Acusados de golpismo na Alemanha vão a julgamento

Rede de extrema direita formada por "príncipe", ex-militar e juíza enfrentará a Justiça em maio. Eles são acusados de planejar ofensiva terrorista que incluiria invasão violenta do Parlamento alemão.

Por Deutsche Welle

A Justiça alemã marcou o julgamento de nove membros de uma rede de extrema direita acusada de planejar um golpe de Estado e de tentar derrubar as instituições democráticas alemãs – se necessário com o uso de violência. O julgamento terá início em 21 de maio, em um tribunal de Frankfurt, no sudoeste da Alemanha.

A rede foi desbaratada pela polícia em dezembro de 2022. Na ocasião, foram presos um aristocrata – apontado como o principal líder do grupo –, um ex-militar – acusado de ser o comandante militar do complô – e uma juíza e ex-deputada de ultradireita, entre outros.

De acordo com o Ministério Público Federal, os acusados eram associados ao movimento Reichsbürger (Cidadãos do Império Alemão, em tradução literal), que rejeita a Constituição alemã do pós-guerra e tenta pintar a Alemanha atual como uma construção artificial imposta pelos aliados.

Durante a operação contra o grupo, a polícia encontrou depósitos de armas e munições. Segundo o Ministério Público, o grupo planejava realizar um ataque ao Bundestag (Parlamento alemão) em Berlim para provocar caos no país e criar condições para uma tomada violenta do poder.

"Desde agosto de 2021, o pequeno grupo preparava, com um braço armado, a invasão do Bundestag em Berlim, com o objetivo de prender os deputados e derrubar o sistema", apontou o Ministério Público Federal alemão na denúncia.

Segundo as autoridades, os membros do grupo também acreditavam em um "conjunto de teorias da conspiração que consistem em narrativas dos chamados Reichsbürger, bem como da ideologia QAnon". As autoridades acusaram ainda o grupo extremista também de ter tentado recrutar soldados e policiais e elaborado listas de inimigos.

A previsão é que os procedimentos contra os acusados de liderarem o complô durem até pelo menos janeiro de 2025. Dois outros julgamentos, que devem envolver apoiadores da conspiração, estão previstos para ocorrer em Stuttgart e em Munique. Ao todo, 27 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público alemão por suspeita de participação no complô.

"Príncipe" líder do grupo

Um dos acusados que irá a julgamento em maio é o suposto líder do grupo, Heinrich 13º, "príncipe" de Reuss, descendente de uma linhagem aristocrata do estado da Turíngia e que seria proclamado o novo chefe de Estado, caso o golpe tivesse sido bem-sucedido.

Investigações apontaram que Reuss teria tentado se reunir com representantes do governo russo para obter apoio ao golpe.

Juíza e ex-militar com laços no Brasil

Entre os acusados que também serão julgados em maio está Birgit Malsack-Winkemann, juíza e ex-deputada do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), que exerceu mandato no Bundestag de 2017 a 2021 e teria planejado franquear aos conspiradores acesso a edifícios parlamentares.

Outro membro que irá enfrentar o tribunal em Frankfurt é Rüdiger von Pescatore, um ex-comandante de paraquedistas de 69 anos.

Segundo os promotores, o complô previa que Heinrich 13º assumisse a liderança do Estado alemão caso o golpe fosse bem-sucedido, enquanto Rüdiger seria nomeado o chefe do braço militar.

Entre 1993 e 1996, Rüdiger von P. foi comandante do batalhão de pára-quedistas 251, que posteriormente ajudou a formar o KSK. Ele teria sido expulso do exército devido à venda não autorizada de armas dos estoques do antigo exército da Alemanha Oriental. Rüdiger também costumava passar parte do seu tempo no Brasil. Há empresas registradas em seu nome em Santa Catarina e ele parece ter atuado como representante comercial de companhias de energia no Brasil.

Nos últimos anos, o número crescente de membros do Reichsbürger tem alarmado as autoridades de segurança alemãs. O Departamento para a Proteção da Constituição da Alemanha estima que o movimento contava com cerca de 23 mil seguidores em 2022 – em 2021, eram 21 mil. Cerca de 2,3 mil membros são considerados como dispostos a cometer atos de violência.

jps/le (DW, dpa, ots)

Mais notícias

Carregar mais