Notícias

BRM P15: A história do carro de Fórmula 1 que quer sair do papel depois de 70 anos

Emanuel Colombari

Imagem: British Racing Motors
Imagem: British Racing Motors

A BRM foi uma das grandes equipes dos primórdios da Fórmula 1.

Após estrear no Grande Prêmio da Grã-Bretanha de 1951, garantindo inclusive dois pontos com o quinto lugar de Reg Parnell, o time voltou oficialmente à ativa em 1954. A partir daí, foi se tornando figura constante na categoria, conquistando o título de 1962 com Graham Hill e deixando o grid em 1977.

BRM P201, usado nas últimas temporadas da equipe, exibido em 2021 (Imagem: British Racing Motors)

Mas uma parte do começo dessa história se perdeu há mais de 70 anos, e só foi reencontrada recentemente para ser (re)contada.

No final da década de 1940, Raymond Mays e Peter Berthon deixaram a ERA (English Racing Automobiles), uma fabricante britânica de carros esportivos, e partiram para iniciar a BRM como um projeto próprio. Em dezembro de 1949, a dupla apresentou em Goodwood (Inglaterra) o BRM P15, primeiro carro de corridas deste projeto.

Leia também:

Ao todo, a equipe construiu outros cinco carros iguais ao exibido. Os primeiros foram à pista já em 1950, inclusive com uma vitória de Reg Parnell no Goodwood Trophy (uma corrida extraoficial da F1 em 1950, que não valia para o calendário oficial). No entanto, com problemas no complexo motor V16, a equipe logo precisou buscar acertos para o bólido, que foi utilizado em provas extraoficiais até 1953, sem o mesmo sucesso. O chassi original apresentado no fim de 1949 acabaria deixado de lado para dar lugar à versão repaginada, com mudanças sensíveis na parte dianteira.

Quando a BRM voltou às provas oficiais da Fórmula 1, em 1954, voltou utilizando um Maserati 250F. A equipe só teria um carro próprio de novo no grid em 1956, com o BRM P25 utilizando por Mike Hawthorn, Tony Brooks e Ron Flockhart no GP da Grã-Bretanha.

Após o fim das atividades da equipe, tudo isso poderia ter ficado perdido. Até que, em 2021, algumas peças desta origem da Fórmula 1 foram reencontradas e se encaixaram novamente.

A partir de 1954, a BRM passou a ser presidida por Sir Alfred Owen, o que garantiu à equipe até a década de 1970 o nome oficial de Owen Racing Organization. Mesmo com a morte de Owen em 1975 e o fim da equipe em 1977, boa parte do espólio foi preservado.

Imagem: British Racing Motors

Em 2021, John Owen, filho de Sir Alfred, ajudou a resgatar projetos da época e a reconstruir três dos motores V16 utilizados pela equipe nos primórdios. E vale registrar detalhes: motores de 1,5 litro, que produzem 591 cavalos a 12.000 rpm. Nos carros equipados com tração traseira, toda essa potência era transferida para as rodas com um câmbio de cinco velocidades construído pela própria BRM.

Dois carros foram reconstruídos a partir dos motores – um ficou com a família Owen, sendo novamente exibido no circuito de Goodwood (foto), e o outro foi entregue a uma fabricante de relógios de luxo. Ambos seguiram os traços já repaginados do modelo. Mas o terceiro se tornou um item especial para a BRM.

Imagem: British Racing Motors

Lembra daqueles chassis P15 construídos por Peter Berthon e abandonados quando a equipe precisou fazer ajustes no motor? Um deles foi levado para casa por Berthon, que sabia que o carro não teria mais serventia para a equipe diante das modificações. E ficou por lá guardado durante 70 anos, até ser resgatado.

Agora, os herdeiros da BRM trabalham para reconstruir aquele P15 que foi salvo por Peter Berthon – e considerado o primeiro carro de Fórmula 1 do Reino Unido.

“Ninguém viu esse carro. Esse carro não foi construído nesta forma por mais de 70 anos. Então, para nós, é uma incrível empolgação, ter essa oportunidade. Esse carro é incrivelmente bonito”, comemorou Simon Owen, diretor da BRM.

Ainda não há previsão para a apresentação da relíquia - talvez em uma próxima edição do Festival de Goodwood. Mas certamente os fãs da categoria ficarão de olho nesta preciosidade, que deverá exigir uma pequena fortuna para passar a existir.

Emanuel Colombari

Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.