Notícias

1974: a última vez em que a F1 chegou ao último GP do ano com dois pilotos empatados na liderança

Emanuel Colombari

Imagem: Folha de S. Paulo/ Reprodução
Imagem: Folha de S. Paulo/ Reprodução

O Rodrigo Mattar deu a letra no Twitter, e o Sérgio Maurício comentou no fim da transmissão do Grande Prêmio da Arábia Saudita: a temporada de 2021 é a primeira da Fórmula 1 desde 1974 em que dois pilotos chegam empatados à última corrida do ano.

Passadas as primeiras 21 corridas deste ano, Max Verstappen e Lewis Hamilton têm 369,5 pontos cada. O holandês da Red Bull leva vantagem na classificação por ter mais vitórias na temporada até aqui: nove, contra oito do britânico da Mercedes. Cada um depende apenas de si.

E antes de sabermos se a F1 sai de Yas Marina com um octacampeão ou com um campeão inédito, vamos lembrar como foi aquela temporada de 1974, que teve Emerson Fittipaldi (McLaren) e Clay Regazzoni (Ferrari) chegando à última corrida com os mesmos 52 pontos?

Briga de gente grande

Naquele ano, os dois pilotos fizeram uma disputa equilibrada desde o começo, embora Regazzoni tenha vencido apenas uma das 15 provas (Alemanha). Mesmo assim, os bons desempenhos deram competitividade ao suíço em meio a um grid de alto nível, como veremos.

Nas duas primeiras provas do ano, Emerson foi 10º na Argentina e venceu no Brasil, somando nove pontos. Mas Regazzoni foi terceiro e segundo, respectivamente, somando dez pontos e assumindo a liderança. Nenhum deles pontuou na África do Sul, prova vencida pelo (até então zerado) argentino Carlos Reutemann (Brabham).

Emerson venceu o GP do Brasil de 1974, com Regazzoni em segundo (Imagem: McLaren/Twitter)

Assim, a Fórmula 1 chegou à Europa para o GP da Espanha com um cenário equilibrado: Clay Regazzoni tinha dez pontos, enquanto Carlos Reutemman, Emerson Fitittipaldi, Denny Hulme (McLaren) e Mike Hailwood (McLaren) tinham nove cada.

A dobradinha da Ferrari em Jarama, com Niki Lauda em primeiro e Regazzoni em segundo, colocou a dupla nas duas primeiras posições da temporada – 15 e 16 pontos, respectivamente. Emerson, terceiro na prova, era também o terceiro no Mundial, com 13.

O brasileiro deu o troco com a vitória na Bélgica, enquanto Regazzoni sofreu com problemas de abastecimento e terminou em quarto: 22 a 19. O rival da Ferrari poderia devolver em Mônaco, mas rodou quando liderava. Ainda assim, terminou de novo em quarto e foi a 22 pontos, enquanto Emerson foi o quinto e chegou a 24.

Emerson vence na Bélgica (Imagem: McLaren/Twitter)

Emerson foi quarto na Suécia (Regazzoni abandonou com problema de câmbio) e terceiro na Holanda (Regazzoni foi segundo), mantendo-se líder. No entanto, um problema de motor fez o brasileiro abandonar na França, onde o pódio teve Ronnie Peterson (Lotus) em primeiro, Niki Lauda em segundo e Clay Regazzoni em terceiro. Lauda (36 pontos) liderava, com Regazzoni (32) em segundo e Emerson (31) em terceiro. Tome equilíbrio.

O segundo lugar em Brands Hatch deixou o brasileiro um ponto atrás de Niki Lauda, em mais uma briga emocionante: Lauda com 38, Emerson com 37, Jody Scheckter (Tyrrell) com 35 e Regazzoni com 35. Mas a vitória em Nurburgring, onde Emerson abandonou logo no início, recolocou o suíço em primeiro lugar no campeonato. Para piorar, o brasileiro da McLaren era o quarto, sete pontos atrás: 44 a 37.

Emerson parecia fora da briga após mais um abandono no 12º GP da temporada, na Áustria, onde Regazzoni foi quinto. Faltando três provas para o fim, Clay Regazzoni tinha 46 pontos, contra 41 de Jody Scheckter, 38 de Niki Lauda e 37 de Emerson.

Mas a sorte sorriu para o brasileiro na reta final do ano. O GP da Itália foi vencido por Ronnie Peterson, já fora da briga, com Emerson em segundo e Scheckter em terceiro. Regazzoni ainda liderava (46), mas com Schckter (45) e Emerson (43) logo atrás.

E ao vencer no Canadá, o brasileiro igualou tudo: 52 a 52. O sul-africano abandonou com problemas nos freios, mas ficou com 45 pontos e era o único que podia tirar o título dos dois primeiros colocados. Lauda abandonou após sofrer um acidente quando liderava a prova, ficou com 38 pontos e deixou a briga pelo título.

Emerson no GP do Canadá de 1974 Imagem: F1/Twitter

Azar da Ferrari, sorte de Emerson

O último GP do ano aconteceu em Watkins Glen, nos Estados Unidos. Pela frente, Emerson tinha a dupla Ferrari em ótimo momento, como afirmava.

“As Ferrari foram as máquinas mais rápidas desta temporada. Foi o tipo de carro em que os pilotos puderam confiar durante toda a temporada. Além disso, Regazzoni é um piloto excelente, que colocou em evidência a sua categoria durante todo o ano, da mesma foram que seu companheiro Niki Lauda”, afirmou, conforme publicado pelo jornal Folha de S. Paulo de 5 de outubro daquele ano.

O suíço acreditava depender de um melhor grid para levar a melhor, mas nenhum deles teve uma posição de largada brilhante: Emerson era o oitavo, Regazzoni era o nono.

Na largada, Reutemann manteve a pole, com James Hunt (Hesketh) mantendo o segundo lugar. Mario Andretti (Parnelli) era o terceiro, mas ficou parado, e José Carlos Pace (Brabham) assumiu a posição.

Regazzoni acabou sofrendo toda sorte de problemas na corrida, enquanto Emerson apenas administrou. O suíço tentou uma troca de pneus na 15º volta, sem sucesso – acabou em 11º.

Na frente, Reutemann, Hunt, Pace e Lauda tocavam nas quatro primeiras posições, enquanto Scheckter, Emerson, John Watson (Brabham) e Arturo Merzario (Iso-Marlboro) vinham atrás. Scheckter e Emerson conseguiriam se desgrudar do pelotão e encostar em Lauda.

Enquanto a Ferrari sofria nos EUA, Emerson aproveitava. Na volta 45, o brasileiro era quinto, atrás de Lauda. Mas os problemas no carro custaram caro ao austríaco, que foi ficando pelo caminho. Para ajudar, Scheckter escapou pouco depois e acertou o guard-rail - acabaria abandonando a 15 voltas do final, com um problema no sistema de abastecimento da Tyrrell.

No fim, em quarto, Emerson poderia até ter ultrapassado James Hunt, mas preferiu ser mais cauteloso. O pódio teve Reutemann, Pace e Hunt. O brasileiro da McLaren foi a 55 pontos, contra 52 de Regazzoni e 45 de Scheckter, que não pontuaram.

Emerson Fittipaldi era, ali, bicampeão de Fórmula 1.

Em 2021 passados 47 anos, a briga agora é entre Mercedes e Red Bull. Entre Verstappen e Hamilton. Resta saber quem sairá de Abu Dhabi comemorando.

Imagem: Folha de S. Paulo/Reprodução

Emanuel Colombari

Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.