Sem abrigos, moradores de rua dividem espaço com ratos nas noites frias de SP

Descaso e abandono: faltam abrigos para moradores de rua nas noites frias de SP

Da Redação

Durante quase vinte anos, Ronaldo viveu o pior que as ruas puderam oferecer. Se envolveu com as drogas e, por muito tempo, ficou sem um teto. Hoje, recuperado, comemora ter conseguido um emprego.

Ronaldo, agora, passa as noites em um abrigo para fugir do frio que mata. “Prefiro vir aqui no abrigo. Tomo meu quente, janto, tenho uma cama para descansar tranquilo”

Muitas pessoas que estão em situação de rua buscam os abrigos da Prefeitura de São Paulo. Mas, em muitos casos, não há vagas para todos, fazendo com que muitos voltem para as ruas, no frio.

“Na maioria das vezes, quando não tem vaga, o morador de rua fica esperando do lado de fora na chuva, com uma manta nas costas esperando o pessoal do 156 [o telefone da prefeitura de SP]. Quando eles chegam, fala para a pessoa que não tem mais vagas em lugar nenhum e o morador de rua sai mais molhado do que antes. ”, desabafa Manuel Silva, que vive nas ruas.

“É por isso que as pessoas estão ficando nas ruas, na Praça da Sé, e morrendo de frio”, diz ele. 

Em nota, a prefeitura disse que o plano de contingência para baixa temperatura abriu vagas em cinco centros esportivos. O município afirmou que já fez quase 800 mil acolhimentos nas ruas de São Paulo. 

Dividindo espaço com ratos

Nas calçadas, em barracas improvisadas, nos pontos de ônibus. Qualquer lugar se torna abrigo para quem não tem onde dormir. Na cidade que não dorme, o descanso é improvisado. No centro de São Paulo, todas as noites, se formam verdadeiros acampamentos de sobrevivência.

Situações degradantes acontecem a todo momento. Pessoas dividem espaço com ratos. Alguns deles até entram pelos cobertores de quem só tem isso para se proteger.

Segundo levantamento do Movimento Estadual dos Moradores em Situação De Rua, 12 pessoas morreram por causa do frio em São Paulo, desde o dia 21 de junho, nove somente esta semana. Em nota, a prefeitura alega que não é responsável por atestar as mortes citadas. disse também que quem determina isso é o estado.

Durante o período em que nossa reportagem esteve presente, não encontramos nenhum agente da prefeitura acolhendo os moradores de rua.

“Hoje, se eu não tivesse ajudado um menino, ele tinha morrido de frio. Tirei minhas cobertas para poder colocar nele. Eu tenho uma barraquinha aqui, mas lá é muito frio. Não tem colchão. A gente usa essas mantas para fazer colchão”, relatou uma das moradoras de rua ouvidas pela reportagem.