Biden recebe Zelensky em meio à desconfiança dos republicanos

Líder ucraniano alerta congressistas que se Washington suspender envio de ajuda, Ucrânia perderá a guerra. Conservadores veem com ceticismo continuidade do apoio, enquanto Casa Branca anuncia nova remessa de armamentos.

Por Deutsche Welle

Biden recebe Zelensky em meio à desconfiança dos republicanos
Volodymyr Zelensky e Joe Biden na Casa Branca
REUTERS/Kevin Lamarque

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi recebido nesta quinta-feira (21) pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em Washington, onde também se reuniu com autoridades e lideranças políticas, no intuito de assegurar a continuidade do apoio americano a seu país na luta contra a guerra de agressão travada pela Rússia.

Antes do encontro com Biden, o líder ucraniano foi recepcionado no Congresso americano de maneira mais discreta do que na ocasião de sua visita anterior, em dezembro do ano passado, quando realizou um discurso histórico no Senado e foi ovacionado pelos parlamentares.

Dessa vez, ele foi alvo de questionamentos sobre a utilização dos recursos enviados pelos EUA à Ucrânia nos últimos 19 meses, desde o início da invasão russa ao país.

Democratas e republicanos, de modo geral, se pronunciam de maneira favorável à manutenção do apoio americano a Kiev.

Mas, alguns dos parlamentares da ala mais à direita do Partido Republicano passaram a defender o fim do envio de ajuda, após o Congresso já ter aprovado mais de 100 bilhões de dólares (R$ 493,6 bilhões) que foram destinados ao governo ucraniano, incluindo 43,9 bilhões em armamentos.

"Fim dos cheques em branco a Zelensky"

Os mais conservadores dizem que o dinheiro enviado à Ucrânia poderia ser investido na segurança das fronteiras americanas, e expressaram preocupação com o que consideram uma lentidão na contraofensiva de Kiev para recuperar território tomado pelos russos, além dos recentes escândalos de corrupção que abalaram a confiança no governo ucraniano.

Zelensky, porém, alertou os congressistas que a Ucrânia poderá ser derrotada na guerra se a ajuda financeira ao país for interrompida, e reforçou a necessidade de suas tropas obterem novos sistemas de mísseis e de defesa antiaérea.

As dúvidas dos republicanos foram incensadas por declarações do ex-presidente Donald Trump, que se opôs publicamente ao envio de novas remessas de dinheiro a Kiev. Trump, inclusive, já expressou em várias ocasiões sua admiração pelo presidente russo, Vladimir Putin.

Uma parcela dos congressistas republicanos aderiu ao discurso do ex-presidente. O senador Roger Marshal afirmou que o Congresso "não deve dar mais cheques em branco a Zelensky". Outros seis senadores divulgaram uma carta pedindo um "basta" ao envio de ajuda.

Entretanto, o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, que vem tentando manter seu partido unido em torno do apoio à Ucrânia, disse que a assistência americana "não é um ato de caridade. É um investimento em nossos próprios interesses".

Zelensky também foi recebido pelo secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, no Pentágono, onde depositou uma coroa de flores no memorial das vítimas do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001.

Biden assegura continuidade do apoio

Zelensky encontrou um clima mais favorável na Casa Branca, ao ser recebido com sua esposa, Olena Zelenska, pelo presidente americano e pela primeira-dama, Jill Biden. No encontro, o ucraniano recebeu garantias da continuidade da ajuda dos EUA à Ucrânia.

"O povo americano deseja que nós façamos tudo o que pudermos para assegurar que o mundo esteja com vocês", disse o presidente Biden a Zelensky. "Esse é nosso maior objetivo."

O americano enviou recentemente ao Congresso um pedido para a liberação de 24 bilhões de dólares (R$ 118,4 bilhões) para Kiev. "Nós apoiamos uma paz justa e duradoura, na qual deve haver respeito à soberania e integridade territorial da Ucrânia", afirmou.

"Apreciamos enormemente a assistência fornecida pelos Estados Unidos para combatermos o terror russo", disse Zelensky, ao lado de Biden no Salão Oval da Casa Branca, agradecendo também ao Congresso pelo "grande apoio" recebido.

O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse estar confiante de que haverá forte apoio à continuidade do financiamento ao governo ucraniano, apesar das divisões políticas em Washington.

Reforço da ajuda militar a Kiev

Sullivan, no entanto, frustrou os ucranianos ao afirmar que Biden rejeitou o envio de sistemas ATACMS de mísseis de longo alcance, capazes de atingir alvos em distâncias de até 300 quilômetros.

Por outro lado, o presidente americano disse ter aprovado um pacote de 325 milhões de dólares em ajuda militar, que inclui munições para os lançadores de foguetes Himars, além de sistemas de defesa antiaérea e antitanques.

Biden disse ainda que na próxima semana as tropas ucranianas receberão a primeira leva de tanques americanos M1 Abrams, cujo envio fora anunciado em janeiro.

Nesta semana, Zelensky pediu em discurso na Assembleia Geral da ONU que o mundo continue firme ao lado da Ucrânia contra o que chamou de "genocídio" russo. Ele se reuniu com vários líderes às margens do evento em Nova York, inclusive com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

rc (AP, AFP)

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