O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta sexta-feira (1º) na abertura da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), em Dubai, nos Emirados Árabes, e afirmou que “o planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos”.
"O planeta já não espera para cobrar a próxima geração. O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos, de metas de redução de carbono negligenciadas, do auxílio financeiro aos países pobres que não chega, de discursos eloquentes e vazios”, disse Lula.
“Precisamos de atitudes e práticas concretas. Quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta?”, questiona o petista.
Lula argumentou que, em 2022, o mundo gastou mais de US$ 2 trilhões em armas. Para ele, o dinheiro poderia ser investido no combate à fome e no enfrentamento de mudanças climáticas.
“Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas? A conta da mudança climática não é a mesma para todos. E chegou primeiro para as populações mais pobres. O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial”, pontuou Lula.
O presidente destacou que o não cumprimento dos compromissos assumidos “corrói” a credibilidade do regime e, por conta disso, é preciso resgatar a crença no multilateralismo.
“É inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra. É lamentável que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) ou os Acordos de Paris (2015) não sejam implementados. Governantes não podem se eximir de suas responsabilidades. Nenhum país resolverá seus problemas sozinho. Estamos todos obrigados a atuar juntos além de nossas fronteiras”, contou.
Brasil
Durante o discurso na Cúpula do Clima da ONU, Lula afirmou que o Brasil está disposto a liderar pelo exemplo e lembrou que o país ajustou as metas climáticas, “que são mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos”. O líder brasileiro voltou a falar do compromisso em zerar o desmatamento na Amazônia até 2030.
“Formulamos um plano de transformação ecológica, para promover a industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia. O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis”, disse Lula. “É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis”, acrescentou.
Amazonas e sul do Brasil
O petista reforçou que 2023 é o ano mais quente dos últimos 125 mil anos e que a humanidade sofre com secas, enchentes e ondas de calor, que são cada vez mais extremas e frequentes.
“No norte do Brasil, a Amazônia amarga uma das mais trágicas secas de sua história. No sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito de destruição e morte. A ciência e a realidade nos mostram que desta vez a conta chegou antes”, destacou.
Desigualdade
“Trabalhadores do campo, que têm suas lavouras de subsistência devastadas pela seca, e já não podem alimentar suas famílias. Moradores das periferias das grandes cidades, que perdem o pouco que têm quando a enchente arrasta tudo: casas, móveis, animais de estimação e seus próprios filhos. A injustiça que penaliza as gerações mais jovens é apenas uma das faces das desigualdades que nos afligem”, acrescentou.
Lula afirmou que o mundo naturalizou disparidades de renda, gênero e raça. Segundo ele, não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades.
“Quem passa fome tem sua existência aprisionada na dor do presente. E torna-se incapaz de pensar no amanhã. Reduzir vulnerabilidades socioeconômicas significa construir resiliência frente a eventos extremos. Significa também ter condições de redirecionar esforços para a luta contra o aquecimento global”, reforçou.