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Após revelar estupro, Luciana Temer diz ter vergonha de não ter denunciado antes

Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Luciana Temer disse que “silêncio faz com que outras pessoas corram risco”; leia abaixo:

Da Redação, com Rádio Bandeirantes

Após revelar estupro, Luciana Temer diz ter vergonha de não ter denunciado antes Reprodução/YouTube
Após revelar estupro, Luciana Temer diz ter vergonha de não ter denunciado antes
Reprodução/YouTube

Luciana Temer, diretora-presidente do Instituto Liberta e filha do ex-presidente Michel Temer, foi entrevistada na Rádio Bandeirantes neste sábado, 09, por Agostinho Teixeira e Eduardo Castro, no Jornal Gente. Em março passado, Luciana revelou em uma entrevista à Angélica [na plataforma “Mina”, do UOL], que foi vítima de estupro aos 27 anos. Hoje, à RB, disse sentir vergonha de não ter registrado o estupro há tempos. “Tenho muito constrangimento de não ter denunciado antes (...) nosso silêncio faz com que outras pessoas corram risco”. Confira abaixo o depoimento dela na íntegra: 

“O Instituto Liberta que me trouxe para essa fala. Quando na entrevista pra Angélica eu disse que fui vítima de um estupro aos 27 anos e não registrei, as pessoas me congratularam pela coragem. Mas, a minha coragem é confessar que eu não denunciei. Porque a verdade é que hoje, com a consciência que eu tenho, não tenho constrangimento por ter sido vítima de um estupro. Mas, eu tenho, sim, muito constrangimento de não ter denunciado. Quando a gente não denuncia uma violência, a gente pactua com ela, com o criminoso e faz com que essa violência de perpetue. Nosso silencio faz com que outras pessoas corram risco.”

Tomada de consciência foi gatilho para falar

Diretora do Instituto Liberta [ONG de enfrentamento contra a violência sexual de crianças e adolescentes] há 5 anos, Luciana disse que quando aceitou o desafio de dirigir a instituição não sabia o que a instituição a faria enxergar. “Vejo que a violência contra crianças e adolescentes é ainda mais urgente, e que eu, pessoalmente, passei por duas violências: uma aos 27 e outra aos 13 anos, quando voltando a pé da escola, vi um homem se masturbar enquanto olhava para mim. Ah, mas não aconteceu nada... não, não! Isso é crime no código penal”, ressaltou. “Sobre a dos 27, eu tinha sido delegada de polícia por 5 anos. Como é que eu passo por uma violência dessa e não registro para que entre nas estatísticas? Hoje, tenho uma consciência muito grande”.

Luciana disse que contou sobre o estupro [aos 27] apenas para familiares e amigos próximos. “Tenho consciência da minha omissão por muito tempo. Mas, na época, o fato de eu registrar era como se fosse me expor e não queria ser exposta. É como as pessoas vítimas de violência se sentem”, diz. “Quando a gente faz um esforço muito grande para o enfrentamento desta violência é menos por mim e por você, mas é pela menina do Grajaú que vê um homem se masturbando e não pode mudar de caminho”, completa.

Segundo Luciana, a violência sexual atinge todo mundo, mas afeta as pessoas de maneira diferentes. “Dito isso, meu gatilho para falar foi a consciência, pois entendi que o silêncio é perverso, e que encontrei na minha fala uma oportunidade de dizer que me envergonho – não do estupro, mas do silêncio.”

67% dos estupros de crianças acontecem dentro de casa

Ela ainda ressaltou que meninos e homens também são vítimas de violência sexual. “O único crime que as vítimas têm vergonha de ter sofrido é a sexual. As pessoas misturam violência sexual com sexo, mas não é sobre sexo, é sobre violência”, disse. “É como levar um tiro, uma facada...”

Luciana ressalta que a invisibilidade da violência é ainda maior no caso de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. “Dados mostram que 67% dos estupros de crianças acontecem dentro de casa e 86% são praticados por pessoas da família.”

Passeata virtual

O Instituo Liberta vai realizar uma passeata vitural com vítumas de violência sexual. Para participar, basta acessar o site www.agoravocesabe.com.br. Lá, você vai encontrar um tutorial (em vídeo) e três ícones de cadastro: já fui vítima, gravar vídeo e compartilhar. “Reflitam, pensem qual o seu papel e tenham coragem. Ainda é preciso coragem, mas não dá para pedir para crianças e adolescentes terem coragem, se nós adultos não contarmos o que aconteceu lá atrás”, disse Luciana. 

Assista à entrevista na íntegra:

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