
O presidente interino sírio Ahmed Al-Shara conquistou o poder sem a batalha que se se esperava em Damasco, em dezembro de 2024. Para manter o poder, porém, ele está mergulhando a Síria em um novo banho de sangue, depois de 13 anos de guerra civil. Combates entre rebeldes alauítas e forças de segurança já deixaram cerca de mil mortos. Os alvos não são apenas militares. Há relatos de massacres de civis.
Os combates saíram de controle. Muitas mortes são atribuídas à vingança ou à perseguição a minoria alauíta, a que pertence à família al-Assad. Como os 50 mil policiais do antigo regime foram demitidos, a população não sai às ruas, onde tem ocorrido sequestros em que o resgate pode chegar a 400 mil dólares. Sem dinheiro para pagar salários e sob sanções econômicas, e com vizinhos como Irã, Israel e Turquia, o presidente interino sírio Ahmed Al-Shara não consegue unir a Síria para tirá-la do caos.
A aviação israelense atacou hoje as bases antigas de al-Assad nas cidades de Jabab e Izra, na província de Daraa, no sul da Síria, depois de ter ampliado a zona tampão nas Colinas do Golã, fixada pela ONU. O Irã é suspeito de armar os rebeldes. A Turquia é contra alguns grupos de curdos sírios, a que chama de “terroristas”, mas que lutaram com os EUA contra o Estado Islâmico.
O presidente Ahmed Al-Shara prometeu investigar e punir os assassinatos em massa de civis alauítas: "Vamos responsabilizar, com firmeza e sem clemência, qualquer pessoa envolvida no derramamento de sangue de civis... ou que tenha ultrapassado os poderes do Estado", ele comunicou por vídeo através da agência estatal de notícias SANA.
"Hoje, neste momento crítico, nos encontramos diante de um novo perigo - tentativas dos remanescentes do antigo regime e de seus apoiadores estrangeiros de incitar novos conflitos e arrastar nosso país para uma guerra civil, com o objetivo de dividi-lo e destruir sua unidade e estabilidade", ele acrescentou, acusando os partidários de Assad e potências estrangeiras, que ele não nomeou, de tentar insuflar a agitação.
Em Latakia, uma fortaleza alauíta, os rebeldes rejeitaram a rendição oferecida, mesmo sob ataques de drones, artilharia e mísseis. Enquanto obrigava as forças do governo a um recuo, 150 civis, incluindo mulheres e crianças, teriam sido executados. Um analista político comentou a jornais em Damasco: “O que estamos testemunhando não é apenas um conflito militar, mas o desenrolar da sociedade síria. Os massacres são um lembrete sombrio de que as feridas da Guerra Civil não foram curadas e, sem responsabilidade, a história se repetirá”. Persiste o temor de que os combates possam se estender às regiões curdas no Leste ou nas áreas drusas no sul. Entre os mil mortos, 700 seriam civis, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede em Londres.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, pediu, nesta segunda-feira, uma condenação internacional ao novo governo da Síria. “Eles eram jihadistas e permanecem jihadistas, mesmo que alguns de seus líderes tenham vestido ternos”, ele disse num discurso no Parlamento, em Jerusalém.