Fórmula 1

Prost, Senna, Schumacher e Hill: acidentes polêmicos marcaram decisões da F1

Batalhas épicas que terminaram a acidentes históricos marcaram alguns desfechos de campeonatos

Da Redação

A duas provas do desfecho de uma temporada que já ganhou o seu contorno épico na batalha entre Max Verstappen e Lewis Hamilton pelo título da Fórmula 1, é impossível não pensar na possibilidade da decisão acontecer da forma menos convencional: fora da pista. 

Por isso, a reportagem do Portal da Band relembra algumas decisões de campeonato que terminaram antes da linha de chegada. Veja abaixo:

Alain Prost x Ayrton Senna (1989)

Maior rivalidade da história da Fórmula 1 teve seu ponto culminante em 1989, no dia 22 de outubro de 1989. Alain Prost se sagrou tricampeão mundial de Fórmula 1 depois que seu "companheiro" (sic) de equipe Ayrton Senna foi desclassificado do GP do Japão sob a alegação de ter cortado a chicane após um choque provocado pelo francês - na pista de Suzuka, o brasileiro venceu.

Faltando dez voltas para a bandeirada final, estava preparado o terreno para o embate. Segundo se disse à época, Prost tinha menos asa e uma relação de marchas que privilegiava a velocidade nas retas, enquanto Ayrton tinha um ângulo de ataque maior nos aerofólios. Com isso, o brasileiro encostava no grampo e na chicane, enquanto o francês estilingava nas retas.

Na dramática 47ª volta, Senna decidiu que era o momento de atacar. Aproveitando uma brecha aberta por Prost, Ayrton retardou a freada na chicane de uma forma absurda, passou com as duas rodas do lado direito da faixa de entrada dos boxes, e mergulhou. Ao ver o rival por dentro, o francês não teve dúvidas: jogou o seu carro em cima do adversário. Afinal, o abandono dos dois dava o tri a Prost.

Os carros ficaram enganchados na entrada da área de escape. O carro de Prost estava inteiro, mas o francês deixou o cockpit, não sem deixar engatada uma marcha para dificultar o resgate. A McLaren de Senna tinha danos na asa dianteira, mas de resto parecia inteira. Desesperadamente, Ayrton pediu que os fiscais empurrassem seu carro para fazer o motor pegar novamente, conseguiu chegar ao pit, tirou uma desvantagem de mais de 5 segundos para o italiano Alessandro Nanini e cruzou a linha de chegada em primeiro.

Ainda com a corrida em andamento, porém, Prost já tinha conversado com o presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Jean Marie Balestre, seu amigo pessoal e francês como ele. Depois da prova Senna e o chefe da McLaren, Ron Dennis, chegaram à torre, e a discussão continuou, enquanto a cerimônia do pódio estava suspensa até uma decisão.

No fim, prevaleceu a desclassificação de Senna, resultado que dava a vitória a Nannini e o tricampeonato a Alain Prost. O italiano, que nunca havia vencido na Fórmula 1, estava visivelmente sem graça. Já o francês, com a cara mais lavada do mundo, exibiu uma placa comemorativa.

Ayrton Senna x Alain Prost (1990)

No ano seguinte, já com Senna na McLaren e Prost indo para a Ferrari, a rivalidade entre os dois seguiu a flor da pele e o palco da decisão era o mesmo da temporada anterior: Suzuka, no Japão. Senna e Prost já haviam interrompido o convívio amistoso que marcou o primeiro ano da parceria e estavam em pé de guerra na reta final da temporada 1989.

Inconformado com o título perdido, o brasileiro disparou duras críticas às atitudes de Balestre, que exigiu um pedido de desculpas público para que o piloto pudesse obter a superlicença para disputar o campeonato de 1990. Convicto da parcialidade do dirigente, Senna se recusou a fazer a retratação até o último momento, quando a McLaren enfim distribuiu um comunicado assinado por ele. Em 1991, Senna revelou que o pedido de desculpas não havia sido redigido com seu consentimento.

Todo o impasse envolvendo Prost e Balestre se tornou fonte de uma grande mágoa para Senna, que se sentia injustiçado. A chance de extravasar a raiva veio na etapa japonesa de 1990. Prost precisava vencer para conquistar o título. A direção da prova negou a Senna, pole position, o direito de largar do lado esquerdo, o mais limpo e emborrachado da pista.

Prost, segundo colocado no grid, largou pelo lado de fora, enquanto Senna seria prejudicado pela sujeira do lado interno da pista. E o brasileiro, a cerca de 250 km/h, simplesmente não freou para a primeira curva, como revelaria a telemetria, colidindo com o rival. O campeonato estava decidido, com Ayrton bicampeão mundial.

Michael Schumacher x Damon Hill (1994)

O dia 13 de novembro de 1994 marcou o fim polêmico de uma das temporadas mais controversas da história da Fórmula 1. Michael Schumacher, que na época era da Benneton, conquistou o primeiro dos seus sete títulos mundiais no GP da Austrália após um acidente com Damon Hill, seu único concorrente a época.

Schumacher e Hill desembarcaram em Adelaide separados por apenas um ponto. O alemão da Benneton teve um começo avassalador no campeonato, com seis vitórias nas sete primeiras corridas, mas as desclassificações na Inglaterra e Bélgica, unidas com a suspensão na Itália e em Portugal, permitiram a recuperação do rival da Williams, que chegou aos 91 pontos depois de um triunfo épico no Japão.

No treino classificatório, o alemão se classificou à frente de Hill, mas ambos foram superados por Nigel Mansell, o pole e companheiro de Damon na Williams, que foi engolido pelos concorrentes ao título logo na largada da prova - o veterano também foi superado por Mika Häkkinen e Rubens Barrichello. O líder do campeonato assumiu a primeira posição antes da primeira curva, seguido pelo vice-líder.

Schumacher e Hill fizeram uma corrida à parte do restante do grid. Os dois foram aos boxes na volta 18, e voltaram ainda mais colados.  Mas o momento decisivo do campeonato aconteceu na 36ª volta. Schumacher errou na curva 5 e escapou, batendo de leve no muro. Hill viu a oportunidade de assumir a liderança e tentou colocar por dentro na curva 6. O alemão não deu espaço e os dois acabaram se chocando.

A Benneton levantou e parou no muro. Hill trouxe o carro aos boxes, mas o dano em um dos braços da suspensão dianteira esquerda era terminal, e ele não conseguiu retornar para a corrida. Com o abandono de Schumacher, bastaria um quinto lugar para o inglês levar um improvável título. Os mecânicos da equipe Benetton comemoravam o título, enquanto Schumacher mudou a expressão facial de preocupação para felicidade.

Sem os dois principais pilotos do campeonato na prova, a vitória caiu no colo de Nigel Mansell, que era o terceiro. O campeão mundial de 1992 cruzou a linha de chegada pela última vez na carreira, aos 41 anos e 3 meses de idade. Mansell se tornou o sétimo piloto mais velho da história a vencer uma corrida.

Michael Schumacher x Jacques Villeneuve (1997)

A disputa pelo título da temporada de 1997 entrou para a história da F1. A batida de Michael Schumacher em Jacques Villeneuve, no circuito de Jerez de la Fronteira, na Espanha, foi o clímax de uma rivalidade intensa, o que coroou o piloto canadense e colocou uma mancha irreversível no currículo do alemão.

Villeneuve e Schumacher foram os dois protagonistas de toda aquela temporada. Por um lado, o piloto da Williams, campeão da Indy e das 500 Milhas de Indianápolis em 1995, fazia sua segunda temporada na F1. Por outro, Schumacher fazia sua segunda temporada pela Ferrari e buscava o primeiro troféu de pilotos para Maranello que não vinha desde 1979. Juntos, os dois haviam vencido 12 dos 16 GPs disputados antes da prova decisiva, mas não tinham dividido um único pódio sequer naquele ano.

A temporada chegou à corrida final em situação tensa. Na penúltima etapa do campeonato, no Japão, Schumacher venceu depois de fazer uma prova tática com a ajuda do parceiro, Eddie Irvine, enquanto que Villeneuve correu sob apelo, mas acabou desclassificado da corrida por ter desrespeitado uma bandeira amarela durante um treino livre. Assim, os dois ficaram separados por apenas um ponto na tabela, com vantagem para o competidor da Ferrari.

Na corrida, a situação mudou logo na largada, já que Schumacher partiu melhor e assumiu a ponta. Villeneuve, cauteloso, também foi ultrapassado por Frentzen e caiu para terceiro. Na volta 8, a Williams ordenou que seus pilotos trocassem de posição, então Villeneuve voltou o segundo lugar para poder iniciar uma perseguição a Schumacher e ter uma disputa mano a mano com o rival.

Bem, nem tão mano a mano assim, afinal, Schumacher e Villeneuve precisavam lidar com o tráfego de retardatários. Ao fim da volta 30, a diferença entre os dois já havia caído para 0s8, e eles se preparavam para colocar uma volta em Norberto Fontana, da Sauber. A perseguição de Villeneuve a Schumacher continuou, e na volta 48, a diferença já era novamente visual. Na aproximação da curva Dry Sack, um grampo à direita, Villeneuve mergulhou por dentro de última hora para tentar surpreender Schumacher, mas o alemão fechou a porta e bateu na lateral do rival.

Schumacher foi parar na brita, ficou atolado e abandonou a prova. Villeneuve conseguiu continuar, mas com uma grande preocupação, pois a batida atingiu o radiador da Williams e deixou a bateria do carro solta, presa somente pelos cabos elétricos. Então, Villeneuve guiou com cautela apenas para conseguir terminar a prova, até porque o sexto lugar já lhe seria suficiente.

Os rivais de trás se aproximaram. Na última volta, o canadense praticamente abriu caminho para os pilotos da McLaren, o que deu a Mika Hakkinen sua primeira vitória na F1, com David Coulthard em segundo. Villeneuve cruzou a linha de chegada em terceiro, conquistando o dramático título por três pontos. 

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