A temporada 2022 da Fórmula 1 chega, no próximo domingo (23), a sua 19ª etapa: o Grande Prêmio dos Estados Unidos, que será realizado no Circuito das Américas, em Austin. Este é um dos GPs mais aguardados da temporada, já que a presença e a participação do público foram maciças nos últimos anos.
Neste ano, a expectativa, segundo o jornalista neerlandês Erik van Haren, do De Telegraaf, é de que 440 mil fãs passem pelas arquibancadas de Austin – o que significaria um novo recorde da Fórmula 1, superando os 420 mil do GP da Austrália em abril. Isso mostra o quanto a categoria tem crescido nos Estados Unidos depois de ter passado por incertezas entre a década de 1980 e o começo do século XXI.
Vale a pena relembrar a história da Fórmula 1 nos EUA. Confira:
O primeiro Grande Prêmio dos Estados Unidos
A história do GP dos Estados Unidos começa em 1959, no Autódromo Internacional de Sebring, na Flórida. Esta foi a única vez que uma corrida integrante do Mundial de Fórmula 1 foi realizada no local, tendo o neozelandês Bruce McLaren, da Cooper, como vencedor. Completaram o pódio o francês Maurice Trintignant, também da Cooper, e o inglês Tony Brooks, da Ferrari.
Em 1959, porém, a categoria já não era uma novidade para o público norte-americano. De 1950 a 1960, as 500 Milhas de Indianápolis fizeram parte do calendário da F1 e colaboraram para a popularização do esporte a motor. A tradicional prova é realizada desde 1911, e atraí-la para integrar o Mundial da Fórmula 1 foi uma estratégia da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) para atrair público, visibilidade e investidores.
A intenção foi melhor do que o resultado. Entre os principais pilotos regulares da categoria, apenas o italiano Alberto Ascari, da Ferrari, chegou a competir as 500 Milhas, enquanto os outros pilotos da F1 sequer participavam da prova.
Além disso, os carros americanos da Indy eram melhores desenvolvidos e tinham mais recursos se comparados com o da Fórmula 1, que sempre teve a Europa como centro comercial e de construção.
Foi com esse insucesso que a FIA aumentou os investimentos no Grande Prêmio dos Estados Unidos, que ainda teria mais uma prova em 1960: no Autódromo de Riverside, na Califórnia, vencida pelo inglês Stirling Moss, da Lotus.
O tradicional circuito de Watkins Glen e o domínio britânico
Antes da Fórmula 1 conquistar o público americano no atual século, o melhor período do GP dos Estados Unidos foi nos anos 1960 e 1970. A categoria encontrou no Autódromo Internacional de Watkins Glen, no estado de Nova York, o traçado ideal para os seus carros com retas longas e um trecho entre as curvas 5 e 10 onde as “viradas” eram velozes. O nova-iorquino também despertava maior interesse pela F1, o que proporcionava bons públicos.
Em Watkins Glen, o GP foi dominado pelos britânicos, ainda que na época tivessem grandes pilotos de outros países – como o americano Phil Hill, o alemão Wolfgang Von Trips, o australiano Jack Brabham e o austríaco Jochen Rindt. Foram oito vitórias britânicas consecutivas entre 1961 e 1968: três de Jim Clark (1962, 1966 e 1967), três de Graham Hill (1963, 1964, 1965), uma de Innes Ireland (1961) e uma de Jackie Stewart (1968). Rindt foi o responsável por quebrar a sequência em 1969.
O período de sucesso se deparou com a decadência a partir de 1973: durante a classificação, o francês François Cevert perdeu o controle do carro em um dos “esses”, bateu na proteção do lado direito e ricocheteou em direção ao guardrail do lado esquerdo (que estava mal fixado), virando de rodas para o ar e se arrastando pela “lâmina” de metal por mais de 100 metros. Cevert foi decapitado, teve o seu corpo mutilado e morreu na hora.
No ano seguinte, outro piloto, o austríaco Helmuth Köinigg, faleceu após sofrer um acidente muito semelhante na curva parabólica. Os dois acontecimentos colocaram em dúvida a segurança do circuito, que passou a sofrer com as frequentes críticas dos pilotos e das escuderias.
Tentativas frustradas e declínio
A última corrida em Watkins Glen foi em 1980, vencida pelo australiano Alan Jones, da Williams, em meio a uma série de acidentes – inclusive um do francês Alain Prost. Foi a gota d’água para a F1, que passou a experimentar novas pistas nos Estados Unidos.
A primeira tentativa, de 1976 a 1983, foi o Grande Prêmio dos Estados Unidos-Oeste, realizado em Long Beach, na Califórnia, mas que não obteve o sucesso desejado e depois passou a integrar o calendário da Champ Car.
Já sem o contrato com Watkins Glen, a segunda frustração veio com o Grande Prêmio de Las Vegas, em 1981 e 1982, realizado na pista do Caesars Palace, onde Nelson Piquet conquistou o seu primeiro título mundial. O forte calor e os públicos diminutos trouxeram prejuízos para os organizadores.
Nos anos 80, mais dois circuitos foram investidos: o de Detroit, de 1982 a 1988, mas que também foi alvo de reclamações pelas condições do asfalto; e o de Fair Park, ou Grande Prêmio de Dallas, em 1984, que não agradou pelo longo trajeto.
Com isso, a Fórmula 1 ficou órfã de uma casa nos Estados Unidos, o que teve consequências em questão de visibilidade. Enquanto a Indy e a Nascar ganhavam cada vez mais popularidade no país, a F1 entrou em declínio. Nem mesmo as edições do GP de 1989 a 1991, realizadas no circuito de rua de Phoenix, e da volta de Indianápolis, em um traçado alternativo, de 2000 a 2007, salvaram a reputação.
Na realidade, as tentativas dos anos 1990 e 2000 terminaram de arranhar a imagem da categoria para o público americano. O ápice disso foi em 2005, quando apenas seis carros, que estavam equipados com os pneus Bridgestone, largaram no GP dos Estados Unidos. Todos os outros do grid, que estavam com os compostos da Michelin, foram para os boxes após a volta de apresentação e não correram. O público presente vaiou por várias vezes durante a corrida.
EUA voltam com força em 2012 na pista de Austin
O Circuito das Américas, em Austin, foi o início da virada da Fórmula 1 nos EUA. A pista foi construída pensando em receber as provas da categoria – o que já eliminou um problema recorrente dos outros circuitos utilizados no país ao longo da história. Além disso, a localização e os atrativos construídos dentro do autódromo, como a Torre de Observação, foram projetados para que houvesse uma recuperação da imagem da categoria com o público.
Como destacado pela revista Sport Business Journal em abril de 2021, a F1 se utilizou de uma série de iniciativas midiáticas para se aproximar do mercado americano. A principal delas foi a série Drive To Survive, da Netflix, que levou os bastidores e o ambiente dos paddocks para o conhecimento da audiência.
Isso passa também pela compra da Fórmula 1 pelo grupo americano Liberty Media, que adicionou visões mercadológicas, de produção audiovisual e de broadcast (distribuição de áudio e vídeo por meios de comunicação de massa) que foram fundamentais para o público dos Estados Unidos, tão acostumado aos grandes eventos promovidos pela NFL, pela NBA e pela IndyCar Series.
Verstappen pode entrar em grupo seleto no domingo
Atualmente, além do GP dos Estados Unidos, em Austin, também compõe o calendário da Fórmula 1 o GP de Miami, que foi realizado em maio deste ano e teve Max Verstappen, da Red Bull, como vencedor.
Com esta vitória, o holandês entrou em um seleto grupo de 10 pilotos que venceram corridas nos Estados Unidos em duas pistas diferentes, junto com Keke Rosberg, Carlos Reutemann, Gilles Villeneuve, Nelson Piquet, Alan Jones, Lewis Hamilton, Niki Lauda, John Watson e Michele Alboreto.
Neste fim de semana, Max tenta entrar para o grupo de pilotos que venceram duas ou mais vezes o GP dos Estados Unidos. Apenas oito dos 25 vencedores conseguiram tal feito: Lewis Hamilton (seis vezes), Michael Schumacher (cinco vezes), Graham Hill e Jim Clark (três vezes), Jackie Stewart, Carlos Reutemann, James Hunt e Ayrton Senna (duas vezes).
Também será um domingo importante para a Red Bull que pode se sagrar campeã do Mundial de Construtores, encerrando a dinastia da Mercedes que perdura desde 2014. O Grande Prêmio dos EUA será transmitido pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação na Band, no Bandplay, no Band.com.br e na BandNews FM.