Árbitra brasileira diz que trio feminino na Copa é 'o início de uma nova era'

Para Edina Alves, lance do gol da Alemanha que a bandeirinha brasileira Neuza Back anulou e o VAR confirmou era muito difícil

Paulo Guilherme Guri

A árbitra Edina Alves (à direita) e a assistente Neuza Back Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação
A árbitra Edina Alves (à direita) e a assistente Neuza Back
Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação

A árbitra Edina Alves Batista considera que a presença da assistente Neuza Back no primeiro trio de arbitragem totalmente formado por mulheres na partida entre Alemanha e Costa Rica (vitória alemã por 4 a 2) disputada nesta quinta-feira (1º) foi “o início de uma nova era” para a arbitragem feminina. Edina Alves Batista também é árbitra Fifa e atuou na Copa do Mundo feminina disputada em 2019 tendo Neuza Back como sua assistente.

Neuza foi uma das bandeirinhas e ela chegou a assinalar impedimento no quarto gol da Alemanha. Após consulta ao VAR, o gol foi validado pela árbitra francesa Stephanie Frappart. Neuza é perfeccionista no que faz, segundo Edina, e treinou muito para acertar todos os lances nesta Copa. Mas a disputa do olho humano contra as dezenas de câmeras e alta tecnologia do árbitro de vídeo é injusta.

“Foi um lance muito difícil, uma jogada do outro lado em que o atacante da Alemanha entra. Não tem como ter precisão”, comentou Edina em entrevista ao blog. “Quantas vezes um jogador não erra um gol? Até o Messi perdeu pênalti nessa Copa. Existe a visão que a arbitragem tem que ser perfeita, que não pode errar nada.”

Edina e Neuza Back atuaram no Mundial de Clubes disputado no Catar. Elas se conhecem desde 2008, quando apitaram uma partida do Campeonato Catarinense. Hoje, dividem apartamento em Jundiaí, são árbitras da Federação Paulista de Futebol, da CBF e da Fifa. Em entrevista ao Blog do Guri, Edina falou da importância deste momento para a arbitragem feminina e o lance polêmico da partida envolvendo a assistente brasileira.

Blog do Guri - O que representa para a arbitragem feminina essa atuação de um trio de mulheres em uma Copa do Mundo masculina?

Edina Alves - É o início de uma nova era. Desde que o Pierluigi Colina assumiu a arbitragem da Fifa ele veio trabalhando essa ideia. Árbitro é árbitro, homem ou mulher, todos estão aptos para atuar. E é importante ver as guerreiras lá.

Blog do Guri - Você também foi cotada a trabalhar nesta Copa?

Edina Alves - Tinha a possibilidade de ir sim, mas o importante é que o Brasil está bem representado com a Neuza.

Blog do Guri - O que você achou da atuação dela no jogo? Teve o gol da Alemanha que ela anulou e o VAR validou.

Edina Alves - Foi um jogo difícil, e muito disputado, Uma partida emocionante, com lances difíceis de marcar. A tecnologia veio para ajudar o futebol. 

Blog do Guri - Como é a relação das árbitras com os jogadores dentro de campo?

Edina Alves - É de um respeito mútuo. Não tenho o que reclamar. O respeito comigo e com a Neuza é muito grande. Ela tem um índice de acertos muito alto. Ela foi por duas vezes a melhor assistente do Campeonato Paulista e já ganhou também como a melhor do Brasileirão. 

Blog do Guri - Para apitar jogo de Copa do Mundo precisa passar por algum teste?

Edina Alves - Sim, a gente precisa dar dez voltar em uma pista de 400 metros dividida em quatro tiros de 75 metros correndo e 25 metros de recuperação. Tem de correr 75 metros em 15 segundo e os 25 metros restantes em 18 segundos. Tem provas que é 15 por 15. Para esta Copa, a Neuza treinou duas vezes por dia, fez aulas de inglês, espanhol e alemão. Eu também treino com personal, fisioterapeuta e uma equipe de suporte. Em 2018, a gente decidiu dividir apartamento em Jundiaí (SP) para treinar bem perto do centro esportivo da cidade, o Bolão, para nos dedicarmos ao máximo à arbitragem.

Blog do Guri - E vocês têm fãs?

Edina Alves - Temos sim, no último jogo do Brasileiro tinha uma menina com o pai esperando para tirar foto comigo. Os jogadores saíram ao mesmo tempo mas ela queria tirar foto com a árbitra. Em um jogo do Ceará também tinha uma menina especial que adora ver os jogos que eu apito. O pai falou que ela sempre pergunta que jogo eu vou apitar. 

Blog do Guri - Que dicas você daria para outras mulheres que queiram entrar na arbitragem?

Edina Alves - É importante fazer o curso de arbitragem da federação local. A Federação Paulista de Futebol abriu inscrições para seu curso que leva seis meses. Quem se formar pode começar em seguida a trabalhar em jogos das categorias de base e ir subindo. Para ser árbitra da Conmebol ou da Fifa é preciso ter curso superior. Eu sou formada em Educação Física pela Unipar, de Umuarama (PR).

Blog do Guri - Em 2023 a Fifa vai promover a Copa do Mundo feminina, que terá sede dividida entre Austrália e Nova Zelândia. Vocês têm chances de serem chamadas?

Edina Alves - Temos sim, nossa expectativa é muito grande. A convocação sairá agora em dezembro. Já apitei quatro jogos da Copa do Mundo feminina de 2019 e sei que jogo grande assim não é fácil.

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