As interdições em rodovias que ligam Curitiba a Santa Catarina e ao Litoral do Paraná, causadas por deslizamentos de terra, crateras e alagamentos, ocorridos na última semana, provocam prejuízo de em torno de R$ 60 milhões por dia ao setor de transporte, segundo a Fetranspar (Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná).
"Temos problemas para chegar ao Porto de Paranaguá e a Santa Catarina”, diz o presidente da entidade, Sérgio Malucelli.
Segundo ele, caminhões que seguiam carregados com destino ao porto paranaense chegaram a ficar totalmente parados durante dois dias na BR-277. E quando o tráfego foi parcialmente liberado, em meia pista, a velocidade, que normalmente é de 65 quilômetros por hora, teve que ser reduzida para cerca de 20 quilômetros por hora. “Além de a viagem demorar mais, isso provoca desgaste no caminhão”, observa.
O acesso a Santa Catarina ficou ainda mais complicado. Sem poder seguir pela BR-376, os caminhos alternativos sugeridos pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) aumentaram as viagens em torno de 18 horas, para o transporte de cargas.
“Essa situação eleva o custo com mais diárias que têm que ser pagas aos caminhoneiros, além de outras despesas como alimentação, por exemplo”, pontua.
A Fetranspar informa ainda que alguns caminhoneiros que transportavam produtos perecíveis perderam suas cargas.
Rota alternativa
Nesta segunda-feira (5), o tráfego na BR-280, rodovia que liga Corupá (SC) a São Bento do Sul (SC), no km 96, próximo à divisa com o Paraná, também está interditado, depois que uma cratera se abriu nesta segunda-feira (5) de madrugada, na região conhecida como Jacomini, no trecho a 21 quilômetros de São Bento.
A rodovia é uma das alternativas utilizadas por motoristas que desviam da interdição na BR-376, na Serra do Mar, principal ligação entre os Estados, onde um deslizamento impede o tráfego desde o dia 28 de novembro.
O caminho é conhecido com a Rota de Jaraguá do Sul, para quem circula entre o Paraná e Santa Catarina.
A PRF (Polícia Rodoviária Federal) informou que não há previsão de liberação da BR-280.
BR-376
A concessionária Arteris Litoral Sul, que administra o trecho da BR-376 onde ocorreu um deslizamento de terra que matou duas pessoas e soterrou seis caminhões e três carros, informou no domingo (4) que o km 668,7 seguirá interditado por pelo menos 48 horas.
Um novo boletim sobre as condições do local deve ser divulgado nesta terça-feira (6).
“Uma previsão mais concreta sobre a liberação da via dependerá da redução do volume de chuvas, da melhora do clima ao longo dos próximos dias e da secagem do solo. Essas condições são importantes para que a rodovia possa ser liberada com a máxima segurança para os usuários, o que é a prioridade da concessionária”, diz a concessionária em nota.
Neste domingo, as equipes da Arteris Litoral Sul seguiram trabalhando no local do incidente da segunda-feira (28).
“Houve um importante avanço nos trabalhos de recomposição do pavimento. Na pista norte (sentido Curitiba) foram refeitos 200 metros das faixas 2 e 3 e outros 130 metros na faixa 1. Também estão sendo realizadas atividades de execução de sarjeta de drenagem e limpeza da via na pista sul (sentido Florianópolis)”, diz.
Rotas alternativas
A concessionária Arteris Litoral Sul sugere dois principais desvios para quem precisa circular entre Florianópolis e Curitiba. Um deles passa por dentro da cidade de Guaratuba (PR), onde há uma balsa para travessia até Matinhos (PR), que dá acesso à BR-277, entre o Litoral do Paraná e Curitiba.
O advogado Filipe Smolka, que está em Guaratuba (PR), em rota alternativa de viagem entre Curitiba e Florianópolis, afirma que há duas grandes filas no trecho.
"A polícia está fazendo uma barreira na entrada de Guaratuba, para quem vem de Garuva, acho que para não ter muito congestionamento dentro da cidade, estão segurando a fila na entrada. Então, são duas filas: a do Ferry Boat, que é enorme, e a da polícia, que estão segurando na entrada da cidade", disse na manhã desta segunda-feira (5).
O advogado destaca que caminhões se acumulam na BR-101, na altura de Joiville (SC), sem ter alternativa de escape. “Tem fila de caminhões, na BR-101, na entrada para Jaraguá do Sul (SC), indo para Curitiba via São Bento (SC), antes da BR-376, sentido Paraná. Caminhões não podem usar rota alternativa por pista simples e desvios em estradas rurais. Por isso, estão acumulados na BR”, afirma.
Outro desvio recomendado pela concessionária Arteris Litoral Sul recomenda a passagem pelo Interior de Santa Catarina, pela BR-470 e BR-116.
Investigação
A Polícia Civil do Paraná abriu inquérito para investigar de quem é a culpa pela tragédia na BR-376, próximo à divisa com Santa Catarina. A Dedetran (Delegacia de Delitos de Trânsito) de Curitiba é a responsável pelo caso.
O desastre poderia ter sido maior. O transito estava parado na rodovia quando o deslizamento aconteceu. Quem lembra dos momentos de terror é um dos sobreviventes, o caminhoneiro José Altair Biscaia. Ele gravou um vídeo, logo após ser encoberto pela lama.
Emocionado ainda dentro do veículo, caminhoneiro descreve momento em que ficou preso. “Estou vivo, mas estou no meio da terra, no cantinho do que sobrou do caminhão”, diz o caminhoneiro.
No vídeo, o caminhoneiro relata estar ferido, com alguns machucados e dores. Ele foi resgatado ainda na noite de segunda-feira (28) e levado ao Hospital São José de Joinville (SC). José Altais recebeu alta na manhã do dia seguinte.
A Policia Civil vai investigar se a concessionária deveria ter interditado a pista por precaução, já que três horas antes da tragédia um primeiro deslizamento bloqueou a rodovia entre 15h30 e 18 horas.
O inquérito deve ser apresentado em 30 dias. O MPF (Ministério Público Federal) também instaurou procedimento para apurar o acidente.
Cinco dias depois do deslizamento, a rodovia, que é o principal acesso para o sul do país, segue bloqueada e sem previsão de liberação.
O trabalho de resgate foi encerrado. Seis caminhões e três carros foram removidos. Duas pessoas morreram e doze conseguiram se salvar.