Com o aumento do bullying no ambiente escolar, a saúde mental de crianças e adolescentes desperta a atenção e gera uma preocupação para os pais. Casos recentes como do adolescente de 13 anos que morreu após ser agredido por outros colegas e até jogado da escada em Santos e o adolescente de 14 anos que tirou a própria vida após sofrer bullying no Colégio Bandeirantes, em São Paulo, são apenas alguns dos muitos relatos que acabam com os jovens sendo vítimas.
A analista judiciária e doutora em psicologia infantil, Cátula Pelisoli falou sobre o assunto. Ela explica como o bullying afeta a saúde mental, além de prejudicar o desempenho nas aulas.
“As crianças podem se sentir ansiosas, com medo e podem começar a apresentar resistência em ir pra escolas, que passa a ser um ambiente desagradável, que traz uma sobrecarga emocional. Vai afetar a atenção das crianças e consequentemente a aprendizagem ao longo do tempo. Essa violência que eles sofrem tende a desencadear problemas depressivos, redução da autoestima e até gerar uma crença de que ele seja merecedor dessa violência”, explicou.
A Mestra em Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela UNIFESP, Renata Trefiglio Mendes, pontuou algumas ações que as instituições de ensino podem fazer para o enfrentamento, e como implementar políticas claras e rigorosas, com consequências específicas para os envolvidos.
Além disso, ela menciona a disponibilização do apoio psicológico e aconselhamento para vítimas e agressores, promover um ambiente inclusivo onde todos os alunos se sintam valorizados e seguros e incluir no currículo disciplinas que abordem habilidades socioemocionais.
Por fim, a especialista também aborda alguns programas que combatem e previnem esse tipo de violência nas escolas.
“KiVa, da Finlândia, envolve toda a comunidade escolar, focando na prevenção e intervenção do bullying. Ele utiliza jogos, atividades de grupo e monitoramento contínuo para identificar e lidar com casos. Outro programa é o Olweus, que consiste em treinamentos para professores, supervisão intensificada, e sessões regulares com estudantes para discutir essas questões e promover um ambiente de apoio”, finalizou.
Como os pais podem perceber e ajudar os filhos que estão sofrendo bullying?
Perguntada sobre como os pais podem perceber que os filhos estão sofrendo com o bullying e como podem agir, Cátula Pelisoli comentou que é importante reparar em mudanças drásticas de comportamento dentro de casa como: isolamento, mau desempenho escolar, depressão, ou até ficar mais violentos.
“É preciso ter uma prevenção do bullying nas escolas e uma intervenção imediata. Às vezes a escola ignora que aquele problema está acontecendo e minimiza. Não faz uma intervenção definitiva de interromper essa violência. Portanto, a escola tem que fazer prevenção e enfrentamento do bullying por que ele traz impacto consideráveis não só para infância, mas para a vida adulta também”, disse.
Como relatar para a escola que estou sofrendo bullying?
Além de sofrer com o bullying, a vítima em vários casos acaba tendo medo de contar para a instituição de ensino e até para os próprios pais. Para solucionar esse problema, Renata Trefiglio, que também é Diretora na Camino School do Whole Child Development (time que atua em parceria com a equipe pedagógica acompanhando os aspectos socioemocionais, comportamentais e de aprendizagem dos estudantes), pontua que é importante criar um ambiente seguro na escola.
“A escola deve promover a confiança entre alunos, professores e equipe. Quando os estudantes sabem que serão ouvidos e protegidos, ficam mais inclinados a relatar situações de bullying. Uma estratégia super importante é a escola oferecer formas anônimas de denúncia, como uma caixa de sugestões ou um canal digital. Esse anonimato e sigilo reduz o medo de retaliação e incentiva os estudantes a denunciarem”.
A especialista ainda afirma que com uma equipe bem treinada para identificar sinais de bullying e abordar as vítimas de forma cuidadosa, as chances de que os alunos se abram aumentam.
“Ao combinar essas estratégias, a escola ajuda a reduzir o medo da vítima e incentiva um ambiente onde o bullying pode ser relatado de forma segura e efetiva”, finaliza Renata.