Acordo entre Israel e Hamas foi cumprido em número, mas não em categoria

Por Moises Rabinovici

Acordo entre Israel e Hamas foi cumprido em número, mas não em categoria
Reféns libertados no acordo entre Israel e Hamas
REUTERS/Mohammed Salem

Sábado de comemoração em Israel e na Cisjordânia e Gaza, com a libertação de quatro reféns soldadas e 200 prisioneiros palestinos. Para o governo israelense e o Hamas, porém, restaram alguns problemas.

O acordo de cessar-fogo foi cumprido em número, mas não em categoria. O Hamas deveria libertar as reféns civis, uma delas nomeada, especificamente, por Netanyahu: Arbel Yehud, 29, sequestrada em sua casa no kibutz Nir Oz.  

O Hamas entregou quatro soldadas, num palco armado na Praça Palestina, e prometeu que libertaria Arbel na próxima troca, sábado que vem. A justificativa: ela estaria com outro grupo em Gaza, a Jihad Islâmica Palestina. Outra civil ainda no cativeiro é Shiri Bibas, levada com seus dois filhos, Kfir, que completou dois anos enquanto refém, e Ariel, 4 anos.

Israel está exigindo provas de vida de Arbel, Shiri, Kfir e Ariel. À violação do acordo de cessar-fogo pelo Hamas, o porta-voz militar israelense reagiu adiando a volta dos palestinos que moravam no norte de Gaza e foram deslocados para o sul, a partir de domingo. Uma empresa privada foi contratada para inspecionar o êxodo, proibido para quem estiver armado. Panfletos em árabe foram distribuídos recomendando que ninguém tente se aproximar das tropas israelenses.

A diferença entre a primeira e segunda troca de reféns por prisioneiros palestinos é que, neste sábado, o Hamas montou um palco para mostrar as quatro soldadas à multidão que lotou a Praça Palestina, sob a guarda de centenas de militantes mascarados com armas automáticas. “O sionismo não vencerá”, dizia uma faixa em árabe, decorada com emblemas de unidades militares israelenses e do Shin Bet, o serviço de inteligência interno de Israel. As quatro estavam vestidas com uniformes, enquanto, na semana passada, as civis vestiam roupas coloridas. Uma das soldadas foi arrastada pelos cabelos, as mãos amarradas e sob mira de um fuzil, quando capturada.

Entre os 200 prisioneiros libertados, muitos estavam condenados à prisão perpétua. Os que deixaram a prisão de Ofer, na Cisjordânia, já ficaram em casa, e foram abraçados pela multidão que os esperavam. Os do presídio de Ktziot, no Negev, seguiram para Gaza, onde entraram pela porta Kerem Shalom.

O governo de Benjamin Netanyahu tem mais problemas que as listas de reféns. Eles estão concentrados na segunda fase do acordo de cessar-fogo, que prolongaria por mais seis semanas a trégua de seis semanas iniciais, obrigando o Hamas a entregar 14 reféns restantes, pelos cálculos israelenses, e a Israel a se retirar totalmente de Gaza, inclusive do corredor Filadélfia, prezado como fundamental durante as negociações.

Até um acordo para a segunda fase do cessar-fogo, Benjamin Netanyahu terá um encontro com o presidente Donald Trump, previsto para fevereiro. Se ele prosseguir com o acordo, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, renunciará à coligação, deixando-a balançando para cair quando da aprovação do orçamento no Parlamento. Há mais o problema de isenção para o serviço militar aos religiosos.  

Na pausa da guerra, o chefe do Estado Maior das forças armadas, Herzl Halevi, renunciou, como havia prometido, por se sentir responsável pelas falhas que permitiram a invasão do Hamas a Israel em 7 de outubro. Os israelenses (63% na última pesquisa) gostariam que Netanyahu seguisse o exemplo de Halevi, renunciando também. Mas ele argumenta que a comissão de inquérito que vai investigar o que aconteceu só será formada depois da guerra encerrada.  

A guerra de 15 meses, que envolveu o Hezbollah no Líbano, o Irã e os Houthis, no Iêmen, deixou 47 mil palestinos mortos, muitos dos quais mulheres e crianças, e cerca de 19 mil homens do Hamas; 1.200 israelenses mortos em 7 de outubro, e 405 soldados mortos em combate.

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