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Jungmann: "Bolsonaro prepara cenário de conflito para eleições de 2022"

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Brasília - O ministro da Defesa, Raul Jungmann, durante lançamento do Sistema Integrado de Monitoramento e Alerta Hidrometeorológico da Amazônia, o SIPAMhidro (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Brasília - O ministro da Defesa, Raul Jungmann, durante lançamento do Sistema Integrado de Monitoramento e Alerta Hidrometeorológico da Amazônia, o SIPAMhidro (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública Raul Jungmann disse nesta sexta-feira (20) à Rádio Bandeirantes que se preocupa com o "cenário de conflito" que o presidente Jair Bolsonaro prepara para as eleições de 2022. Ele ressaltou, no entanto, que as Forças Armadas não estão disponíveis para nenhuma "aventura autoritária" e cravou que "não vai ter golpe".

"O presidente está preparando um cenário de conflito para 2022. Por que está dizendo que a eleição vai ser fraudada, que, se não tiver voto impresso, não terá eleição, que precisa armar o povo? Há alguma ameaça externa? Não. Há alguma ameaça interna? Não. Para quê? Ao mesmo tempo, ele vem cortejando setores de polícia, caminhoneiros... Eu olho para isso e penso que pode não terminar bem", disse.

"Parece que o presidente diz que a única eleição que vale é a que o elege. Isso não é democracia. A democracia comporta risco. Implica em resultados que não são previsíveis. O antidemocrata autoritário diz: 'quero que o resultado seja esse, senão não vale'. Isso tudo me preocupa. Mas não vai ter golpe. As Forças Armadas no Brasil - e eu não falo por elas, mas as conheço - não estão disponíveis para nenhuma aventura autoritária", completou Jungmann.

Bolsonaro se prepara para encaminhar ao Senado ainda hoje um pedido de abertura de inquérito contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que, segundo ele, "extrapolam limites constitucionais".

"Estamos nos aproximando da marca trágica de 600 mil mortos pela covid-19. Quantas famílias estão chorando suas perdas? O presidente teve a chance que qualquer estadista teria aproveitado de reunir todo mundo e governar pela vida dos brasileiros. Governadores, prefeitos, mídias, instituições. Unir todos. Não. Ele resolve dividir."

"Os 'maus brasileiros' são os que querem máscara, vacina, distanciamento, reduzir contágio. É possível isso? De outro lado tem os 'bons brasileiros': os que negam a ciência e as evidências. Ele apela para radicalizar para manter do seu lado aqueles que o apoiam. Temos aí inflação, juros, desemprego, pandemia, mas ele radicaliza para manter sua base e se reeleger. Como se o Brasil não fosse infinitamente maior que uma eleição."

Jungmann cita "aliança satânica" no RJ

O ex-ministro voltou a criticar ainda a "aliança satânica" entre polícia, política e corrupção que existem no Rio de Janeiro ao comentar a recente prisão da cúpula da Secretaria de Administração Penitenciária do estado.

A Polícia Federal prendeu na última terça (17) Raphael Montenegro, secretário estadual de Administração Penitenciária (Seap), e dois subsecretários, Wellington Nunes da Silva, da gestão operacional, e Sandro Farias Gimenes, superintendente. Segundo as investigações, eles costumavam negociar acordos com chefes do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do estado.

"É muito triste ver que o Rio de Janeiro continua nas mãos das milícias. Hoje 60% do território do Rio está nas mãos delas. Quer dizer que um em cada três cariocas vive em estado de exceção. Um em cada três não tem direitos e garantias constitucionais. Quem manda é o crime organizado. Isso me levou a dizer que o Rio de Janeiro vive uma metástase, referência a uma doença terrível. Por quê? Se a milícia domina um território, ela domina o voto. Elege quem quer seu aliado. Esse representante vai para a Câmara, para a Assembleia, e de lá indica cargos que dão mais prestígio ao crime", explicou.

"Precisamos lembrar que a maioria dos policiais do Rio de Janeiro é composta por homens e mulheres de bem. Existem muitos políticos também que não têm nada a ver com isso. Mas essa aliança satânica entre polícia, politica, corrupção e milícia se dá no mais alto grau no Rio de Janeiro", concluiu.

As declarações de Jungmann sobre "metástase" e "aliança satânica" apareceram pela primeira vez em 2018, quando ainda era ministro, ao comentar a prisão do então governador Luiz Fernando Pezão.

"Nós estamos vivendo um momento sombrio. Eu gostaria de dizer outra coisa, mas ando muito frustrado. Estamos isolados internacionalmente como nunca estivemos. Não estamos avançando em problemas de educação, pobreza, saúde, desigualdade. Agora, o Brasil sempre se ergue e enfrenta seus problemas. Não somos uma nação fracassada que se perdeu. Nosso problema é que perdemos, sim, o passo, mas podemos recuperar (...). Temos vocação para ser grande. Precisamos passar por esse teste", concluiu o ex-ministro da Defesa.