Até o fim de 2023, cerca de 117 milhões de pessoas em todo o mundo haviam sido obrigadas a deixarem suas residências devido a conflitos, perseguições ou outras ameaças ao seu bem-estar, de acordo com o relatório mais recente do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), a agência da ONU para refugiados.
O relatório, divulgado em junho, engloba pessoas já reconhecidas como refugiadas, as que ainda estão buscando a aprovação de seus pedidos de refúgio no exterior e as que estão deslocadas dentro de seus países de origem.
Os nove gráficos a seguir mostram como os padrões de migração forçada evoluíram ao longo do tempo, de onde as pessoas estão fugindo e quais países estão recebendo as maiores parcelas de pessoas deslocadas.
1. A proporção de pessoas deslocadas está aumentando
Em 2014, 8 em cada 1.000 pessoas em todo o mundo haviam sido deslocadas à força. Em 2023, esse número era de 14 em cada 1.000.
Isso significa que hoje há cerca de 58 milhões de pessoas a mais em todo o mundo que foram obrigadas a deixarem suas casas devido a crises humanitárias do que em 2014. Isso equivale a toda a população da Itália.
2. Os deslocados internos são a maioria
Dos cerca de 117,3 milhões de pessoas que deixaram suas residências em todo o mundo e que foram computadas pelo Acnur, 68,3 milhões são deslocados internos, o que significa que foram forçadas a deixar suas casas e comunidades, mas permaneceram dentro das fronteiras de seus países de origem. Esse número equivale à população do Reino Unido.
O número do Acnur refere-se apenas a pessoas deslocadas pela violência e pela guerra. O Centro Internacional de Monitoramento de Deslocamentos estima que outras cerca de 7,7 milhões de pessoas tenham sido deslocadas por desastres naturais e mudanças climáticas.
3. A maioria dos deslocados internos está na África e no Oriente Médio
Dos 68,3 milhões de deslocados internos, cerca de 48% são de países africanos e cerca de 21% do Oriente Médio.
Com 9 milhões de pessoas deslocadas internamente, o Sudão abriga 14% dessa população global. Outros lugares com um alto número de deslocados internos incluem a Síria (7,2 milhões), a República Democrática do Congo (6,7 milhões) e o Iêmen (4,5 milhões).
Entre os dez países com as maiores populações de deslocados internos, apenas três não estão na África ou no Oriente Médio: Colômbia (5 milhões), na América do Sul, Afeganistão (4,1 milhões), na Ásia Central, e Ucrânia (3,7 milhões), na Europa.
4. Alguns países da Europa têm uma alta proporção de deslocados internos
Uma proporção significativa da população também foi forçada a deixar suas casas em outras regiões, inclusive na Europa.
Esse é o caso do Chipre, onde mais de 240 mil pessoas – ou cerca de 20% da população – são consideradas deslocados internos. A maioria delas foi forçada a deixar suas casas devido ao conflito territorial de cinco décadas entre o país e a Turquia.
A situação é semelhante na Geórgia, no Azerbaijão, na Sérvia e na Bósnia-Herzegovina. Muitas vezes, as pessoas podem permanecer deslocadas por décadas – ou até mesmo gerações – após os eventos iniciais que as forçaram a sair de suas casas.
5. Quase 90% dos refugiados vêm de apenas dez países
De acordo com o Acnur, cerca de 43,4 milhões de pessoas em todo o mundo vivem fora de seus países de origem como refugiados ou sob outros programas de proteção internacional, como estadias humanitárias temporárias. Isso é mais do que toda a população da Polônia.
Globalmente, 9 em cada 10 refugiados vêm do Afeganistão, da Síria, da Venezuela, da Ucrânia, dos Territórios Palestinos, do Sudão do Sul, do Sudão, de Mianmar, da República Democrática do Congo e da Somália.
6. A maioria dos refugiados busca abrigo em países vizinhos
Os países que acolhem a maioria dos refugiados geralmente compartilham fronteiras com aqueles onde estão ocorrendo crises humanitárias. De acordo com o relatório do Acnur, 69% dos refugiados em 2023 estavam vivendo numa nação vizinha ao seu país de origem.
O Irã, a Turquia, a Colômbia e a Jordânia abrigam o maior número de refugiados, a maioria deles fugindo do Afeganistão, da Síria, da Venezuela e dos territórios palestinos, respectivamente.
A maior exceção é a Alemanha, que recebe centenas de milhares de migrantes de nações com as quais não tem fronteira, como Ucrânia, Síria, Afeganistão, Iraque e Eritreia.
7. Os países em desenvolvimento recebem uma quantidade desproporcional de refugiados
A Alemanha é o país que acolhe o maior número de refugiados de todos os países da União Europeia (UE), com mais de 2,5 milhões. Mas a Alemanha acolhe menos do que o Irã, a Turquia, a Jordânia e a Colômbia.
Com 11 milhões de habitantes, a Jordânia abriga o maior número de refugiados em proporção à sua população. Mais de 3 milhões de refugiados, a maioria proveniente dos territórios palestinos, vivem na Jordânia, que abriga cerca de 27 mil refugiados para cada 1 milhão de habitantes.
Alguns dos países mais pobres do mundo abrigam o maior número de refugiados. O Chade, por exemplo, abriga mais de 1 milhão de pessoas, apesar de ser uma das nações menos desenvolvidas do planeta. Isso representa mais de 60 mil refugiados para cada 1 milhão de habitantes, cerca de duas vezes mais do que a taxa na Alemanha.
8. Diferença entre número de pedidos de refúgio e de decisões aumentou
Além dos deslocados internos e dos refugiados reconhecidos, há cerca de 7 milhões de pessoas aguardando uma decisão sobre o pedido de refúgio feito por elas – seja de reconhecimento, seja de rejeição – por parte dos países onde fizeram a solicitação.
O número de decisões sobre o status de refúgio não está acompanhando o ritmo das solicitações. Em 2023, 1,4 milhão de decisões foram tomadas em todo o mundo, mas também houve cerca de 5,6 milhões de novas solicitações de asilo.
A lacuna entre solicitações e decisões nunca foi tão grande. Os solicitantes geralmente ficam presos num limbo jurídico, enquanto as solicitações sem decisão continuam se acumulando.
9. Muitos refugiados retornam a países que continuam inseguros
Em 2023, cerca de 1,1 milhão de ex-refugiados voltaram para seus países de origem. No entanto, voltar para casa muitas vezes não é seguro. A maioria deles voltou para nações que continuavam enfrentando guerras e conflitos, como o Sudão do Sul e a Ucrânia.
Autor: Rodrigo Menegat Schuinski