Tragédia nas 24 Horas de Le Mans de 1955 fez Mercedes abandonar corridas

Acidente deixou 84 pessoas mortas, mais de 100 feridos e mudou a história do automobilismo

Por Gabriel Alberto

Tragédia nas 24 Horas de Le Mans de 1955 fez Mercedes abandonar corridas
Tragédia nas 24 Horas de Le Mans de 1955 fez Mercedes largar o mundo da corridas
Arquivo Mercedes-Benz

O pior acidente da história do automobilismo completou 69 anos na última terça-feira (11). A tragédia, ocorrida nas 24 Horas de Le Mans, matou 83 espectadores, o piloto da Mercedes Pierre Levegh e mais de 100 pessoas ficaram feridas. 

Além disso, o acidente também marcou a retirada da Mercedes de todos os campeonatos de automobilismo, até mesmo da Fórmula 1, e fez com que a Suíça, que não tinha ligação com o episódio, proibisse corridas em seu país até 2018.

A 23ª edição da tradicional 24 horas de Le Mans contava com mais de 300 mil telespectadores espalhados pelo Circuito de Sarthe e 60 carros do grid de largada. Naquela época, a segurança não era a principal preocupação dos pilotos, mas sim a velocidade. Em 1955, na grande reta de Mulsanne, que ainda não era cortada por duas chicanes, os carros já passavam de 300 km/h. 

Enquanto a velocidade dos carros aumentava, o regulamento e a segurança da pista eram atualizados lentamente. O principal exemplo disso era que, naquele ano, ainda não havia procedimento definido para entrada nos boxes - um fator importante para o acidente fatal.

Antes, é preciso contar como eram as 24 Horas de Le Mans naquele ano.

Le Mans em 1955 

As principais equipes da prova naquele ano eram Ferrari, Jaguar e Mercedes, as três marcas vencedoras nas edições anteriores e que vinham com carros esculpidos aerodinamicamente. 

Juan Manuel Fangio, que na época ainda estava na busca por seu terceiro título na Fórmula 1, tinha como companheiro o inglês Stirling Moss, o 'campeão sem coroa', a bordo do Mercedes #19. 

A dupla da Jaguar era formada por Mike Hawthorn, campeão da Fórmula 1 em 1958, e Ivor Bueb. Já a Ferrari tinha o norte-americano Phill Hill, campeão mundial de Fórmula 1 de 1961 a bordo da Ferrari #3.

Além disso, também havia uma disputa de tecnologia entre as equipes. Com o aumento de velocidade dos carros em Le Mans, a Jaguar foi a responsável pela introdução de freios a disco em seus carros em 1953, enquanto a Mercedes ainda utilizava freios a tambor. Para tentar correr atrás do prejuizo, a montadora alemã colocou um spoiler que levantava assim que freio era acionado, mas nada que se comparava a tecnologia dos D-Types. 

O acidente 

A disputa logo do início da prova entre Fangio e Hawthorn parecia mais uma briga pela primeira colocação em uma corrida Sprint da Fórmula 1. Isso perdurou até as três primeiras horas, mais especificamente até a volta 35, quando o inglês da Jaguar foi avisado pela equipe para ir aos boxes reabastecer. 

Hawthorn conseguiu colocar dois retardatários de distância em relação a Fangio. Um deles era a outra Mercedes #20, pilotada por Pierre Levegh, e o Austin-Healey, pilotado por Lance Macklin. 

Na época não exista separação entre a entrada dos boxes e a pista de corrida, bastava apenas virar a direta para fazer a parada e voltar. O inglês, então, passou a diminuir a velocidade e Macklin tentou evitar o choque e fez uma manobra brusca à esquerda. 

Com isso, o piloto da Austin-Healey se colocou à frente da Mercedes de Levegh, que não conseguiu desviar e acabou decolando. O carro do francês voou por mais de 80 metros de distância e explodiu ao se chocar com o asfalto. 

Com o impacto e a pirueta na sequência, peças se soltaram do carro e voaram em direção às arquibancadas. Além disso, o carro da Mercedes possuia componente de magnésio, material que quando incendiado pode passar dos 3000 °C - e não é possível apagá-lo com água. 

A prova não foi interrompida. Com isso, Fangio e Moss continuaram na corrida disputando a liderança com Hawthorn e Bueb. Segundo a versão oficial dos organizadores, a prova não foi encerrada porque poderia ocasionar no congestionamento das estradas da região, já que mais de 300 mil pessoas assistiam à corrida no circuito.

Enquanto ainda se mantinha na prova em Sarthe, a Mercedes convocou uma reunião de emergência longe dali, em Stuttgart, na Alemanha, e ordenou que seus carros abandonassem a prova imediatamente, justamente quando estavam na liderança da prova, seis horas após o acidente.

A Daimler-Benz concluiu que vencer nessas a prova em solo francês em tal situação seria uma mancha no nome da empresa, ainda mais que a marca passava por um momento de reconstrução de sua imagem após a Segunda Guerra Mundial. 

Fangio e Moss tinham uma vantagem de duas voltas em cima de Hawthorn e a Jaguar, que após o abandono da Mercedes herdaram a vitória das 24 Horas de Le Mans de 1955. 

A saída da Mercedes do automobilismo 

Além do abandono da prova em 1955, a empresa também decidiu não participar mais de competições de endurance e da Fórmula 1, o que perdurou até o final dos anos 80. 

A F1 viu a última dominância da Mercedes com as Flechas de Prata e o terceiro título de Juan Manuel Fangio, além do segundo lugar de Stirling Moss no campeonato de pilotos. 

O retorno da Mercedes correu de forma gradual. Em 1985, a marca já fornecia motores para os carros C8 e C9 da Sauber. A volta com uma equipe própria só ocorreu em 1989, quando firmou uma parceria com o time suíça para disputar o World Sportscar Championship - WSC, que viria a se tornar a atual WEC.

Para a Fórmula 1, a Mercedes retornou como fornecedora de motores também para a Sauber em 1994, e no ano seguinte daria início a sua vitoriosa história com a Mclaren. Somente na temporada de 2010 que as flechas de prata retornaram com uma equipe própria para a maior categoria do automobilismo mundial, ainda trazendo consigo Michael Schumacher de volta da aposentadoria. Mas isso é outra história. 

As plataformas digitais da Band - Bandplay, Band.com.br e canal do Esporte na Band no YouTube - farão a transmissão na íntegra das 24 horas de corrida, a partir das 10h de sábado (15). Bandsports transmite largada, últimas voltas, pódio e outros momentos da corrida.


 

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