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Bomba atômica, Labradoodle e Comic Sans: conheça inventores que se arrependeram

Da redação

Labradoodle é uma híbrido de duas raças e os animais costuma ter problemas físicos
Labradoodle é uma híbrido de duas raças e os animais costuma ter problemas físicos
Pixabay

Criar algo novo e revolucionário deveria ser motivo de orgulho. No entanto, mesmo que a nova criação tenha nascido de uma boa intenção, é difícil controlar o impacto que ela pode ter na sociedade após ser compartilhada com o mundo, o que pode levar a usos muito diferentes do imaginado pelo inventor.

Algumas criações tiveram, ou têm, efeitos devastadores, como a bomba atômica. Outras criaram um negócio lucrativo, mas com consequências bastante negativas, como a reprodução da raça híbrida Labradoodle ou a cápsula de café.

Mesmo que suas criações possam ter trazido fama e dinheiro, muitos inventores se arrependem de algumas de suas obras. Conheça alguns deles:

Robert Oppenheimer, com participação de Albert Einstein - bomba atômica

Oppenheimer é conhecido como o "pai da bomba". Einstein incentivou o governo americano a acelerar a busca por uma arma que pudesse frear os nazistas. Ambos se arrependeriam de seus papéis no desenvolvimento da bomba atômica, que tirou centenas de milhares de vidas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão.

Einstein acreditava que os nazistas estavam perto de criar sua própria bomba atômica quando escreveu ao presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, em 1939, pedindo para que ele investisse no projeto. O que foi feito, tendo o físico Oppenheimer como diretor do que ficou conhecido como Projeto Manhattan.

Mais tarde, durante entrevista para a revista Newsweek em 1947, Einstein disse: "Se soubesse que os alemães não teriam sucesso em desenvolver uma bomba atômica, eu não teria feito nada."

Já Oppenheimer teria se voltando ao hinduísmo após as explosões. Dizem que a frase que veio a sua mente após a primeira explosão foi um trecho do texto sagrado do Bhagavad-Gita: "Agora eu me tornei a morte, a destruidora de mundos".  

O físico passou o resto de sua vida defendendo o controle de armas para evitar a proliferação dos armamentos nucleares.

Arthur Galston - agente laranja

Quando o biólogo Arthur Galston criou o que seria o agente laranja, o seu objetivo era desenvolver uma substância que acelerasse o crescimento da soja. No entanto, ele advertiu, se usado em excesso, a planta poderia perder suas folhas.

Vendo uma vantagem estratégica, o governo americano usou o agente no Vietnã com o objetivo de destruir as plantações locais durante a guerra e ter uma visão mais clara das posições de seu inimigo. Mas as consequências desastrosas não ficaram restritas às plantas.

O agente laranja tinha um componente perigoso, chamado dioxina, que poderia causar câncer, má-formação fetal, infertilidade e atacar os sistemas nervoso e imunológico. O uso pelos EUA no Vietnã afetou milhões de pessoas, com centenas de milhares desenvolvendo problemas de saúde em consequência do uso militar.

"Eu pensava que seria possível evitar envolver-se nas consequências antissociais da ciência simplesmente não trabalhando em nenhum projeto que pudesse ter fins malignos ou destrutivos," disse Galston. "Aprendi que as coisas não são tão simples e que quase todas as descobertas científicas podem ser pervertidas ou deformadas devido às pressões sociais."

Mikhail Kalashnikov - fuzil AK-47

A ideia de Mikhail Kalashnikov ao criar o famoso AK-47 era ajudar a Rússia na luta contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial. A arma se tornou bastante popular por ser relativamente leve e durável.

O sucesso de sua criação atormentou Kalashnikov até o fim da vida. Seis meses antes de sua morte, ele escreveu uma carta ao líder da Igreja Ortodoxa russa para entender se, na visão religiosa, ele era o responsável pelas mortes causadas pelo uso do AK-47.

"O meu tormento espiritual é insuportável. Fico me perguntando: se o meu rifle matou pessoas, isso quer dizer que eu sou responsável pelas mortes dessas pessoas?", ele escreveu na carta.

Em entrevista para o Guardian, Kalashnikov chegou a dizer que preferia ter criado algo que ajudasse as pessoas, como um aparador de grama.

Alfred Nobel - dinamite

A dinamite foi criada após um acidente que matou o irmão de Alfred Nobel. A ideia era criar algo que tornaria mais seguro o manuseamento de uma carga explosiva. O invento de Nobel deu tão certo que logo foi adotado para diversos usos, geralmente com fins catastróficos.

No fim da vida, ele se sentia tão mal pelo que sua criação causou que decidiu deixar em seu testamento o pedido para que fosse criada uma fundação com o objetivo de celebrar os avanços da humanidade. Nascia assim, o Prêmio Nobel que conhecemos hoje.

Wally Conron - Labradoodle

Quando Wally Conron cruzou um Labrador e um poodle na década de 1980, a ideia era ajudar uma deficiente visual que precisava de um cão guia, mas cujo marido era alérgico a cachorros.

O que ele não esperava é que o sucesso da sua empreitada criasse um mercado em que várias raças são cruzadas sem a devida atenção à saúde dos animais.

“Muitas pessoas estão reproduzindo [novas raças] pelo dinheiro. Muitos destes cães têm problemas físicos," Conron disse para o site Psychology Today. "Eu abri a caixa de Pandora. Foi isso o que eu fiz," lamentou.

Bob e Kirkland Gable - Tornozeleira eletrônica  

Os irmãos Bob e Kirkland Gable criaram a tornozeleira eletrônica nos anos 1960 para que fosse possível registrar a presença de ex-presos em escolas e no trabalho para poder recompensá-los por bom comportamento.

Mais tarde, os irmãos ficaram desapontados com a forma como o item estava sendo usado, que parecia muito mais uma forma de controle e punição. "Isso não é legal, mas eu não controlo o universo. Eu tive que aceitar que algumas coisas fogem ao meu controle," disse Kirkland ao jornal britânico The Guardian em entrevista em 2010.

John Sylvan - Cápsula de café

"É como o cigarro, mas para o café. Um item de uso único para entregar uma substância viciante." Foi assim que John Sylvan certa vez definiu a cápsula de café que ele inventou.

O copinho usado por milhões de pessoas para fazer o equivalente a uma xícara de café virou um problema ambiental sério porque não era biodegradável ou fácil de reciclar. “Às vezes me sinto mal por ter criado isso," Sylvan admitiu mais tarde.

Hoje, já é possível encontrar cápsulas recicláveis, mas o tanto de lixo que as versões iniciais gerou criou grande frustração para o seu inventor.

Robert Propst - Cubículo de escritório

Atualmente, muitos escritórios preferem o conceito aberto, mas houve um tempo - muito antes da pandemia e do home office - em que os cubículos eram bastante comuns nas empresas.

Em 1968, Robert Propst desenvolveu a ideia do cubículo com o objetivo de dar um espaço para o empregado personalizar dentro do próprio trabalho, além de lhe dar privacidade. O que se viu foi empresas distorcendo essa ideia e criando espaços minúsculos para os seus funcionários.

"A 'cubiculização' das pessoas nas empresas modernas é uma insanidade monolítica," disse Prost em entrevista para o The New York Times em 1997. Ele morreu três anos depois.

Vincent Connare - Fonte Comic Sans

A fonte Comic Sans não costuma ser levada muito a sério. E nem deveria, de acordo com o seu criador, Vincent Connare.  

Connare se inspirou em letras usadas em histórias em quadrinhos para criar uma alternativa divertida ao Times New Roman para crianças e novos usuários de computador lá em 1994.

A fonte virou um sucesso, mas também ganhou muitos críticos e houve até campanha para bani-la. "Usar Comic Sans é como chegar num evento de gala usando uma fantasia de palhaço," disse Holly Combs, uma das fundadoras do movimento, ao jornal The Guardian.  

"Às vezes me pergunto se as pessoas acham que eu só fiz isso, porque esse assunto sempre volta," disse certa vez Connare, que também é responsável por outras fontes, como o Trebuchet. "Então, esse é o meu arrependimento, que as pessoas achem que isso é a única coisa que já criei."

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