bandas como Nx Zero e Fresno, foram pioneiras na adaptação desse estilo. Restart e Cine criaram o happy rock, uma vertente na qual a melancolia dava vez às roupas coloridas. 

No entanto, o movimento também enfrentou estereótipos e incompreensões. Rotulado muitas vezes como "apenas uma fase", o emo desafiou expectativas, destacando-se como uma cultura genuína e duradoura na juventude brasileira.

Em suma, o movimento emo no Brasil foi mais do que um fenômeno musical; foi uma expressão cultural que transcendeu fronteiras e influenciou uma geração.

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