Alemanha se prepara para risco de arruaça na noite de Ano Novo

Tradição no país, a queima amadora de fogos terminou em pandemônio na última virada, especialmente em Berlim, com atos de violência contra a polícia e serviços de resgate. Temor é que episódio volte a se repetir.

Por Deutsche Welle

Ministra alemã do Interior, a social-democrata Nancy Faeser disse estar preocupada que a arruaça e a violência que se viu em Berlim e outras cidades alemãs na virada de 2022 para 2023 volte a se repetir.

"Temo que a noite de Ano Novo possa mais uma vez ser uma ocasião em que sejamos forçados a testemunhar, em algumas cidades, uma raiva cega e a violência sem sentido contra agentes da polícia e dos serviços de resgate", afirmou ao grupo alemão de mídia RND.

Só em Berlim, ao menos 41 policiais foram feridos no Réveillon de 2023, e outras dezenas de ataques a agentes de resgate foram registrados. Segundo relatos, caminhões dos bombeiros teriam sido "atraídos para emboscadas", alvejados com fogos de artifício ou apedrejados em grandes metrópoles alemãs como Colônia, Hamburgo e Dortmund.

Segundo Faeser, a violência desinibida que se viu naquela noite é algo "absolutamente incompreensível e injustificável".

Reforço policial

As cenas dramáticas de ruas tomadas por tiros de efeito moral e fogos de artifício reacenderam o debate sobre a proibição da venda de pirotecnia. Apesar disso, os fogos estarão à venda nas gôndolas do supermercado a partir do dia 28 de dezembro.

Faeser disse que autoridades estão se preparando melhor para eventuais episódios de violência desta vez, com novas avaliações de riscos e mais agentes.

O sindicato da polícia demanda punições mais duras para quem comete atos de violência contra agentes dos serviços de emergência. Os bombeiros pedem mais câmeras corporais para uso em serviço, para que as imagens sirvam de evidência na hora de reconstruir episódios de agressão.

Receio de que conflito no Oriente Médio alimente radicalização

Faeser afirmou que a Alemanha tem visto um "aumento generalizado da violência" em datas como o Ano Novo, e mencionou a guerra entre Israel e o Hamas como uma fonte adicional de preocupação.

"Temos que nos manter bem atentos ao perigo de misturar isso [a balbúrdia no Ano Novo] à radicalização, que é algo que estamos vendo diante do conflito no Oriente Médio."

Faeser não mencionou explicitamente os muçulmanos, que perfazem 6% da população alemã, mas muitos deles estão insatisfeitos com a postura do governo em relação ao conflito.

Políticos alemães, por sua vez, têm nos últimos meses dirigido diversos apelos à comunidade muçulmana para que se distancie de ideologias radicais e do antissemitismo. Críticos rebatem que essa postura estigmatiza o grupo e distrai do fato de que o ódio a judeus, na Alemanha, não é um problema meramente importado de países muçulmanos.

No início de 2023, a polícia de Berlim informou ter prendido 145 pessoas na noite de Réveillon, sendo 44 suspeitas de participar de ataques a agentes e bombeiros – destas, 19 não tinham cidadania alemã, e a maioria (72%) tinha até 25 anos de idade.

Na época, parte da opinião pública culpou imigrantes e seus descendentes pela violência.

Os piores ataques daquela noite ocorreram no distrito de Neukölln, que também foi palco de demonstrações pró-palestinas e, em alguns casos, antissemitas.

ra (DW, ots)

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