Seleção: quem foi bem, quem foi mal, e a insistência em erros do passado

Brasil perde pela quinta vez para uma seleção da Europa e parece que não aprende com as falhas de outros Mundiais

Paulo Guilherme Guri

Copa de 2022 encerra o ciclo para alguns jogadores do Brasil Annegret Hilse/Reuters
Copa de 2022 encerra o ciclo para alguns jogadores do Brasil
Annegret Hilse/Reuters

Já são cinco derrotas seguidas para seleções europeias em mata-matas de Copa do Mundo desde o penta de 2002, e o Brasil segue em um aprendizado sem fim com seus próprios erros. Vamos fazer uma retrospectiva aqui das principais falhas do passado e do que podemos aprender, se é que a gente aprendeu alguma coisa.

Copa de 2006

O que rolou: Brasil foi eliminado pela França nas quartas de final

Erros: Elenco pouco blindado, muita festa e pouca organização na preparação do time, soberba, jogadores acima do peso achando que decidiriam só pelo talento, e na hora de decidir, a Seleção foi engolida pelo talento de Zidane. Faltou tranquilidade e força para reagir quando levou o gol.

Comparação com 2022: Não teve problemas de organização e de preparação física, embora o time pareceu cansado contra a Croácia. Alguns jogadores viram que o talento não seria suficiente. Só Neymar conseguiu fazer a diferença. Na hora de decidir, a Seleção foi engolida pelo talento de Modric. E faltou tranquilidade para reagir na hora dos pênaltis.

Copa de 2010

O que rolou: Brasil foi eliminado pela Holanda nas quartas de final

Erros: Elenco blindado demais, falta de talentos no time, nervosismo na hora de decidir e falta de tranquilidade e força para reagir quando levou os gols da Holanda.

Comparação com 2022: O elenco seguiu blindado e bem longe da realidade. Ao contrário da rigidez de Dunga em 2010, Tite foi bem paizão. Até demais. Faltou chamar mais os jovens para a seriedade do momento. Rodrygo aparecer com cabelo pintado igual ao Neymar para jogar contra a Croácia foi um claro sinal disso. E mais uma vez faltou tranquilidade depois que sofreu o gol.

Copa de 2014

O que rolou: Brasil levou de 7 a 1 da Alemanha na semifinal e perdeu a decisão do terceiro lugar para a Holanda.

Erros: Elenco assustado com a responsabilidade de jogar em casa, cada jogador com medo de errar e ser considerado culpado, muita dependência a Neymar, falta de variedade no esquema tático, time fácil de ser marcado. Falta de comando do treinador (Felipão) sobre o time, escalação equivocada. E de novo, falta de tranquilidade e força para reagir quando levava gol.

Comparação com 2022: A dependência de Neymar diminuiu, os jogadores passaram a dividir a responsabilidade, mas isso não foi suficiente. Contra a Croácia, só Neymar foi capaz de criar uma jogada para furar a forte defesa adversária. Falta de comando de Tite sobre o time, escalação e substituições equivocadas. E de novo, faltou tranquilidade e força para reagir quando a Croácia empatou e a decisão foi para os pênaltis.

Copa de 2018

O que rolou: Brasil perdeu para a Bélgica por 2 a 1 nas quartas de final e foi eliminado

Erros: Não teve "Neymardependência", mas teve “Casemirodependência”. O volante não jogou contra a Bélgica por estar suspenso e a marcação do time no meio-de-campo se perdeu. E levou um gol de contra-ataque que foi fatal. Desta vez o time teve mais tranquilidade e força para reagir quando levou o segundo gol da Bélgica. Fez um gol, com Renato Augusto, e quase fez o segundo, novamente com ele. 

Comparação com 2022: Mais uma vez o Brasil levou um gol de contra-ataque que foi fatal. O pior agora é que não tinha a menor necessidade de os jogadores estarem todos no ataque com a defesa toda desarrumada quando o time vencia por 1 a 0 e faltava quatro minutos para a partida terminar. Faltou maturidade, força física, malandragem. Não faltou ter Casemiro e nem Neymar.

E agora?

Tite já deixou o comando da Seleção Brasileira, um novo treinador vai precisar com calma reavaliar os jogadores utilizados e saber preparar uma boa equipe para o próximo ciclo. Thiago Silva, Daniel Alves e talvez Neymar não estarão na próxima Copa, em 2026. E o Brasil tem uma oportunidade será o ciclo olímpico com os Jogos de 2024 em Paris.

Quem foi bem, quem foi mal

Alisson: É um grande goleiro, mas em duas Copas do Mundo não foi capaz de fazer a diferença. Será lembrado pelas boas defesas no jogo contra a Coreia do Sul que, no fundo, não foram tão decisivas. Goleiro de Copa do Mundo vai ter um momento que terá de mostrar que, sem ele, o resultado seria outro. Alisson nunca conseguiu fazer isso. Leão fazia. Taffarel também, assim como Marcos. É hora de dar a vez a outro goleiro.

Ederson:: O goleiro reserva mostrou mais personalidade quando entrou contra Camarões. Pode ser o substituto natural de Alisson.

Weverton: Merecia ser o titular nessa Copa por tudo o que jogou pelo Palmeiras os últimos anos. Sempre se mostrou um goleiro de decisão, inclusive quando assumiu às pressas o gol da seleção olímpica em 2016. Na época, era goleiro do Athletico-PR. Mas, pela idade, talvez não chegue a 2026.

Danilo: Foi um bom marcador, ajudou a fechar a defesa. Mas está na hora de o Brasil achar um lateral mais completo.

Daniel Alves: Se foi para a Copa por causa de sua experiência, deveria ter entrado na prorrogação contra a Croácia. Se não entrou nem em uma situação dessas, depois que Militão sentiu cãimbras, é porque não deveria ter ido para a Copa, nem por causa de sua experiência.

Thiago Silva: Fez mais uma Copa do Mundo brilhante até o Brasil sofrer o gol que eliminou a Seleção. O mesmo roteiro, a mesma história. É um grande zagueiro mas, assim como Alisson, não fez a diferença quando deveria.

Marquinhos: Pode usar o jogo contra a Croácia para crescer como combustível para virar um grande líder da nova geração. Vai precisar de força mental para isso. Futebol ele tem.

Eder Militão: Jogou bem quando improvisado na lateral. Deve continuar.

Bremer: Uma grande surpresa. Quando entrou, mostrou muita personalidade. Outro que merece seguir.

Alex Sandro: Jogou bem na estreia contra a Sérvia, depois se machucou e entrou na roubada na prorrogação contra a Croácia. Estava na lateral direita no lance do gol dos croatas, mostrando a bagunça que o time virou naquele momento. É bom jogador, mas também é preciso achar um lateral melhor.

Alex Telles: Quando teve a chance de ser titular se machucou. 

Casemiro: É sem dúvida o principal jogador da Seleção. O que cobrou pênalti com mais personalidade. Está na hora de pegar a faixa de capitão para si e virar um novo Dunga (no sentido da liderança).

Fabinho: Foi passear no Catar. Deveria ter entrado na prorrogação para ajudar a fechar a defesa, mas o Tite adora o Fred.

Bruno Guimarães: Começou bem, mas os gols perdidos contra Camarões pesaram. Pode virar titular nas próximas competições.

Lucas Paquetá: Fez uma boa Copa até o jogo contra a Croácia, quando foi muito mal. Deve jogar mais avançado, e não como segundo volante. E precisa ter mais brio se quiser continuar.

Fred: Um titular que perdeu a posição. E que quando entra para ajudar a fechar a defesa vai parar na ponta-direita de um jogo que está ganho. Não justifica ter sido convocado para duas Copas.

Neymar: Injustiçado. Merecia uma história melhor em Copas do Mundo porque nunca fugiu da responsabilidade, sempre deu a cara para bater e lutou até o último lance. Mostrou talento em 2014, 2018 e 2022. Mas sai marcado como o melhor cobrador de pênaltis do mundo que não cobrou o pênalti para o Brasil quando o time mais precisava. Vai ter de conviver comigo. Acho que fará mais uma Copa, em 2026.

Everton Ribeiro: Foi sempre a última opção de Tite. Colocou uma Copa no currículo, mas será pouco lembrado por isso.

Raphinha: Se perdeu no nervosismo e na ansiedade. É bom jogador, merece uma nova oportunidade, mas nessa Copa foi um desastre.

Richarlison: Encantou o mundo com sua atuação na estreia contra a Sérvia e o golaço de voleio. Mas não tem futebol para justificar ser o novo líder do time. Caiu de produção ao longo da Copa.

Vinicius Junior: Vai ser o nome da nova geração, fez uma boa Copa e mostrou personalidade para seguir adiante.

Anthony: Foi melhor que Raphinha quando entrou. Mas precisa jogar mais para o time. Deve seguir.

Pedro: Lutou quando esteve em campo, mostrou personalidade para cobrar pênalti. Pode ter outras chances na Seleção.

Martinelli: Jogou muito bem contra Camarões, quando o jogo não exigia nenhuma responsabilidade. Mas precisa amadurecer muito.

Gabriel Jesus: Duas Copas, 525 minutos jogados, apenas uma assistência e nenhum gol. Tem idade para ter outras chances, mas esse peso é muito grande para carregar.

Rodrygo: Não perdeu só o pênalti, como perdeu uma grande oportunidade de mostrar que é o Rodrygo da Seleção, e não um clone de Neymar com cabelo platinando para imitar o ídolo. Que sirva de lição. Merece outras oportunidades.

Tite: Antes dele, só Telê Santana teve uma segunda chance para dirigir a Seleção em uma Copa do Mundo sem ter sido campeão na primeira vez. Telê é lembrado até hoje pelo futebol que encantou o mundo, mesmo sem ganhar nada. Tite será lembrado pelo técnico que guardou Neymar para cobrar o quinto pênalti, que nunca chegou…

Mais notícias

Carregar mais