Entre torcedores e nas redes sociais, foi iniciado o debate em relação ao objeto religioso usado pelo astro brasileiro. Afinal, Neymar pode usar um crucifixo na Arábia Saudita? Caso não, ele pode ser preso pelo ato?
O Band.com.br ouviu Danny Zahreddine, professor de Relações Internacionais da PUC Minas e líder do Grupo de Estudo Oriente Médio e Magreb do CNPq (GEOMM), para entender o que pode acontecer com Neymar e se o caso poderia resultar em prisão.
Primeiro, o especialista explicou como funciona a lei para religião na Arábia Saudita.
A Arábia Saudita é um país islâmico. Neste contexto, por ser o berço do islã, as principais cidades sagradas, Meca e Medina, estão na Arábia Saudita, nós consideramos o regime monárquico de lá como talvez um dos mais conservadores do mundo. Na Arábia Saudita, não existe conversão, e isso mostra como aquele regime lida com a questão da diversidade religiosa. Por outro lado, o país tem passado por um processo de abertura relativa. É possível que um cidadão que não seja muçulmano viva na Arábia Saudita, é possível ele ter uma bíblia. Então existe a tolerância religiosa em um contexto particular, privado e doméstico - Danny Zahreddine.
“O que não pode, e é passível de prisão, é a chegada de um grupo religioso na Arábia Saudita com a intenção de conversão. Toda religião que vá para lá com o intuito de converter pessoas, essas pessoas serão presas”, explicou o professor da PUC Minas.
Neymar pode ser preso?
Em contato com a reportagem, o membro do Grupo de Estudo Oriente Médio e Magreb do CNPq disse que Neymar dificilmente seria preso pela manifestação religiosa. Na visão do especialista, a presença do craque no país e esses pequenos gestos podem ser parte de uma campanha para uma Arábia mais tolerante.
No caso do Neymar, primeiro: é uma figura internacional muito importante. Segundo: ele vai auxiliar o país na sua abertura para o mundo, no sentido de mostrar uma Arábia Saudita mais tolerante, mais conectada com o internacional, com o futebol. E terceiro: pode-se ter a alegação de que ele usa aquele símbolo não com o intuito de buscar converter as pessoas, mas sim no sentido privado e particular - Danny Zahreddine.
Neymar e outros craques teriam privilégios?
Outro ponto que foi levantado pelo professor da PUC Minas é o fato de que Neymar e outros craques que agora estão na Liga Saudita possam receber um tratamento mais permissivo do governo por serem figuras públicas.
Ele propõe uma reflexão e questiona se o tratamento seria igual para um cidadão comum.
"Com certeza aquilo [Neymar aparecer com um crucifixo] é um problema. Por quê? Porque eu não sei se outras pessoas que andassem com um crucifixo à mostra, como ele, não seriam repreendidas. No ponto de vista da vida particular e doméstica, as pessoas podem ter um crucifixo em casa, podem ter uma bíblia. Mas, de maneira ostensiva, nas ruas, andando com outros símbolos que não do mundo islâmico, que não aceita nenhum tipo de simbologia, objeto, eu não sei se outra pessoa teria um tratamento diferente", explica o professor.