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Ataque israelense a escola da ONU deixa dezenas de mortos em Gaza

Israel diz que local abrigava membros do Hamas e militantes envolvidos nos atentados de 7 de outubro. Testemunhas relatam que mulheres e crianças desabrigadas e acolhidas no prédio da UNRWA estavam entre as vítimas.

Por Deutsche Welle

Um ataque aéreo israelense a uma escola que acolhia pessoas desabrigadas deixou dezenas de mortos na região central da Faixa de Gaza, incluindo mulheres e crianças, segundo informou o Ministério da Saúde local, administrado pelo grupo extremista Hamas.

Testemunhas e funcionários de um hospital na região relataram que o ataque, nas primeiras horas desta quinta-feira (06/06), atingiu a escola Al-Sardi administrada pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados (UNRWA) no campo de refugiados de Nuseirat.

O local abrigava um grande número de pessoas que tiveram de deixar seus locais de residência no norte do enclave palestino, em razão dos bombardeios israelenses.

Segundo os relatos, os mísseis atingiram o segundo e o terceiro andares do edifício, onde várias famílias estavam abrigadas. Autoridades do governo de Gaza e do Ministério da Saúde local disseram que 40 pessoas morreram no ataque – incluindo 14 crianças e nove mulheres – e 73 ficaram feridas.

Horas antes, a diretora de comunicações da UNRWA, Juliette Touma, estimou que o número de mortos no ataque seria de entre 35 e 45.

Israel diz que escola era base do Hamas

Os militares israelenses disseram que membros do Hamas utilizavam o local como base, e que o ataque matou militantes envolvidos nos atentados terroristas de 7 de outubro em Israel, que deixaram em torno de 1,2 mil mortos – episódio que deu início à guerra na Faixa de Gaza, que já dura oito meses.

No dia anterior, as forças israelenses anunciaram uma nova ofensiva por terra e ar para capturar militantes do Hamas que teriam se reagrupado na região central de Gaza.

Os militares israelenses afirmam que entre 20 e 30 combatentes estavam no local, que abrigaria militantes do Hamas e da Jihad Islâmica, e que seria utilizado para o planejamento de ataques a Israel. Os militares não apresentaram provas, exibindo somente uma fotografia do edifício, apontando que os terroristas estariam abrigados no segundo e terceiro andares.

Os israelenses disseram que antes do bombardeio foram tomadas medidas para "reduzir o risco de prejuízos aos civis não envolvidos [...] inclusive com o uso de vigilância aérea e informações adicionais de inteligência".

Hospital sobrecarregado

As vítimas do ataques foram levadas para o hospital Al-Aqsa, em Deir al-Balah, que já estava sobrecarregado por um fluxo constante de ambulâncias desde o início da incursão anunciada por Israel no dia anterior. Parte do hospital está sem energia elétrica, enquanto os funcionários tentam racionar o abastecimento dos geradores que funciona à base de combustíveis.

Segundo relatos, outro ataque realizado durante a noite deixou seis mortos. Os dois ataques ocorreram em Nuseirat, um dos campos de refugiados erguidos após a guerra de 1948 em torno da criação do Estado de Israel, quando centenas de milhares de palestinos foram forçados a deixar suas casas.

Forças israelenses realizaram uma ofensiva de várias semanas no campo de refugiados de Bureij e outros na região central de Gaza. Na semana passada, Israel encerrou uma operação no campo de Jabaliya, no norte do enclave, onde equipes de emergência disseram ter recuperado 360 corpos, na maioria, de mulheres e crianças mortas durante os confrontos.

O Hamas afirma que, desde o início do conflito, os ataques israelenses já deixaram mais de 36 mil mortos na Faixa de Gaza. O Ministério da Saúde local não faz distinção entre vítimas civis e combatentes em suas estatísticas.

Cessar-fogo ameaçado

O incidente podem trazer novos obstáculos para as negociações de um cessar-fogo no conflito, enquanto mediadores internacionais tentam convencer as lideranças de Israel e do Hamas a firmarem um acordo apresentado na última sexta-feira pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

A Casa Branca se mantém confiante de que Israel aceitará a proposta, apesar de o governo israelense afirmar que não haverá pausa nos combates enquanto se desenrolam as negociações e da forte resistência de membros do gabinete do premiê Benjamin Netanyahu.

O ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, chegou a afirmar que seu partido "dissolverá o governo" se o pacto for assinado. O também ultradireitista Belazel Smotrich, titular do Ministério das Finanças, se opôs à proposta e defendeu a continuação da guerra até a destruição total do Hamas.

Outro empecilho ao acordo é a exigência do Hamas de um fim permanente da guerra e da retirada total das tropas israelenses em Gaza.

Washington disse que ainda aguarda uma resposta oficial do Hamas. Na semana passada o grupo disse que "considerava positivamente" o discurso de Biden sobre "um cessar-fogo permanente, a retirada das forças israelenses de Gaza, a reconstrução e a troca de prisioneiros".

As negociações vem sendo realizadas há meses com a intermediação dos governos dos EUA, Catar e Egito. Os esforços, porém, vêm se provando infrutíferos desde a curta trégua de novembro de 2023, quando o Hamas libertou alguns reféns israelenses em troca da soltura de prisioneiros palestinos.

rc/md (Reuters, AP)

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