
Em entrevista exclusiva para o Band.com.br, os campeões do mundo Denílson e Ricardo Rocha comentaram o atual momento da Seleção Brasileira nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026 e analisaram a atual geração de jogadores do Brasil.
Com o Brasil em sexto nas Eliminatórias, cresce a preocupação de que a Seleção Brasileira possa sofrer até o final para garantir uma vaga na Copa do Mundo, assim como aconteceu em 94 e 2002, onde o Brasil se classificou na última rodada nas duas ocasiões.
Campeão em 94, Ricardo Rocha destacou a diferença de experiência de sua geração com a Seleção atual ao comparar os dois momentos do Brasil.
"Essa é uma Seleção com muito jogadores jovens, se formando. Não dá para comparar com a Seleção de 94 porque tínhamos muitos jogadores experientes e agora são muitos garotos. Para você ter uma ideia, houve sofrimento e tudo mais na classificação, mas era um time mais maduro, experiente. Pelo menos 10 jogadores daquela Seleção jogaram a Copa de 90. Então, era um time mais maduro, mais forte psicologicamente e até taticamente”, disse Ricardo Rocha.
Já Denílson lembra que, apesar da pressão sofrida pelos jogadores nas Eliminatórias para a Copa de 2002, os jogadores estavam confiantes de que conseguiria a vaga na Copa.
“A gente foi se classificar lá no finalzinho, com gols do Luizão, Rivaldo, Edilson, que foram protagonistas nessa classificação. Mas como a gente ganhou, a gente acaba tendo uma lembrança positiva. Mas a lembrança que eu tenho desse período de muita pressão era a confiança que o time tinha, um time muito fechado”, destacou o pentacampeão.
Seleção bagunçada
Com muita indefinição sobre o treinador da Seleção Brasileira, a CBF começou o ano com Ramon Menezes e depois optou por deixar Fernando Diniz, de forma interina, no comando do Brasil.
A decisão não agradou a Ricardo Rocha e Denílson, que acreditam que as dúvidas sobre o comando da Seleção estão atrapalhando o futebol apresentado.
“A gente não tem treinador fixo, porque para mim o Fernando Diniz é interino, a gestão não tem um responsável pelas seleções, pelos departamentos dentro da CBF e aí fica essa imagem de que é um futebol desorganizado”, apontou Denílson.
“Acho que tudo o que o Tite fez junto com toda a comissão, todo o trabalho, essa gestão de agora está jogando por terra. Não estou falando nem de resultado, estou falando de construção de uma ideia”, afirmou o comentarista do Jogo Aberto, que concluiu – “Foi um ano jogado fora”
Já Ricardo Rocha cobra que a CBF contrate um diretor de futebol para auxiliar Diniz e ajudar na definição do próximo treinador definitivo da Seleção.
“Está muito bagunçado, precisa ter um diretor de futebol e precisa de mais gente para ajudar o presidente, ajudar o próprio Diniz. Pessoas experientes e tem muitas pessoas boas por aí que podem ajudar”, disse Ricardo Rocha.
“São muitas dúvidas e isso pode pesar na cabeça dos jogadores. Porque eles não sabem se fica o Diniz, se não fica, se vem o Ancelotti ou não vem”, concluiu o tetracampeão.
Marcas negativas
Com Diniz no comando, a Seleção Brasileira tem acumulado marcas negativas. Pela primeira vez o Brasil sofreu três derrotas consecutivas e perdeu pela primeira vez dentro de casa, além de ter sofrido a sua primeira derrota para a Colômbia nas Eliminatórias.
Mas, nas Eliminatórias para a Copa de 94, a Seleção Brasileira também sofreu com uma marca negativa, lembrada por Ricardo Rocha.
“A Seleção de 94 perdeu o primeiro jogo do Brasil nas Eliminatórias e deu a volta por cima. Nós fomos esculachados no Brasil, primeiro em 90 e depois por perder da Bolívia por 2 a 0, em La Paz, na altitude, mas demos a volta por cima. Então, eu acho o seguinte, o Brasil tem uma chance de reformulação, como teve na nossa geração, e tem que saber aproveitar”, comentou o ex-jogador.

Brasil vai sofrer nas Eliminatórias?
Após seis rodadas disputadas, a Seleção Brasileira está na sexta colocação, com dois pontos a mais que Paraguai e Chile.
Questionados sobre a possibilidade de o Brasil repetir as Seleções de 2002 e 94, que sofreram até o final para garantirem uma vaga na Copa, Ricardo Rocha afirmou ser possível, mas que seria uma vergonha.
“Sofrer, pode. Mas é claro que para a gente vai ser uma vergonha. Temos que pensar que agora classificam seis seleções e mais uma que vai para a repescagem. Antes eram quatro e mais uma na repescagem. Então, teoricamente, agora é muito mais fácil”, destacou Ricardo Rocha.
Percepção sobre a Seleção Brasileira precisa mudar?
Tendo participado de uma Seleção Brasileira que ficou conhecida por ter muitos jogadores que praticavam um futebol bonito e que ajudou a perpetuar uma imagem de beleza para o futebol brasileiro, Denílson apontou que, talvez, o torcedor precise mudar a forma que enxerga a Seleção.
“Não é a nossa cabeça que precisa mudar? Parar de pensar um pouco no que foi feito em outras gerações e tentar aceitar a nossa realidade?”, questionou Denílson, que explicou “Será que nós também não estamos nos equivocando em pensar no talento e no show que outras seleções, de outras épocas, deram? Porque a geração atual não tem esse brilho”.
“A realidade que nós temos hoje é a de um time mais aguerrido, um time que não vai dar tanto show assim, mas vai lutar até o final”, concluiu Denílson.
A Seleção Brasileira volta a jogar pelas Eliminatórias só em setembro de 2024, enfrentando o Equador, em casa, no dia 5, e o Paraguai no dia 10, em Assunção.
Antes, em março, a Seleção Brasileira terá um amistoso contra a Espanha, ainda sem data definida, e enfrenta a Inglaterra no dia 23 do mesmo mês, no estádio de Wembley.