Demora na identificação de corpos deixa famílias indignadas em Petrópolis

Sobreviventes misturam a dor da perda com a revolta na espera pela identificação das vítimas no soterramento

Da redação, com Brasil Urgente

Sobreviventes da tragédia que matou mais de 150 pessoas em Petrópolis lamentam a demora para a liberação dos corpos das vítimas. Na porta do IML (Instituto Médico Legal), o grito entalado sai da garganta: “Minha filha está ali dentro tem dois dias”, se desespera uma das mães, Thais, que também perdeu o marido soterrado.

Outras famílias misturam a dor da perda com a indignação. Enquanto não são identificados e liberados, os corpos aguardam em cinco caminhões frigorífico que estão no IML. Durante todo o dia, a lista de mortos identificados só aumenta. Há mais de 200 desaparecidos, e os trabalhos de buscas não têm data para acabar.

Jade Ferreira tenta enterrar o sobrinho Artur, de 7 anos, e a tia dele, Priscila --os corpos dos dois foram encontrados abraçados. “A informação que passaram para a gente é a de que o corpo dele vai ser liberado primeiro, que o dela vai demorar ainda mais. A gente entendeu que eles vão priorizar as crianças”, contou Ferreira.

“A avó, que sobreviveu à tragédia e está internada, provavelmente receberá alta e vai enterrar o neto em um dia, e a filha em outro”, lamentou. Artur e Priscila eram inseparáveis. “O mínimo era enterrar os dois juntos”, disse Ferreira.

"Sou um morto-vivo, praticamente"

Fábio estava com os três filhos no momento em que o deslizamento atingiu a casa em que viviam. “O barulho muito grande veio do alto, e o instinto de pai falou mais alto. Chamei pelos meus filhos, gritando. Tentei pegar os três, mas veio a enxurrada do quarto”, contou o pai das três crianças mortas. A mãe dele, de 83 anos, também não resistiu ao soterramento.

 “A minha vida era eles. Agora, a minha vida acabou. Sou um morto-vivo, praticamente”, disse Fabio. Até o momento, nenhum dos corpos foi reconhecido --ele e a mulher, Francisca, aguardam na porta do IML.

“Quando foi antes da meia-noite, eles acharam o meu filho, o Daniel de seis anos, lá na casa da vizinha. E também acharam o corpo de uma das meninas, lá embaixo também, em outra casa que não tem nada a ver. Falta o corpo de outra menina que não sei se foi achado”, desabafou Francisca.

Francisca só se salvou porque estava no trabalho durante o temporal e disse que, naquele dia, não fez como em outras vezes, quando ia para casa mesmo sob a chuva. Os últimos dias dela se resumem em ir ao IML tentar reconhecer os corpos dos filhos, assim como tantas outras pessoas que também perderam parentes.