Ricardo Rocha relembra como título pernambucano inspirou o Brasil rumo ao tetra

Xerife da Seleção Brasileira conta como gesto no Santa Cruz virou símbolo do Brasil na campanha da Copa de 94: a entrada do time de mãos dadas em campo

Por Rodrigo Lima

Ricardo Rocha relembra como título pernambucano inspirou o Brasil rumo ao tetra
Seleção Brasileira de mãos dadas no Arruda
Reprodução / CBF

Na próxima sexta-feira, 8 de setembro, a Seleção Brasileira vai começar mais um ciclo de Copa do Mundo, abrindo as Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026, contra a Bolívia, no Estádio do Mangueirão, em Belém, no Pará.

E em entrevista exclusiva para o Band.com.br, o tetracampeão Ricardo Rocha relembrou um confronto histórico do Brasil contra a Bolívia, no dia 29 de agosto de 1993 - há exatos 30 anos - também pelas eliminatórias. Na ocasião, a Seleção Brasileira venceu por 6 a 0 e arrancou para a conquista da Copa do Mundo de 1994, em um jogo que ficou marcado pela entrada dos jogadores de mãos dadas - gesto que se tornou símbolo do time pelos próximos cinco anos.

Momento da Seleção em 1993 e 1ª derrota nas eliminatórias:

A Seleção Brasileira vivia um momento difícil. Eliminada nas oitavas da Copa do Mundo de 1990 e nas quartas da Copa América de 1993, pela Argentina, nas duas ocasiões, e caminhando para o seu maior jejum sem uma conquista de um mundial: 24 anos.

Nas eliminatórias, o Brasil estreou com um empate contra o Equador e perdeu, na sequência, para a Bolívia, por 2 a 0, em La Paz. Essa foi a primeira derrota da Seleção Brasileira na história das Eliminatórias da Copa do Mundo, encerrando uma série invicta de 38 anos.

Após essa derrota, o Brasil jogou mais três jogos, com duas vitórias e um empate, até reencontrar a Bolívia, no Recife, no dia 15 de agosto de 1993.

“Foi um momento difícil. Primeiro porque o Brasil nunca tinha perdido uma partida de eliminatória e perdeu para a própria Bolívia, em La Paz. Então tinha muita pressão. Nós jogamos outros jogos depois, mas tinha aquela lembrança”, disse Ricardo Rocha sobre o momento da Seleção Brasileira para enfrentar a Bolívia no segundo turno.

“Era uma pressão muito grande também por ter perdido na Copa de 90 e chegamos muito pressionados naquele jogo. Eu sempre falo que, aquele jogo (contra a Bolívia), foi uma arrancada para o título Mundial (em 94)”, completou o ex-zagueiro de São Paulo, Vasco, Flamengo e Real Madrid.

Antes do jogo contra a Bolívia, o Brasil venceu o Equador, por 2 a 0, no Morumbi, mas foi vaiado pela torcida que ainda não se encantava pelo futebol apresentado e as decepções recentes. Mas, no Recife, palco do confronto contra a Seleção Boliviana, tudo mudou.

“Eu sou de Recife e joguei no Recife. Então, eu fiz um apelo, tenho muitos amigos em jornais e na TV, então fiz um apelo para que a torcida nos apoiasse, que precisávamos do carinho do torcedor”, revelou Ricardo Rocha.

“Quando a gente chegou, já de noite, o aeroporto estava lotado e aquilo marcou muito. Em nenhum momento a gente tinha recebido um carinho como aquele ainda. Então, aquilo ali foi o início de uma coisa boa para a gente”, relembrou o Xerife, como era conhecido Ricardo Rocha.

Inspiração para as mãos dadas:

Além da recepção da torcida, outra coisa marcou a campanha da Seleção Brasileira naquela partida contra a Bolívia, no Estádio do Arruda, casa do Santa Cruz, clube que revelou Ricardo Rocha para o futebol.

Na entrada em campo, os atletas do Brasil surgiram no gramado de mãos dadas, gerando uma grande euforia da torcida e o símbolo foi adotado para todos os jogos da Seleção até 1998, quando Vanderlei Luxemburgo assumiu o comando técnico do Brasil.

O gesto foi uma ideia de Ricardo Rocha, mas a inspiração veio de 10 anos antes, no mesmo Estádio do Arruda, quando o Xerife defendia as cores do Santa Cruz.

“Eu comecei no Santa Cruz e, em 1983, com um time mais fraco, nós ganhamos o tri-supercampeonato pernambucano. O Sport ganhou um turno, o Náutico ganhou um turno e o Santa ganhou outro. E na fase final, o time mais fraco era o nosso, o Náutico e o Sport eram melhores, mas demos a volta por cima e, na grande final, entramos de mãos dadas”, relembra Ricardo Rocha.

“Então, você vê, 10 anos depois, a Seleção Brasileira também pressionada, fomos jogar no mesmo estádio onde eu nasci, fui criado e que eu sou torcedor (do Santa Cruz). Ai, no aquecimento, eu lembrei das mãos dadas e falei com o Parreira para ele conversar com a turma, o Ricardo Gomes, o Branco, uns três, quatro, para a gente entrar de mãos dadas. Então, aquelas mãos dadas começaram em Recife”, contou o Xerife.

Com a bola rolando, foi um passeio da Seleção Brasileira. Com gols de Raí, Müller, Bebeto, Branco, Ricardo Gomes e Bebeto, o Brasil goleou por 6 a 0, sendo cinco só no primeiro tempo, contra uma Bolívia histórica, que ficou em segundo nas eliminatórias e disputou a Copa de 94.

“Era a melhor Bolívia de todos os tempos, a Seleção Bolívia era difícil, era um time muito bom. Mas sabe aquela noite em que dá tudo certo? Foi aquele jogo. Ninguém acreditaria que no primeiro tempo estaria 5 a 0, foi um espetáculo”, afirmou Ricardo Rocha.

Após a vitória contra a Bolívia, a Seleção Brasileira garantiu a classificação para a Copa de 94 como primeira colocada nas eliminatórias e, no Estados Unidos, conquistou o tetracampeonato mundial contra a Itália, nos pênaltis.

Ficha Técnica: Brasil 6x0 Bolívia

Data: 29 de agosto de 1993

Local: Estádio do Arruba, em Recife (PE). Público: 74.090 espectadores.

Árbitro: Oscar Velásquez (Paraguai). Assistentes: Venancio Zárate Vásquez (Paraguai), Demesio Toledo Romero (Paraguai).

Cartão Amarelo: Bebeto, Sandy, Dunga, Peña.

Cartão Vermelho: Dunga, aos 78.

Gols: Raí, aos 12; Müller (cabeça), aos 19; Bebeto, aos 23; Branco (cabeça), aos 37; Ricardo Gomes (cabeça), aos 44; Bebeto, aos 59.

BRASIL: Taffarel, Jorginho, Ricardo Rocha, Ricardo Gomes e Branco; Mauro Silva, Dunga, Raí e Zinho (Palhinha, aos 58); Bebeto (Evair, aos 72) e Müller. Treinador: Carlos Alberto Gomes Parreira.

BOLÍVIA: Trucco, Rimba, Quinteros, Sandy e Cristaldo; Borja, Melgar, Baldivieso e Etcheverry (Juan Peña, aos 42); Sánchez e Ramallo (Alvaro Peña, aos 72). Treinador: Xavier Francisco Azkargorta.

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