Ataque israelense mata funcionários de ONG em Gaza

Forças de Israel afirmam que um funcionário palestino da ONG World Central Kitchen era um "terrorista" que participou do 7 de Outubro. ONG já havia perdido sete funcionários em outro ataque israelense em abril.

Deutsche Welle

Ataque israelense mata funcionários de ONG em Gaza
Ataque em Gaza
REUTERS/Ramadan Abed

Um bombardeio israelense na cidade de Khan Younis, na Faixa de Gaza, atingiu neste sábado (30/11) um veículo que transportava funcionários da World Central Kitchen (WCK), oito meses após outro ataque israelense ter provocado a morte de sete funcionários da mesma ONG.

Segundo a agência de notícias palestina Wafa, pelo menos cinco pessoas morreram no ataque deste sábado, incluindo três funcionários da WCK que viajavam no veículo. Horas depois, a ONG anunciou que estava suspendendo suas operações Gaza. A WCK é uma iniciativa do chef espanhol José Andrés com o fim de fornecer refeições a áreas de catástrofe

As Força de Defesa de Israel (FI) confirmaram o ataque, aparentemente realizado com um drone, mas mencionaram apenas um morto. As FDI afirmaram que a ação teve como alvo especificamente um funcionário da WCK, identificado como Hazmi Kadih. Segundo os israelenses, ele era um "terrorista" que tinha participado no massacre de 7 de outubro no kibutz Nir Oz.

"O terrorista trabalhava para a organização WCK", apontou um comunicado militar, que também pediu à comunidade internacional e à administração da ONG que investiguem sua contratação. No entanto, as FDI não apresentaram evidências e disseram que "não era possível vincular [Kadih] a uma tentativa específica de sequestro" em 7 de Outubro.

Em um comunicado anterior, o Exército israelense afirmou que o veículo civil não possuía identificação e que sua movimentação "não estava coordenada para o transporte de ajuda". "Kadih foi monitorado pela inteligência das FDI por um tempo e foi atingido após informações confiáveis sobre sua localização em tempo real", acrescentou o comunicado.

Em resposta ao ataque, a World Central Kitchen divulgou um comunicado dizendo que estava "com o coração partido" ao tomar conhecimento do ataque ao veículo que transportava seus funcionários e acrescentou que pretende interromper temporariamente suas operações em Gaza. A ONG não mencionou quantas pessoas viajavam no veículo.

"Nossos corações estão com nossos colegas e suas famílias neste momento inimaginável", apontou uma declaração da ONG na rede X. A instituição de caridade alegou ainda que não tinha conhecimento de que um de seus funcionários no veículo tivesse ligações com os ataques terroristas de 7 de outubro.

Em 2 de abril, outros sete trabalhadores da WCK foram mortos em um triplo ataque israelense contra seu comboio humanitário quando saíam de um armazém em Deir al Balah, no centro de Gaza, apesar de terem coordenado seus movimentos com o Exército israelense.

Três dias depois, as FDI admitiram que a operação foi um "erro". Na ocasião, morreram o palestino Saifeddin Ayad Abutaha, o australiano Lalzawmi Frankcom, o polonês Damian Soból, o canadense-americano Jacob Flickinger e os britânicos John Chapman, James Henderson e James Kirby.

À época, o ataque provocou condenação internacional. O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse na ocasião que estava "indignado" com o ataque. O presidente dos EUA, Joe Biden, também teria ficado "de coração partido", disse a secretária de imprensa Karine Jean-Pierre. Um porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas afirmou, por sua vez, que as mortes foram um "resultado inevitável da forma como a guerra está sendo conduzida".

Embora claramente identificada, a caravana foi atingida por três mísseis disparados por um drone, o que constituiu "uma grave violação das ordens e procedimentos operacionais padrões das Forças de Defesa de Israel", segundo concluiu uma investigação militar israelense, que resultou na dispensa de dois militares e em punições para outros três.

Israel realiza novos ataques no Líbano 3 dias depois de cessar-fogo

Ainda neste sábado, as FDI afirmaram que atacaram "agentes armados" que carregavam armas em um veículo no sul do Líbano, depois de as autoridades libanesas terem informado que pelo menos três pessoas, incluindo um menino de sete anos, ficaram feridas enquanto passavam pela área de Majdal Zoun. A ação ocorreu três dias depois da imposição de um frágil cessar-fogo na região.

"Agentes armados foram observados carregando um veículo com lançadores de foguetes, caixas de munição e outros equipamentos militares", detalhou o comunicado militar israelense que confirmou o ataque.

Durante outro incidente, as tropas alegaram ter atacado um veículo militar que operava na área de uma instalação de fabricação de foguetes do grupo xiita libanês Hezbollah, segundo informações de inteligência.

Além disso, o Exército israelense mencionou outros dois incidentes em que supostamente participaram milicianos do Hezbollah, um deles na área de Sidon, onde encontraram lançadores de foguetes, e outro em algum local no sul, onde confiscaram "granadas e pistolas".

"Estas atividades no Líbano representavam uma ameaça ao Estado de Israel, violando os acordos de cessar-fogo", destacou o texto, ressaltando que as tropas israelenses continuam mobilizadas no sul do Líbano.

Anteriormente, o Centro de Operações de Emergência do Ministério da Saúde Pública libanês afirmou em um breve comunicado que "o ataque do inimigo israelense contra um veículo na área de Majdal Zoun feriu três pessoas, incluindo uma criança de sete anos", sem fornecer mais detalhes.

Por sua vez, a agência de notícias libanesa ANN declarou que o ataque foi realizado com um drone, ao mesmo tempo em que reportou outros incidentes e ações israelenses em diferentes partes do sul do Líbano.

Desde a entrada em vigor da trégua entre Israel e o grupo xiita Hezbollah, que estipula a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano em 60 dias, ambos os lados se acusaram mutuamente de não cumprirem o acordo.

jps (EFE, ots)

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