A Justiça afastou cinco policiais penais acusados de favorecer a atuação da facção Povo de Israel dentro de presídios do Rio de Janeiro. Segundo as investigações, os agentes teriam recebido transações financeiras suspeitas.
A polícia apura também o possível vazamento de uma operação contra integrantes do grupo criminoso que foi realizada nesta terça-feira (22). O objetivo da ação foi cumprir 44 mandados de busca e apreensão em diferentes regiões, dentro e fora do estado fluminense, contra a organização que aplica o golpe do falso sequestro diretamente das cadeias.
Chefes do Povo de Israel que estão encarcerados e davam ordens aos faccionados foram alvos da ação. São eles:
- Marcelo Oliveira, o “Tomate”;
- Avelino Gonçalves, o “Alvinho”;
- Ricardo Martins, o “Da Lua”;
- e Jailson Barbosa, o “Nem”.
Como funciona o golpe
A prática do crime de falso sequestro era feita da seguinte forma: o primeiro grupo é formado pelos "empresários". Eles ficam com a responsabilidade de obter um aparelho celular para o segundo grupo, chamado de "ladrão". Os detentos desse núcleo realizam as chamadas telefônicas para vítimas indeterminadas, inclusive de outros estados. Em seguida, a simulação de sequestros de familiares e a prática de estelionato é feita.
As transações bancárias são realizadas para "laranjas", pessoas que se disponibilizavam para receber os valores. Entre janeiro de 2022 e maio de 2024, o grupo movimentou quase de R$ 70 milhões. Ao todo, foram 1.663 pessoas físicas e 201 pessoas jurídicas envolvidas. Entre elas, policiais penais, esposas e até mães de detentos.
Facção Povo de Israel
A Povo de Israel surgiu há 20 anos após dissidência de criminosos em uma rebelião. Apesar do nome, o grupo não tem qualquer relação com o Complexo de Israel, sob o comando de Álvaro Malaquias Santa Rosa, o “Peixão”.
A facção pode ter ultrapassado o poder do Comando Vermelho no Rio de Janeiro. Investigadores começaram a desconfiar do crescimento financeiro da organização criminosa a partir de 2022.
Documento obtido com exclusividade pelo jornalismo da Band mostra que as recentes apreensões demonstram que, além de extorsão, estelionato e lavagem de dinheiro, o grupo se dedicou a distribuir e vender drogas dentro do sistema prisional.
O vídeo de uma apreensão realizada em setembro do ano passado no presídio Nelson Hungria, dentro do complexo de Gericinó, mostra criminosos colocando 20 quilos de drogas entre cocaína e maconha, 71 celulares, 19 chips, 96 carregadores, 96 fones de ouvido e três balanças de precisão dentro de quentinhas. A carga era avaliada em R$ 1,5 milhão.
A base central da Povo de Israel fica no mesmo presídio de onde o chefe Avelino Gonçalves Lima, o “Alvim”, gerencia o sistema fixo de divisão de tarefas, captação de novos presos e visitantes, além de articular arrecadação e pagamentos de propinas a servidores públicos. Segundo a Polícia Civil, ele já teria apresentado supostos vínculos com o PCC.
As “13 aldeias”
O grupo atua em 13 unidades prisionais, chamadas por eles de “13 aldeias”, e conta hoje com cerca de 18 mil integrantes custodiados, o que representa 42% do sistema penitenciário.
Em uma visita realizada pelo Ministério Público no presídio penal Nelson Hungria, em março de 2024, foram observados banners com o símbolo da estrela de Davi, utilizado na bandeira do estado de Israel.
Um estatuto feito pelo grupo tem 19 mandamentos. Dentro dele, por exemplo, não é permitido utilizar a palavra "estuprador", apenas "amigo do artigo". Além disso, agressões não são permitidas e a organização criminosa não aceita "X9" (expressão popular para designar delatores).