Agora empresas devem fazer sua parte na proteção da Amazônia

Se Lula conseguir unir a América do Sul em torno de medidas de proteção da floresta tropical, vai enviar uma importante mensagem ao mundo. Mas isso só será possível com a participação do setor privado.

Por Deutsche Welle

A notícia veio na hora certa: bem no início da Cúpula da Amazônia, convocada pelo governo brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode apresentar números positivos sobre o desmatamento: nos sete primeiros meses do seu mandato, o desmatamento na Amazônia caiu quase pela metade na comparação com o mesmo período do ano passado.

É verdade que, nesse mesmo período, os números aumentaram no Cerrado. Mas isso não afeta o sucesso da política de Lula para a Amazônia.

Essa boa notícia é o impulso que Lula urgentemente precisava para unir os oito países amazônicos em ações conjuntas de proteção da floresta tropical.

Tanto para Lula como para os outros mandatários, o sucesso da conferência é importante para a relevância política internacional da América do Sul: unida em torno da questão amazônica com a promessa de proteção da floresta tropical, a América do Sul pode desempenhar um papel importante no debate climático internacional.

A exemplo do que Lula, isoladamente, fez nos seus dois primeiros mandatos, de 2003 a 2010. Com o fim das queimadas, a América do Sul praticamente cortaria pela metade suas emissões de dióxido de carbono. A região, que costuma fazer má figura na comparação internacional com suas políticas, seria de uma hora para a outra exemplo para muitos países em torno da linha do Equador.

E, com avanços na agenda amazônica, Lula também poderia sinalizar força nas negociações para uma área de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul: a América do Sul cuida ela mesma da Amazônia e não precisa de conselhos ou pressão da Europa. "Estamos fazendo o dever de casa", disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. "Também a Europa precisa reconhecer isso."

Empresas brasileiras estão atrasadas

Mas se Lula quiser mesmo ser bem-sucedido na proteção da floresta tropical, vai precisar contar com mais um parceiro importante: o setor econômico, as empresas no Brasil, em especial o agronegócio. Nos anos anteriores, essas empresas puderam se esquivar de qualquer culpa pela falta de uma agenda ambiental apontando para o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Agora isso acabou, e é possível ver como as empresas brasileiras estão atrasadas na adoção de medidas ambientais. É o que mostra a CDP (Carbon Disclosure Project), uma organização sem fins lucrativos que há 20 anos mede os efeitos ambientais das ações de investidores, empresas, cidades, Estados e regiões.

Das 374 empresas brasileiras que compartilharam dados sobre biodiversidade com a CDP em 2022, 57% não dispõem de qualquer diretriz para os efeitos de suas atividades.

Nenhuma empresa agrícola que produz ou está envolvida na cadeia produtiva de soja (por exemplo suinocultura ou avicultura) tem mais de 60% de sua proteína vegetal certificada. Ou seja, as empresas não sabem de onde vem 40% de sua soja – quer dizer, para quase metade da produção elas não podem assegurar que essa soja não foi plantada em área desmatada.

O mesmo vale para os produtores de carne bovina: para mais de 60% da sua carne, quase nenhuma empresa pode garantir que seus animais não tenham sido criados em áreas queimadas da Floresta Amazônica.

A partir do final de 2024, todas essas empresas passarão a ter problemas para vender seus produtos no mercado mundial. É verdade que, até agora, apenas a UE impôs uma proibição de importação a produtos oriundos do desmatamento de florestas tropicais. Mas outros compradores – na China, no Oriente Médio ou na Ásia – vão exigir descontos para carne bovina não certificada.

O governo Lula, junto com as empresas, precisa garantir que a certificação seja ampla. Para isso é necessário controle estatal, mas as empresas também devem fazer a parte delas. O período de carência acabou.

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

Autor: Alexander Busch

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