Três jogadoras de vôlei denunciam caso de racismo em jogo da Superliga B

Atletas do Tijuca Tênis Clube disseram ter sido chamadas de macacas

Da redação

Três jogadoras de vôlei denunciam caso de racismo em jogo da Superliga B
Três jogadoras de vôlei denunciam caso de racismo em jogo da Superliga B
Instagram/Mikaela Hestmann

Três atletas do time feminino de vôlei do Tijuca Tênis Clube, do Rio de Janeiro, denunciam terem sido vítimas de racismo durante um jogo da Superliga B na capital paranaense. As centrais Dani Suco e Camilly, além da levantadora Thais, que são negras, foram xingadas por torcedores da equipe de Curitiba.

Caso aconteceu ontem à noite em partida válida pela terceira rodada da divisão de acesso do principal campeonato nacional de vôlei. Jogo foi disputado no Ginásio Palácio de Cristal, no Círculo Militar do Paraná.

As jogadoras disseram terem sido chamadas de macacas ao longo da partida. O Curitiba Vôlei e a Confederação Brasileira de Vôlei ainda não se posicionaram sobre o assunto.

Já o Tijuca Tênis Clube manifestou solidariedade às atletas e repúdio a quaisquer formas de discriminação e de preconceito racial. Pelas redes sociais, a equipe disse também que o racismo, em pleno século XXI é inaceitável, e deve ser firmemente combatido.

Leia a nota completa publicada pela jogadora Mikaela Hestmann:

Poderia falar sobre mil coisas aqui referente ao jogo de hoje mas o que não poderia passar despercebido de forma alguma foi o desrespeito fora das quatro linhas.

Muito além de pontos, vitórias e derrotas, o voleibol hoje saiu perdendo.

Existe uma diferença ENORME entre vaia, presente e completamente normal no meio esportivo e o racismo. Infelizmente ambos marcaram presença naquele ginásio hoje.

Xingos e sons de macaco, atitudes que ferem a alma, desestabilizam a integridade emocional de qualquer um. Tirar um ser humano pra um animal, algo diferente, algo irracional, que não olha, não ouve, não pensa e não sente, mas que sangra, que chora, que sofre e que morre. Assim como o branco. Assim como qualquer ser humano.

Ainda há quem diga que o racismo não existe mais no Brasil, mas a escravidão nunca acabou, apenas se modernizou. A prepotência permanece e se disfarça até o momento que lhe-convém, até o momento que é inclusive conveniente ferir o próximo.

Desumano o que certas pessoas ainda tem que lidar por causa da sua cor de pele.
Decepcionante o descaso com uma situação desse tipo, que é tão recorrente no meio esportivo.
Extremamente desprezível a forma como tudo é sempre abafado, ignorado, tratado como “nada demais” ou “algo comum”.

Fico enojada com a supremacia ilusória de pessoas da minha cor sobre as outras por motivos tão pequenos, que não deveria ter nenhum peso ao se diferenciar um ser humano do outro, mas que infelizmente ainda tem e muito.

Não é uma dor que eu sinto e sei que nunca vou sentir. Essa luta não é para mim, mas eu encaro como minha.

O racismo não é uma cicatriz na história do Brasil, ele ainda é uma ferida aberta, e não pode ser tratado como algo normal simplesmente por ser algo recorrente.

Aqueles que não se lembram do passado estão condenados a repeti-los.

Dani, Thais e Camilly, não poderia deixar de falar sobre o quanto vocês são gigantes. Cada dia que passa eu encontro mais motivos pra admirar e me espelhar nas pessoas que vocês são. Muito mais do que jogadoras de vôlei, hoje foram exemplo de força, no dia a dia são grandes exemplos de disciplina, responsabilidade, educação e simpatia. Eternas referências pro esporte e pra vida

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