Jornalista, amante do jogo explicado por números e estatísticas e apreciador do bom futebol; do "tiki taka" à licença poética do chutão.
O gol. Explosão de prazer. O momento mais importante do futebol. Mas parece que comemorar agora é errado por aqui. Raniel foi o autor do gol de empate do Vasco no difícil jogo contra o Sport, na Ilha do Retiro. Um gol suado, nos minutos finais que merecia ser extravasado. E assim, foi. Raniel tirou a camisa, pulou a placa e correu em direção à torcida organizada do time pernambucano, com as mãos no ouvido. E tá tudo certo! O camisa 9 não fez gesto obsceno, não pisou em escudo, não fez absolutamente nada que justificasse a barbárie que a torcida rubro-negra protagonizou nos momentos seguintes. Aliás, esse tipo de selvageria é injustificável em qualquer hipótese.
Quantas vezes Gabigol correu para a torcida adversária e provocou ou Romário pediu silêncio depois de marcar? Peraí! Edmundo rebolou, Thiago Neves fez “creu”, Deyverson criou dança tiktok. E não teve invasão de torcedores, arremesso de chinelo...
Só que a súmula do árbitro Raphael Claus relatou que o atacante Raniel levou um cartão amarelo por tirar a camisa – o que está certo – e outro amarelo por provocar a torcida adversária; o que é um absurdo. Isso praticamente dá anuência para aqueles que invadiram o campo e agrediram os bombeiros no gramado, inclusive bateram covardemente em uma mulher.
Erra e erra feio quem culpa Raniel pela barbárie da Ilha do Retiro. Isso é transferência de responsabilidade. A confusão não aconteceu por causa do atacante vascaíno. Muita gente pode estar esquecendo, mas Raniel começou a carreira no Santa Cruz e já tinha essa rivalidade com o torcedor do Leão. O cara levou vaia o jogo todo e é natural ele colocar as mãos no ouvido, como quem diz: “fala agora!”. Faz parte do jogo ser o perdedor e engolir a seco o gol do atacante adversário que você pegou no pé a partida toda.
Do contrário, haverá de chegar o tempo em que o jogador pedirá perdão pelo ato impróprio de balançar as redes.