O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu desculpas nesta sexta-feira (25/10) às comunidades nativas americanas pelas atrocidades cometidas no âmbito de uma política escolar imposta em 1819 e que separou crianças indígenas dos seus pais e as obrigou a frequentar escolas que promoviam um processo de assimilação cultural.
Ao longo de 150 anos, pelo menos 18 mil crianças a partir dos 4 anos foram retiradas dos seus pais e enviadas para internatos para crianças nativas, onde eram despojadas de suas culturas, histórias e religiões e forçadas a se adaptarem à cultura dos colonizadores europeus, incluindo a conversão ao cristianismo.
Nesses locais, que funcionaram até 1969, as crianças internadas eram espancadas por falarem seus idiomas e sofriam abuso psicológico, físico e sexual. Ao menos 973 morreram, indicou um relatório do Departamento do Interior dos Estados Unidos.
"Um pecado na alma" do país
"O governo federal nunca se desculpou formalmente pelo que aconteceu, até hoje. Como presidente dos Estados Unidos, peço desculpas formalmente pelo que fizemos", declarou, numa visita à comunidade indígena do Rio Gila, nos arredores de Phoenix, no estado do Arizona.
O chefe de Estado disse que esse sistema, imposto pelo governo, foi marcado por "abusos e mortes de crianças nativas americanas" e é "um pecado na alma" do país.
"As crianças chegavam à escola e eram despidas. Os seus cabelos, que lhes diziam serem sagrados, eram cortados. Os seus nomes eram literalmente apagados e substituídos por um número ou por um nome em inglês", descreveu Biden.
O presidente americano lembrou ainda que houve crianças sujeitas a trabalhos forçados, que foram adotadas sem o consentimento dos pais biológicos e que outras foram "deixadas para morrer e enterradas em sepulturas não identificadas".
"É um dos capítulos mais horríveis da história dos EUA. A dor causada será sempre um sinal significativo de vergonha, uma mancha na história", ressalvou.
"Deveríamos nos envergonhar", disse o presidente a uma multidão de indígenas que incluía incluindo líderes tribais, sobreviventes e familiares. Ele reconheceu "não haver desculpas para um pedido de perdão demorar 50 anos".
"Apesar de tudo, ainda estamos aqui"
O presidente estava acompanhado pela secretária do Interior, Deb Haaland, a primeira nativa americana a ocupar o cargo de secretária. As autoridades federais "não conseguiram aniquilar nossos idiomas, nossas tradições, nossos modos de vida”, disse Haaland. Apesar de "tudo o que aconteceu, ainda estamos aqui”.
O governo Biden fez investimentos significativos nas comunidades indígenas americanas para expandir o autogoverno das aldeias e na designação de monumentos para proteger locais sagrados ancestrais.
O pedido de desculpas do estado americano se segue às declarações formais semelhantes do Canadá, onde milhares de crianças morreram em internatos semelhantes, e à medida em que mais e mais países reconhecem os abusos contra os povos indígenas em toda a América.
as (AFP, Efe, AP, Reuters)