A CPI da Covid-19 já tem mais de 170 requerimentos para serem analisados na primeira reunião, marcada para esta quinta-feira (29).
Em entrevista à rádio BandNews FM nesta quarta, o senador Omar Aziz (PSD-AM), que preside os trabalhos no Senado, disse que, apesar do volume de trabalho e da amplitude dos casos que serão investigados, a CPI não é "abstrata".
Diferentemente de outras comissões que foram instaladas no passado, ele entende que essa, especificamente, afeta a vida de todos os brasileiros.
“Essa CPI não é uma CPI abstrata, não é uma CPI da qual as pessoas ouviram falar, como a dos CPI dos Correios. Um feirante, um camelô ou um trabalhador da indústria não está nem preocupado com isso. O máximo que ele diz é: ‘Esse pessoal é tudo bandido, tem que prender todo mundo’. Mas não sabe nem o teor do que está sendo investigado. Não se aprofunda porque não está na casa dele, não é preocupação dele. A Covid-19 é diferente, ela está na casa de todos nós. Ela está no nosso vizinho. A gente perdeu parente, perdeu amigo, tem conhecido que está intubado”, afirmou o senador amazonense.
Segundo ele, o governo federal cometeu uma série de erros na gestão da pandemia, mas, antes de apontar responsabilidades, é preciso traçar uma cronologia desses erros para que tudo possa ser esclarecido – a começar pela gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta à frente da Saúde, quando o Brasil tomou conhecimento da pandemia.
A ideia, segundo Aziz, é que se investigue de fato as esferas federal, estaduais e municipais. De acordo com o senador, “não foi pouco recurso” que o governo federal dedicou ao combate à pandemia, e eventuais denúncias de desvios precisam ser apuradas.
“As pessoas criticam muito, eu também sou crítico de alguns comportamentos. Mas estados e municípios não podem se queixar que o governo federal não repassou dinheiro para a Covid. Não são aqueles recursos constitucionais que todo estado recebe, que todo município recebe. São recursos extras. Esses recursos, com certeza, caso tenha algum desvio de conduta, se não tiver sido utilizado corretamente, a CPI tem a obrigação de investigar”, afirmou.
Aziz disse que a comissão não tem a intenção de pré-julgar as autoridades envolvidas na gestão da pandemia. Além disso, reforçou que o relatório da comissão precisa ser técnico e que os senadores precisam ter a consciência de que pressionar convidados e convocados não ajuda no processo de investigação.
“Ali não vai ser um tribunal de julgamento. Não vamos pré-julgar ninguém. Vamos investigar. O relatório final, literalmente, tem que ser técnico. As perguntas têm que ser técnicas”, cobrou.
A previsão é de que os trabalhos se encerrem em 90 dias. No entanto, o presidente da CPI deixou claro que não há pressa para a conclusão, e afirmou que o Brasil precisa manter o foco no combate à pandemia enquanto o Senado trabalha nas apurações.
“Não é iniciando a CPI que vai estancar o vírus. Nós não temos como estancar, não há esse milagre. É logico: se ela demorar 90 dias e precisar ser prorrogada por mais 90, vai ser prorrogada. Agora, ao mesmo tempo em que a gente estiver fazendo investigação, temos que procurar soluções para os problemas que estamos tendo no Brasil hoje. E um deles é a questão da falta de vacina”, analisou.
Críticas a ministros
Ainda nesta quarta-feira, Omar Aziz ser contra a convocação do ministro da Economia, Paulo Guedes, para que ele seja interrogado pelos membros da comissão. De acordo com o senador, as falas do ministro mexem muito com o mercado e não é papel da CPI "colocar gasolina na fogueira".
No entanto, admite que, a depender do andamento dos trabalhos, a convocação pode ser feita. "Se alguém disse que o país não comprou vacina porque Guedes mandou, aí podemos ouví-lo", disse.
Aziz também fez críticas a Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. No domingo, Pazuello foi flagrado andando sem máscara em um shopping center de Manaus. Questionado a respeito, ironizou: “Onde compra isso?”.
Para o presidente da CPI, “isso foi um grande retrocesso”. “Quando um ministro ou ex-ministro da Saúde vai a um shopping sem máscara, o que ele passa para a população? ‘Se o ministro da Saúde está fazendo isso, por que eu não posso?’”, questionou.
Omar Aziz também explicou a escolha do senador Renan Calheiros (MDB-AL), para relatar os trabalhos. Segundo ele, Calheiros foi escolhido porque o ex-presidente "acabou sobrando" após o senador Eduardo Braga (MDB-AM) desistir de assumir o posto.
"O acordo era PSD na presidência e MDB na relatoria. Todos que me elegeram presidente da comissão sabiam que eu honraria minha palavra", disse Aziz – que, apesar disso, foi taxativo: "Renan não é maior que a CPI".