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Hoje longe das pistas, Pedro Paulo Diniz deixou F1 sentindo medo e alívio

Emanuel Colombari

Imagem: Fazenda da Toca/Site oficial
Imagem: Fazenda da Toca/Site oficial
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Os números, olhados fora de contexto, talvez não indiquem. Mas Pedro Paulo Diniz – que completa 52 anos neste 22 de maio – fez um bom trabalho no pelotão intermediário da Fórmula 1 na segunda metade da década de 90.

Entre 1995 e 2000, foram 98 corridas por quatro equipes diferentes (Forti, Ligier, Arrows e Sauber). Somou apenas 10 pontos, mas terminou 26 corridas entre os 10 primeiros – em uma época em que apenas os seis primeiros somavam pontos.

Mas afinal, por que Diniz não deu tão certo na Fórmula 1? A principal questão: o psicológico.

O ex-piloto brasileiro não é muito de entrevistas. Em uma delas, no podcast F1: Beyond the grid, que foi ao ar em dezembro de 2021, contou que muitas vezes sentia que estava chegando perto de seu melhor momento – até que começava a travar.

“Eu era um bom piloto, mas não acho que era o mais talentoso”, disse. “Para mim, foi meio que um alívio parar de correr, porque não estava me sentindo 100% lá”, acrescentou.

No fim de 2000, Pedro Paulo Diniz já estava insatisfeito com a Fórmula 1. Chegou a ser especulado na Prost e na própria Sauber, mas o prazer em correr já não era o mesmo.

“Eu estava um pouco cansado. Para ser sincero, eu estava com um pouco de medo de me machucar, acho, e isso é ruim para um piloto de Fórmula 1”, explicou o paulista, que se sentia preocupado “principalmente” por causa de acidentes. “Eu estava com esses pensamentos em minha mente, e isso era ruim. Eu tentava não pensar nisso.”

Acidentes

E alguns acidentes do filho de Abílio Diniz foram, de fato, preocupantes. No GP da Argentina de 1996, por exemplo, um vazamento de óleo fez com que sua Ligier explodisse em chamas. O brasileiro conseguiu sair às pressas do cockpit, o que não impediu algumas capas de péssimo gosto da imprensa internacional. O jornal inglês The Sun estampou a manchete “Diniz in the oven” – um trocadilho com a frase “dinner is in the oven”, ou “o jantar está no forno”.

A Ligier de Diniz em chamas no GP da Argentina de 1996 (Imagem: Reprodução)

“Aquele acho que foi o mais assustador. Achei que ia morrer. O carro estava em chamas, eu estava no meio das chamas. Foi uma loucura. O que passava na minha mente era: ‘Eu tenho certeza de que não vou morrer em um carro de Fórmula 1, como é que vou morrer agora?’”, relembrou o brasileiro.

“Eu ainda não sei como sair do carro sem tirar o volante. Eu tentei muitas vezes sair do carro sem tirar o volante. Naquele dia, não sei como consegui, mas saí do carro sem tirar o volante.”

Outra imagem pouco agradável veio no GP da Europa de 1999, já nos tempos de Sauber. Na primeira volta, o carro do brasileiro foi atingido pela Benetton de Alexander Wurz e capotou. A cobertura do motor se desfez, mas Diniz saiu ileso de um acidente que poderia ter sido fatal.

“Acho que aquilo foi muito assustador para quem estava vendo, mas para mim foi muito rápido”, descreveu ele. “Foi tão rápido que não tive tempo para ter medo. Estava preso sob o carro, mas não vi fogo, então tive muita sorte. Meu pai quase morreu naquele acidente, porque pensou que eu tinha morrido”, brincou.

Ioga, meditação e surfe

Desde que deixou a F1, Pedro Diniz – como é conhecido no exterior – pouco se envolveu com o automobilismo. Chegou a organizar a Fórmula Renault no Brasil, mas a categoria durou poucos anos. Entre 2010 e 2017, morou com a família em uma fazenda na cidade de Itirapina (SP), onde ainda hoje se dedica à produção de alimentos orgânicos – mesmo voltando a morar em São Paulo.

A questão psicológica, diz, melhorou muito quando começou a praticar ioga e meditação a partir de 2003. Diniz também é adepto do surfe e do kitesurfe. Certamente esportes bem menos desgastantes do que a Fórmula 1.

“Eu me cansei um pouco de viagens, de relações. Não sou uma pessoa muito aberta – posso me mostrar um pouco aberto às vezes, mas sou uma pessoa tímida, então ter aquela exposição toda de quando eu estava na Fórmula 1 não era legal. Isso era um pouco desafiador para mim”, contou.

Isso quer dizer que ele não sinta falta da Fórmula 1? Basicamente sim.

“O que sinto falta é a empolgação de pilotar um carro, de estar no limite com um carro”, explica, contando que assiste apenas “algumas corridas, não todas”. “Acho que eu amava pilotar, a velocidade, a excitação. Mas assistir não é muito algo para mim hoje.”

Emanuel Colombari

Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.