Alemanha vira alvo dos nacionalistas da Polônia em campanha

Eleições polonesas de 15 de outubro transformam Berlim em saco de pancadas do governo nacionalista de direita em Varsóvia. Relações estremecidas entre os vizinhos ameaçam aliança ocidental de ajuda à Ucrânia.

Por Deutsche Welle

A Alemanha se tornou alvo recorrente do governo nacionalista da Polônia em sua disputa para garantir um terceiro mandato sem precedentes nas eleições programadas para 15 de outubro.

Em meio a uma corrida acirrada pelo poder, os líderes do partido governista, o nacionalista de direita Lei e Justiça (PiS), acusaram Berlim de tentar ditar a política do governo polonês em todos os quesitos, desde migração até o gás.

Ambas aliadas da Otan, a Alemanha é a principal parceira comercial da Polônia. Mas a rivalidade atual desgasta a frente unida da Europa em apoio à Ucrânia na guerra travada pela Rússia, e acabou com um plano de uma fábrica conjunta polaco-alemã de reparação de tanques em benefício de Kiev.

A liderança populista do PiS se aproveita de uma desconfiança em relação à Alemanha, hoje ainda presente em parte do eleitorado polonês, sobretudo entre os idosos conservadores que se lembram da devastação da Segunda Guerra Mundial.

Em suas críticas, o PiS também alega que Berlim está conspirando para levar de volta ao poder o principal adversário eleitoral do partido, o ex-primeiro-ministro liberal Donald Tusk.

"Sabe onde você pode ler o programa [da campanha da oposição]? Nos jornais alemães", declarou o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, em evento de campanha.

Tusk conta que seu avô foi recrutado à força para o Exército da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra antes de escapar para o lado aliado. Mas o PiS o descreve como um fantoche alemão e o "marido político" da ex-chanceler federal alemã Angela Merkel. Um vídeo de campanha também zombou do atual chefe de governo alemão, Olaf Scholz.

Impacto na guerra

Esses meses de desavenças entre os dois países vizinhos testam a solidariedade da aliança ocidental que se uniu em torno da Ucrânia após a invasão pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022.

E isso ocorre num momento em que outras questões, como a eleição de um líder pró-Rússia na Eslováquia, país-membro da União Europeia (UE), ameaçam uma ruptura dessa aliança ocidental.

"É muito inútil a Polônia, a gente do partido Lei e Justiça, continuarem a criticar a Alemanha de forma tão dura e pública", comentou o general americano Ben Hodges, que comandou as forças dos Estados Unidos na Europa entre 2014 e 2017. "É inútil, porque coloca pressão sobre a relação entre os dois aliados da Otan, o que, por sua vez, prejudica a coesão geral da Otan."

Discórdia sobre fábrica conjunta

A disputa entre Berlim e Varsóvia já afetou até os esforços de ajuda à Ucrânia. Em abril, os ministros da Defesa das duas nações anunciaram a criação de um centro conjunto na Polônia para reparar tanques Leopard de fabricação alemã danificados em combate na Ucrânia. Mas o acordo fracassou rapidamente.

A fábrica de tanques teria sido um esforço conjunto dos fabricantes alemães Krauss-Maffei Wegmann e Rheinmetall, e o conglomerado de defesa polonês Polska Grupa Zbrojeniowa (PGZ).

Uma fonte alemã afirmou à agência de notícias Reuters que a Polônia estava pedindo dinheiro demais para as obras de reparo. Segundo outra fonte, um diplomata alemão, as negociações fracassaram em parte porque as empresas alemãs relutavam em compartilhar informações técnicas.

No momento, o PGZ está consertando alguns tanques Leopard usando peças de reposição fornecidas pela Alemanha. "Até certo ponto, dependeu da velocidade de ação e da determinação do lado alemão. Nós estávamos negociando. Infelizmente, temos uma visão um pouco diferente de como isso deve acontecer", disse Sebastian Chwalek, CEO do PGZ, à Reuters.

Outros tanques serão reparados em outro lugar, "o que talvez seja um pouco mais caro e talvez um pouco mais demorado, mas está acontecendo de alguma forma", afirmou, por sua vez, o diplomata alemão.

Segundo um porta-voz do Ministério do Exterior da Alemanha, Berlim e Varsóvia estariam trabalhando em estreita colaboração na segurança e defesa europeias. Porém não quis comentar sobre "os atuais debates políticos internos na Polônia".

Relações desgastadas

Embora os laços entre Alemanha e Polônia estejam estremecidos desde que o PiS assumiu o poder, em 2015, os poloneses consideram o cenário pior agora. Apenas 47% da população acha que as relações são boas, de acordo com uma pesquisa atual. Em 2020, essa porcentagem era de 72%.

Muitos poloneses, incluindo 56% dos entrevistados na sondagem, sentem que a Alemanha não tem feito o suficiente para compensar os danos infligidos pela guerra. O PiS vem exigindo que Berlim pague mais de 1 trilhão de euros em reparações, o que os alemães não aceitam.

Pedindo anonimato, uma fonte do PiS descreveu as relações como "competitivas": Berlim e Varsóvia "conseguem cooperar em muitas questões", porém em outras, como as reparações da Segunda Guerra, estão muito divididas.

O governo Scholz tem se esquivado dos ataques do PiS. Uma fonte governamental afirmou que Berlim está extremamente cautelosa para não provocar Varsóvia, mesmo que acidentalmente: "Estamos pisando em ovos", disse a fonte.

ek/av (Reuters, ots)

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