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Execução de líder do PCC pode ter sido por disputa de poder ou traição

O traficante "Cara Preta" e seu braço direto foram assassinados no fim de dezembro na zona leste de SP

Por Cesar Cavalcante

Investigação do Ministério Público apontava o poder do traficante Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como "Cara Preta”, importante líder ligado à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) assassinado em uma emboscada na zona leste de São Paulo com o comparsa “Sem Sangue” no último dia 26 de dezembro.

O criminoso, que voava “abaixo do radar” da polícia, já revelava seu poder no crime e demonstrava a dificuldade em localizá-lo. Em uma conversa telefônica que foi transcrita pelos investigadores, Gegê do Mangue – criminoso da alta cúpula da facção assassinado em 2018 - pede a um dos traficantes para arrumar 50 peças (cocaína) com “Coroa”, que seria Cara Preta.

A polícia caminha com duas hipóteses mais prováveis para o assassinato de Cara Preta: uma execução a mando do PCC, na sangrenta disputa de poder, e até mesmo uma traição - esta última estaria ligada a um desentendimento pessoal entre o traficante e o atirador que o assassinou. 

Os investigadores estão perto de identificá-lo e já estão munidos de algumas informações. O exímio atirador, que disparou mais de uma dezena de tiros enquanto dirigia, seria um funcionário de Cara Preta. Também é apurado se o executor agiu guiado por outro membro da facção. 

A investigação entende que os tiros foram feitos por um assassino profissional, que estava em um carro com placa falsa e não deixou rastros na cena do crime apesar de a ação ser sido captada por câmeras de segurança. A polícia já sabe que o traficante morto e seu braço direito viviam na região onde o crime foi cometido, no  bairro do Tatuapé. Mas eles foram seguidos por um espaço curto, ao menos dois quarteirões, por alguém que os conhecia ou que investigava a rotina dos alvos.

Vídeo: Atirador profissional pode ter matado líder do PCC em plena luz do dia

Para o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mario Sarrubbo, a morte de Anselmo é mais um capítulo da guerra provocada pela acomodação de poder.

“Nós entendemos que se trata, muito provavelmente, de acerto de contas entre possíveis lideranças a partir do momento que os colegas do Gaeco pediram a transferência das grandes lideranças para Brasília [presídio federal]”, analisou.

A execução dos criminosos é investigada pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e monitorada de perto pelo Ministério Público, que não descarta uma relação entre o episódio e a série de ataques que vem ocorrendo na Baixada Santista contra agentes de segurança do Centro de Detenção Provisória de São Vicente.

“As grandes lideranças, quando elas saem de cena, a parte mais abaixo tem uma natural disputa pelo poder, e isso vai se amontando ao longo dos anos", destacou Sarrubbo.

A cena do atentado contra os dois homens numa praça da zona leste de São Paulo deixa muito claro: o único objetivo do atirador era matar os ocupantes do carro ao lado. O crime foi registrado de vários ângulos. É possível ver a aproximação do carro das vítimas, e testemunhas chegaram a apontar que os tiros partiram de um Pálio –o motorista atira com a mão esquerda.

Outros envolvimentos de “Cara Preta”

Investigações sobre o roubo de 770 quilos de ouro no aeroporto de Guarulhos, em 2019, apontam que “Cara Preta” financiou aquela ação. Parte da quadrilha envolvida no roubo milionário foi presa, e alguns integrantes foram até condenados pelo roubo da carga, hoje avaliada em mais de R$ 250 milhões. 

Vídeo: Chefão do PCC executado teria financiado roubo de ouro em aeroporto

De acordo com o Ministério Público, o traficante morto era peça chave da logística do tráfico internacional de drogas e responsável pela rota da cocaína entra a Bolívia, o Brasil e a Europa a partir do Porto de Santos (SP). É o setor mais lucrativo dentro do crime organizado, que deu fortunas a nomes como Gegê do Mangue, André do Rap e Anderson Gordão.

Apesar da posição de destaque no crime organizado, “Cara Preta” foi preso poucas vezes, e sempre por crimes menores. Era considerado pela polícia um alvo difícil, por ser um criminoso discreto. 

No momento da execução, ele estava em um carro simples, como preferia, justamente pra não chamar a atenção. Mas o motorista do veículo levava nos bolsos e na jaquetas maços com grande quantidade de dinheiro.

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