Aos 56 anos, o chefão do PCC parece se preocupar com a aparência – mesmo atrás das grades. Ele e outros líderes da cúpula da facção eram atendidos pela chamada "Sintonia da Saúde" do Primeiro Comando da Capital, que garantia atendimento particular de médicos e dentistas dentro dos presídios de segurança máxima, para botox ou clareamento dentário, por exemplo.
“Eles utilizam de subterfúgios para poder obter algumas regalias e benefícios. O clareamento dentário não é algo que deva ser feito em uma unidade de segurança máxima como a penitenciária 2 de Presidente Venceslau”, disse o promotor Lincoln Gakiya.
“Tinha pedido até para o Marcola colocar botox”, completou, fazendo referência ao líder da facção, Marcos Willians Herbas Camacho.
Os pedidos eram feitos à Justiça pelos advogados da facção, da "Sintonia dos Gravatas", sob a justificativa de os detentos precisarem de atendimento não oferecido pelo sistema penal. E os médicos particulares recebiam altos valores, que vinham de laranjas.
Essa foi só uma das descobertas da operação "Scream Fake", ou "Grito Falso", da Polícia Civil e do Ministério Público. Doze pessoas foram presas.
A investigação descobriu que, além da "Sintonia dos Gravatas" e da"Sintonia da Saúde", o PCC passou também a operar a a "Sintonia das Reivindicações" – por meio de uma ONG que teria sido criada pela facção para denunciar maus tratos contra os detentos.
As denúncias de falsas torturas levaram o estado de São Paulo a responder a processos na Corte Interamericana de Direitos Humanos. A ONG também teria agido movimentando o judiciário brasileiro para atender os interesses do PCC.
Dois dirigentes da organização estão entre os presos na operação. “O judiciário entendeu que havia fundamento suficiente para comprovar que a ONG não estava exercendo o seu papel pelo qual foi criado, então já houve a determinação de suspensão das atividades dessa ONG, a Pacto Social Carcerário”, afirmou Gakiya.