Levantamento da prefeitura aponta que 75% dos recapeamentos realizados pelas concessionárias em São Paulo não atendem à legislação; sistema ajuda a mapear e fiscalizar obras na cidade. As informações são do Luccas Balacci e Vanessa Selicani, do Metro Jornal no Bora SP.
Mudam os bairros, mas a história é a mesma: concessionárias fazem obras nas vias da cidade, o asfalto é recapeado e, pouco tempo depois, afunda.
E não são casos isolados. Entre junho de 2020 e janeiro deste ano, 5,8 mil de 7.7 mil intervenções foram reprovadas pelo município, segundo a Secretaria Municipal das Subprefeituras. Ou seja, três a cada quatro obras feitas por fornecedoras de serviços básicos, como água e gás, descumprem as normas técnicas.
Na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, o cruzamento das ruas Bagé e Doutor Amâncio de Carvalho traz um risco de acidentes. O asfalto afundou em vários pontos na faixa de pedestres após um recapeamento da Sabesp, responsável pelo saneamento básico da capital.
“Volta e meia tem batida por aqui. O motorista perde a direção e atinge os carros estacionados”, conta a secretária Edna de Oliveira, 56 anos, que teve seu veículo atingido no mês passado.
Os moradores da rua Manoel de Moraes também reclamam da má qualidade do serviço de recapeamento. “Eles arrumaram e, em três semanas, tudo afundou. Vira um transtorno para sair com os carros, ainda mais porque a via é estreita”, diz o empresário Eduardo de Menezes, 39 anos.
Veículos que queriam acessar a avenida 23 de Maio pela rua Hermano Ribeiro da Silva, na sexta-feira, eram obrigados a subir na guia para evitar um grande buraco no meio da via. Funcionários de um restaurante ao lado da cratera contam que o asfalto já foi recapeado diversas vezes, mas sempre volta a ceder.
Mapeamento de obras
Desde novembro de 2019, a cidade de São Paulo conta com o GeoInfra, sistema restrito entre prefeitura e concessionárias. Ele foi criado para acelerar pedidos de obras, mapear as intervenções e fiscalizar o trabalho das empresas responsáveis.
Até o momento, 29,1 mil protocolos de reparos foram liberados, o que equivale a uma autorização para abrir um buraco a cada meia hora.
O que dizem as empresas responsáveis?
Em nota, a Sabesp afirmou que adota métodos “não destrutivos” em suas obras, o que reduz significativamente as interferências no pavimento, no trânsito e nas vias de pedestres. A concessionária disse ainda que cumpre com as especificações técnicas determinadas pela prefeitura para a reposição de pavimentos.
Já a Comgás ressalta que todas as valas abertas para instalação da rede de gás natural encanado “são fechadas de acordo com procedimentos técnicos adequados.” A empresa também defendeu que usa métodos não destrutivos, seguindo os procedimentos e normas do município. “São abertas apenas algumas pequenas valas, o que minimiza os impactos da obra.”