Três Corações arquiva projetos e mantém tributos a Pelé em nomes de estádio, ginásio e avenida

Projeto de vereador queria retirar homenagens ao Rei do Futebol, mas foram retirados de pauta da Câmara

Nivaldo de Cillo

Pelé foi protagonista de dias agitados na política de Três Corações (MG), cidade onde nasceu, a cerca de 290 km ao sul de Belo Horizonte.

Na última segunda-feira (10), a Câmara de Vereadores da cidade arquivou três projetos de lei que renomeavam importantes endereços locais: a Avenida Rei Pelé, o Estádio Municipal Rei Pelé e o Ginásio Poliesportivo Rei Pelé. Os projetos, protocolados dias antes, eram de autoria do vereador Ricardinho do Gás (Avante).

Os três projetos receberam pareceres contrários da CCJ (Comissão de Constituição, Redação, Cidadania e Justiça) no Legislativo tricordiano e acabaram não sendo pautados para discussões em plenário. Desta forma, o estádio, o ginásio e a avenida seguiram homenageando o Rei do Futebol.

Mas as homenagens a Pelé não são exatamente unanimidade onde nasceu o Rei do Futebol. E a edição desta terça-feira (11) de Os Donos da Bola foi até a cidade para entender o porquê.

“Eu sempre soube e nunca falei, porque ficava com medo de retaliação: porque ele era preto. Se ele fosse loirinho do olho claro, com certeza as pessoas iam bater palma”, afirmou o historiador e artista plástico Fernando Ortiz. “E não é (um fenômeno) local. É mundial. Quando da morte dele (em 2022), as pessoas tiraram coisas do baú, agressivos com ele. Não conseguiam separar o Edson do Pelé, e juntavam tudo no mesmo balaio. O que foi legal desse delírio que teve de querem tirar os nomes é que uniu mais a cidade”, afirmou.

Casa Pelé

Ortiz já foi diretor de Cultura e Turismo de Três Corações. Já foi também funcionário da Secretaria Municipal de Esportes. E, entre outras coisas, foi um dos responsáveis pelo projeto da Casa Pelé, que reconstitui a residência onde Pelé morou com os pais, os irmãos e os tios durante a primeira infância, antes de se mudarem para Bauru (SP). O imóvel fica na Rua Edson Arantes do Nascimento, número 1000.

Como não havia fotos da casa, Ortiz fez uma visita em 2009 a Celeste e Jorge, respectivamente mãe e tio materno de Pelé. Com base na descrição dos dois, conseguiu reconstituir o projeto da casa depois de uma conversa de mais de três horas. A casa foi aberta ao público em 2012, em cerimônia que contou com o próprio Rei do Futebol.

“O Pelé chegou, (viu) a porta entreaberta. Eu falei: ‘Pelé, seu quarto’. Ele olhou para mim e falou assim: ‘Cama de casal?’. Eu falei: ‘Não, o seu é ali’”, lembra Ortiz, apontando para o berço no canto do cômodo. “Aí ele quase enfartou. Eu achei que ele tinha nascido em Três Corações e que morreria aqui. Quando ele viu o berço, ele começou (a falar): ‘Meu berço, meu irmão na parede, minha foto com o meu irmão, meu quarto da mãe, do pai’. E assim foi.””

Nome de estádio

A história de Pelé é celebrada em ruas, avenidas, instalações esportivas, estátuas e parques em toda Três Corações. Para Fernando Ortiz, a homenagem ao nome do Rei do Futebol é de “importância total” na cidade, mesmo deixando em segundo plano outras personalidades locais de destaque.

É o caso de Elias Arbex, que foi fundador, presidente e dirigente do Clube Atlético Três Corações. Entre 2001 e 2023, o Estádio Municipal Rei Pelé era chamado Estádio Municipal Elias Arbex.

“Como é que a terra do Rei do Futebol, o templo do futebol, não tem o nome do rapaz?”, questiona Fernando Ortiz, que reconhece a importância de Elias Arbex para o futebol tricordiano. “Só que, na terra onde nasceu Pelé, não faz sentido ter um nome que não seja o dele dentro de um estádio. Mas graças a Deus, a CCJ voltou atrás, tirou essa ideia maluca e continua tudo como dantes”, completou.

Para o historiador, diante da repercussão, a tendência é que nenhum projeto do tipo ganhe força novamente na cidade – e que o nome de Pelé possa ser homenageado por muito tempo.

“Depois do que aconteceu, da pressão que foi em cima do autor da obra, a gente acha muito difícil que isso vá para frente”, comemorou.

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