O pior acidente da história do automobilismo completou 69 anos na última terça-feira (11). A tragédia, ocorrida nas 24 Horas de Le Mans, matou 83 espectadores, o piloto da Mercedes Pierre Levegh e mais de 100 pessoas ficaram feridas.
Além disso, o acidente também marcou a retirada da Mercedes de todos os campeonatos de automobilismo, até mesmo da Fórmula 1, e fez com que a Suíça, que não tinha ligação com o episódio, proibisse corridas em seu país até 2018.
A 23ª edição da tradicional 24 horas de Le Mans contava com mais de 300 mil telespectadores espalhados pelo Circuito de Sarthe e 60 carros do grid de largada. Naquela época, a segurança não era a principal preocupação dos pilotos, mas sim a velocidade. Em 1955, na grande reta de Mulsanne, que ainda não era cortada por duas chicanes, os carros já passavam de 300 km/h.
Enquanto a velocidade dos carros aumentava, o regulamento e a segurança da pista eram atualizados lentamente. O principal exemplo disso era que, naquele ano, ainda não havia procedimento definido para entrada nos boxes - um fator importante para o acidente fatal.
Antes, é preciso contar como eram as 24 Horas de Le Mans naquele ano.
Le Mans em 1955
As principais equipes da prova naquele ano eram Ferrari, Jaguar e Mercedes, as três marcas vencedoras nas edições anteriores e que vinham com carros esculpidos aerodinamicamente.
Juan Manuel Fangio, que na época ainda estava na busca por seu terceiro título na Fórmula 1, tinha como companheiro o inglês Stirling Moss, o 'campeão sem coroa', a bordo do Mercedes #19.
A dupla da Jaguar era formada por Mike Hawthorn, campeão da Fórmula 1 em 1958, e Ivor Bueb. Já a Ferrari tinha o norte-americano Phill Hill, campeão mundial de Fórmula 1 de 1961 a bordo da Ferrari #3.
Além disso, também havia uma disputa de tecnologia entre as equipes. Com o aumento de velocidade dos carros em Le Mans, a Jaguar foi a responsável pela introdução de freios a disco em seus carros em 1953, enquanto a Mercedes ainda utilizava freios a tambor. Para tentar correr atrás do prejuizo, a montadora alemã colocou um spoiler que levantava assim que freio era acionado, mas nada que se comparava a tecnologia dos D-Types.
O acidente
A disputa logo do início da prova entre Fangio e Hawthorn parecia mais uma briga pela primeira colocação em uma corrida Sprint da Fórmula 1. Isso perdurou até as três primeiras horas, mais especificamente até a volta 35, quando o inglês da Jaguar foi avisado pela equipe para ir aos boxes reabastecer.
Hawthorn conseguiu colocar dois retardatários de distância em relação a Fangio. Um deles era a outra Mercedes #20, pilotada por Pierre Levegh, e o Austin-Healey, pilotado por Lance Macklin.
Na época não exista separação entre a entrada dos boxes e a pista de corrida, bastava apenas virar a direta para fazer a parada e voltar. O inglês, então, passou a diminuir a velocidade e Macklin tentou evitar o choque e fez uma manobra brusca à esquerda.
Com isso, o piloto da Austin-Healey se colocou à frente da Mercedes de Levegh, que não conseguiu desviar e acabou decolando. O carro do francês voou por mais de 80 metros de distância e explodiu ao se chocar com o asfalto.
Com o impacto e a pirueta na sequência, peças se soltaram do carro e voaram em direção às arquibancadas. Além disso, o carro da Mercedes possuia componente de magnésio, material que quando incendiado pode passar dos 3000 °C - e não é possível apagá-lo com água.
A prova não foi interrompida. Com isso, Fangio e Moss continuaram na corrida disputando a liderança com Hawthorn e Bueb. Segundo a versão oficial dos organizadores, a prova não foi encerrada porque poderia ocasionar no congestionamento das estradas da região, já que mais de 300 mil pessoas assistiam à corrida no circuito.
Enquanto ainda se mantinha na prova em Sarthe, a Mercedes convocou uma reunião de emergência longe dali, em Stuttgart, na Alemanha, e ordenou que seus carros abandonassem a prova imediatamente, justamente quando estavam na liderança da prova, seis horas após o acidente.
A Daimler-Benz concluiu que vencer nessas a prova em solo francês em tal situação seria uma mancha no nome da empresa, ainda mais que a marca passava por um momento de reconstrução de sua imagem após a Segunda Guerra Mundial.
Fangio e Moss tinham uma vantagem de duas voltas em cima de Hawthorn e a Jaguar, que após o abandono da Mercedes herdaram a vitória das 24 Horas de Le Mans de 1955.
A saída da Mercedes do automobilismo
Além do abandono da prova em 1955, a empresa também decidiu não participar mais de competições de endurance e da Fórmula 1, o que perdurou até o final dos anos 80.
A F1 viu a última dominância da Mercedes com as Flechas de Prata e o terceiro título de Juan Manuel Fangio, além do segundo lugar de Stirling Moss no campeonato de pilotos.
O retorno da Mercedes correu de forma gradual. Em 1985, a marca já fornecia motores para os carros C8 e C9 da Sauber. A volta com uma equipe própria só ocorreu em 1989, quando firmou uma parceria com o time suíça para disputar o World Sportscar Championship - WSC, que viria a se tornar a atual WEC.
Para a Fórmula 1, a Mercedes retornou como fornecedora de motores também para a Sauber em 1994, e no ano seguinte daria início a sua vitoriosa história com a Mclaren. Somente na temporada de 2010 que as flechas de prata retornaram com uma equipe própria para a maior categoria do automobilismo mundial, ainda trazendo consigo Michael Schumacher de volta da aposentadoria. Mas isso é outra história.
As plataformas digitais da Band - Bandplay, Band.com.br e canal do Esporte na Band no YouTube - farão a transmissão na íntegra das 24 horas de corrida, a partir das 10h de sábado (15). Bandsports transmite largada, últimas voltas, pódio e outros momentos da corrida.